A Cristandade, identificada pelos intelectuais modernos como obscurantista e portadora de trevas, foi a genitora do Sistema Universitário, dos Hospitais, do Método científico, do Direito Ocidental e de toda a ética e a moral próprias do mundo ocidental (que os mesmos "modernistas" chamam de obsoleta e castradora). Neste período, o conhecimento humano se elevava sobre as suas duas asas, sem dicotomais entre a razão e a fé.
O Papa João Paulo II, quando nos convida a voltar ao tomismo, convida-nos a sair do "giro embecilizante" de "rodopiar com uma asa só" antes de colidirmos com o chão, assumindo uma "Scientia Plena", aberta à possibilidade real de conhecer algo a respeito de alguma coisa, encarando a própria felicidade como a operatio perfecta mentis (operação perfeita do intelecto): Quanto mais nobre e digno é o objeto cognoscível e quanto mais ampla for a minha capacidade de "gozá-lo", maior será a minha felicidade. O intelectualismo brasileiro atual, porém, venera o niilismo e o desespero da vida sem sentido, mergulhando o Século XX e o nascente Século XXI no grande Mal do Século: A Depressão.
Pois bem, coloco diante de você a vida e a morte, a benção e a maldição e suplico: Escolhe a vida! Ou você continua dividindo a história e concebendo a ciência a la Augusto Comte ou você desperta para o método harmônico proposto por João Paulo II, encarnado na obra de São Tomas de Aquino.
Ofereço-lhes uma excelente síntese elaborada pelo Ir. Ricardo Pioner, L.C. sobre o assunto.
Suba na torre, Sentinela, e anuncie a chegada do Sol que pode cessar as trevas do obscurantismo contemporâneo, força motriz da depressão que caracteriza a nossa geração. A impossibilidade de conhecer ( posto que tudo é marginalizado para a individualidade e não existe nada de absoluto) jogou o homem na fossa da depressão, o contrário da felicitas de Tomas de Aquino. Anuncia, pois, Sentinela, a chegada do Sol!
O lugar
do ensino na divisão das ciências na síntese de Tomás de Aquino
Os pressupostos para o processo
de ensino, na síntese de Tomás de Aquino, mesmo discutindo e incorporando
algumas partes sobre a classificação das ciências da tradição filosófica, são
essencialmente aristotélicos. Vejamos, então, inicialmente, como Aristóteles
divide-as, para depois abordar a classificação efetuada por Tomás.
Assim, Aristóteles inicia o tratado da Metafísica com a seguinte
afirmação: “Todos os homens, por natureza, tendem ao saber” (A 1, 980 a, 21, p.
3.)[1].
A tendência natural do homem ao saber é a raiz da qual nasce e na qual se
fundamenta a filosofia aristotélica, particularmente, a metafísica.
É no livro E (V) da Met. que Aristóteles
classifica e distingue três formas de ciências: “Todo conhecimento racional é
ou prático, ou produtivo, ou teorético” (1, 1025 b, 25-26,
v. II, p. 271).
As ciências teoréticas buscam o saber pelo saber; as práticas, o saber em
função do agir; as produtivas, o saber em função do fazer. É nas ciências do
agir que se insere especificamente o processo de ensino no pensamento de Tomás
de Aquino, mas recebe da teologia revelada, da metafísica, da epistemologia e
da antropologia seus fundamentos.
Sendo
assim, na hierarquia das ciências aristotélicas, a metafísica encontra-se no
topo: “Enquanto as ciências teoréticas são preferíveis às outras ciências, esta
[a metafísica], por sua vez, é preferível às outras duas ciências teoréticas” (Met.
E (V) 1, 1026 a, 22-24, v. II, p. 273). É em função da metafísica que todas as
outras ciências adquirem o justo significado.
Ora, baseado nessa classificação aristotélica das
ciências, confrontando-as com a divisão estóica da filosofia em lógica, física
e ética, juntamente com as sete artes liberais, propedêuticas à filosofia, isto
é, o trivium (gramática, retórica e dialética) e o quadrivium (aritmética,
geometria, astronomia, música), é que Tomás de Aquino estabelece, à sua
maneira, uma divisão das ciências. Essa divisão é efetuada formalmente no
comentário Super Boetium de Trinitate, questões 5 e 6 que, em síntese e
em linhas gerais, apresenta-se da seguinte forma.
Assim, há uma distinção entre o intelecto teórico ou
especulativo e o intelecto operativo ou prático. Tal distinção tem como
fundamento as diferentes finalidades: o prático visa à operação e o teórico, à
verdade. E a relação pedagógica entre o professor e o aluno insere-se nestas
duas finalidades, conforme veremos.
E é de acordo com o critério de verdade, que as
ciências especulativas são distinguidas em dois grupos, de acordo com o objeto
de especulação. Dessa forma, de um lado, existe o conhecimento científico
teórico, dividido em duas partes: já que o intelecto é imaterial, seu objeto
também dever ser dessa natureza, resultando no conhecimento intelectual; por se
tratar de um conhecimento científico, o objeto deve ser necessário, ou seja,
sem movimento. E por outro, existe o conhecimento da ciência especulativa,
fundado no critério de afastamento da mutabilidade do mundo sensível (Sup.
Boet. Trin., q. 5, 1, p.
102).
Seguindo este último critério, Tomás estabelece a
distinção das ciências especuláveis dependentes da matéria e do movimento e
daquelas que não dependem disto no que se refere ao ser. As dependentes da
matéria são de duas classes, ou seja, as ciências que dependem da matéria
sensível para se constituírem e serem consideradas inteligíveis – como a física
ou a ciência natural, e daquelas que dependem do mundo sensível para se
concretizarem, mas não para serem inteligíveis – como a matemática. Já as
ciências que se ocupam com os objetos especuláveis que não dependem da matéria,
são também de duas classes: os objetos que nunca dependem da matéria, como
Deus, anjos, entes positivamente imateriais, e os objetos que às vezes dependem
e em outras não da matéria, como a substância, a qualidade, o ente, a potência,
o ato, o uno, o múltiplo etc, entes negativamente imateriais.
Portanto, a teologia, a metafísica ou a filosofia
primeira, investigam sobre estas duas classes de objetos. São três nomes
atribuídos a mesma ciência, mas a partir de perspectivas diferentes. Assim,
de todos estes trata a
teologia, isto é, a ciência divina, pois Deus é o principal do que nela é
conhecido. A qual, com outro nome, é chamada de metafísica, isto é, além da
física, porque ocorre a nós, que precisamos passar do sensível ao insensível,
que devemos aprendê-la depois da física; é chamada também de filosofia primeira
na medida em que todas as ciências, recebendo dela seus princípios, vêm depois
dela (Sup. Boet. Trin., q. 5, 1, p. 103).
Cabe ressaltar, que o critério utilizado por Tomás de
Aquino para “justificar a divisão das ciências ou as três partes da filosofia
especulativa [é o] próprio modo de ser das coisas” (NASCIMENTO, 1999, p. 17),
isto é, “as ciências especulativas se distinguem segundo a ordem de afastamento
da matéria e do movimento (Sup. Boet. Trin., q. 5, 1, p. 102).
Por isso, na classificação e hierarquia das ciências
na síntese tomista, a divina, isto é, a teologia ou a teologia cristã, a
semelhança da metafísica no pensamento de Aristóteles, é a ciência dos
princípios. É a primeira na ordem da intenção e a última na ordem da execução.
Todas as outras ciências subordinam-se a ela,
pois cabe-lhe provar os
princípios das outras ciências. É preciso, pois, que esta ciência venha antes
das outras [...]. Como observa Avicena no início da Metafísica, a ordem desta ciência é tal que deve ser estudada
após as ciências da natureza, em que são definidas numerosas noções que ela
utiliza, como geração, corrupção, movimento, etc [...]. E é assim que a ciência
da natureza contribui com qualquer coisa para a ciência do divino, embora esta
forneça os princípios daquela. Tal é a razão pela qual Boécio colocou em último
a ciência do divino, pois ela é última para nós (Sup. Boet. Trin., q. 5, 1, ad 9, p. 108).
Depreende-se disso, que os princípios da teologia,
também denominada de metafísica ou de filosofia primeira, como vimos, na
síntese de Tomás de Aquino, são aplicados na filosofia moral. Além disso, é a
filosofia moral que fornece os fundamentos para a pedagogia, como uma espécie
de instrumento para a concretização das potencialidades que o homem possui por
natureza, como a disposição para bem, para o social, para o conhecimento e à
aprendizagem.
[1] Nas próximas citações da Metafísica, estaremos nos
referindo a esta tradução com a abreviação Met.