Diante dos atuais eventos
envolvendo a CNBB, o Cardeal de São Paulo - Dom Odilo Scherer - e uma linha
tradicionalista que vem avançando em influência nestes últimos anos, acho que
este artigo vem em boa hora. Eu bem sei que minhas palavras não receberão boa
acolhida por parte de muita gente; contudo, acho que elas são dignas de serem
escritas.
A Colegialidade dos Bispos da
Igreja Católica no Brasil de fato não interfere, minimiza ou substitui a
autoridade que cada “epíscopo” tem sobre a sua Igreja Local, nós bem o sabemos.
Tão pouco o CELAM o faz. Mas nós bem sabemos, por outro lado, que a Unidade dos
seguidores de Cristo é mandato do Senhor: “Que todos sejam UM para que o Mundo
creia” (cf. Jo 17). As diversas conferências e suas regionais existem para coordenador
ações que promovem a unidade de toda a Igreja no Brasil, que sempre será
CATÓLICA, Universal, mas que se desenvolve num
determinado local. Embora saibamos que a CNBB não é um organismo de GOVERNO, mas de SERVIÇO, e que existe
para gerar comunhão entre as diversas igrejas locais que conformam a presença
da Santa Igreja no Brasil, nós sabemos que o SERVIÇO no Cristianismo é a única
forma legítima de exercer o sadio governo de cordeiros e de ovelhas, de modo que a importância da CNBB na Igreja fica ainda mais em evidência.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, portanto, existe para fomentar a comunhão entre os Bispos
e, no diálogo, aprofundar o afeto colegial garantindo maior unidade no processo
de evangelização, conforme os desafios do momento presente. Para esta
missão, ela cria assessorias, chama para junto de si peritos, e busca oferecer
este serviço a todos os Bispos no País.
Esta Conferência existe desde
1952 e sempre foi respeitada pelos
Sumos Pontífices, que a legitimaram como organismo de serviço e de comunhão.
Por favor, leve tudo isto em conta para continuar lendo a exposição que se seguirá!
A Teologia da Libertação
encontrou no Brasil um solo extremamente fértil para ser plantada e fecundada:
Um País pobre, imerso em corrupção, com um grande número de pessoas vivendo abaixo
da linha da pobreza. Sob a noção cultural de “caridade” que a Igreja Católica
plantou na civilização ocidental, muitos dos nossos líderes encontraram razão para engrossarem as fileiras da Teologia da Libertação, que buscava nas
Sagradas Escrituras a sua fundamentação. A hermenêutica limitada a apenas UM
dos vários métodos de interpretação – o histórico-crítico – inoculada pela
Filosofia de Karl Marx, foi esvaziando alguns termos bíblicos de seu
significado original e conferindo a eles um “novo significado” (algo muito
próprio dos pensadores marxistas da época, que resumiram a Filosofia à “Linguagem”).
Termos como “Reino”, “o próximo”, “o pobre” e assim por diante, ganharam novo
significado. O “reino” se tornou algo “imanentizado”, bem expresso numa
sociedade sem classes; “o próximo” e “o pobre” era o proletariado – a primeira
bandeira dos “marxistas” – e agora são as chamadas “minorias”. Enfim, é por aí...
A realidade de miséria do nosso
país e o mandato do Senhor, que disse aos seus discípulos “dai-lhes vós mesmos
de comer”, justifica – embora não legitime – que a Teologia da Libertação
tivesse tão grande número de adeptos no nosso episcopado. Negar isto não seria
honesto, eu repito.
E esta influência “libertadora” já
cessou? Ela já se arrefeceu muito, com o advento da nova geração de Bispos formados numa época na qual as Comunidades Eclesiais de Base já demonstravam
não ser “tudo aquilo que se pensava anteriormente”. Nossos Bispos hoje falam da
Paróquia enquanto “Comunidade de Comunidades”, respeitando os diversos carismas
que o Espírito Santo não cessa de suscitar na Igreja, bem como outras questões
sociais importantes. Mas é fato que o pensamento de Marx ainda é norteador na
América Latina e é fato, também, que isto segue interferindo na vida da
Igreja.
Agora, meus amigos e amigas, como
bons católicos que somos, nós precisamos revisitar tudo o que foi exposto aqui
até agora para seguir adiante:
·
A CNBB é uma instância de serviço e comunhão entre todos os Bispos da Igreja Católica no Brasil, uma instância respeitada e
reconhecida pelos Sumos Pontífices desde seu início.
·
A CNBB, como fruto do que aconteceu na História da Igreja no
Brasil, ainda é inegavelmente perpassada por membros (alguns Bispos, Assessores
e Peritos) que bebem da filosofia marxista, de modo que em alguns de seus
pareceres nós percebemos a influência do modo de pensar próprio da Teologia da
Libertação.
·
Embora a CNBB não interfira, substitua ou anule
a autoridade de cada Bispo em sua Igreja Local, o mandato da unidade faz com
que cada Bispo no Brasil sempre queira acatar as diretrizes que, da CNBB,
chegam (e não o fazem porque, se não acatarem, não estariam em unidade...
trata-se, mais bem, do desejo de cada bispo em salvaguardar esta colegialidade
dos Bispos do Brasil).
Como lidar com estes dados acima?
Com sabedoria!
Olavo de Carvalho (em O mínimo
que você precisa saber para não ser um idiota) fala sobre a dissonância
cognitiva – um instrumento de dominação de massas muito utilizado na cultura
que nos cerca. Segundo Olavo, a dissonância cognitiva consiste na apresentação
e defesa de princípios totalmente contraditórios entre si, deixando a massa em
estado de desorientação, aguardando uma voz de comando, seja qual for este
comando.
O cidadão
angustiado reage por uma espécie de colapso intelectual, tornando-se um boboca
servil que já não sabe orientar-se a si mesmo e implora por uma voz de comando.
O comando pode ser oco e sem sentido, como por exemplo change!, mas, quando
vem, soa sempre como um alívio (Armas da Liberdade, publicado no Diário do
Comércio em 17 de dezembro de 2009).
Na sequência, no artigo
intitulado A Demolição das Consciências, publicado em 21 de dezembro de 2009 no
Diário do Comércio, Olavo continua:
Quem tenha compreendido
bem meu artigo "Armas da Liberdade", deve ter percebido também a
conclusão implícita a que ele conduz incontornavelmente: boa parte do esforço
moralizante despendido pela "direita religiosa" para sanear uma
sociedade corrupta é inútil, já que termina sendo facilmente absorvida pela
máquina da "dissonância cognitiva" e usada como instrumento de
perdição geral.
Desde que o Padre Paulo Ricardo
apresentou a Olavo de Carvalho em suas aulas, eu comprei livros, li artigos e
acompanhei diversas exposições do professor disponíveis na internet. É
impossível não reconhecer nele a mais pura e legítima filosofia clássica.
Quanto a questão da “arrogância”, da “soberba”, da “petulância”, e dos
adjetivos “fascista” e coisas do gênero... Considero-os como argumentos ad hominem. Não há neles contraposição
de ideias... Apenas ofensas no campo subjetivo (que competem ao Professor
responder, e não a mim).
O primeiro grande ponto que me
fez ficar “com o pé atrás” em relação ao Olavo tem a ver com a questão do Liberalismo Econômico. Olavo expõe
claramente que a Doutrina Social da Igreja – neste quesito – deixou-se
influenciar pelo Comunismo. Contudo,
esta mesma Doutrina Social nunca foi corrigida pelos sucessores de Leão XIII.. Sob
o pontificado de São João Paulo II se elaborou o Compêndio da Doutrina Social da Igreja;
acredito que poucos entenderam de fato o comunismo
como Karol Wojtila. Eu acredito verdadeiramente que a Doutrina Social da
Igreja Católica não errou ao se opor à muitas práticas do capitalismo que
ferem a dignidade da pessoa humana e subvertem a hierarquia de valores que nós
deveríamos ter como seres humanos.
Então... Tenho minhas discordâncias, mas sigo sendo
leitor assíduo de Olavo de Carvalho. Examino tudo, retenho o que é bom. Não sou
“vaquinha de presépio” e não tenho a “Olavo de Carvalho” como sendo “o
verdadeiro magistério da Igreja”, como o fazem muitos de seus alunos e seguidores. O magistério da Igreja está com “Pedro”. Somente acho que os opositores sérios deveriam debater suas ideias ao invés de criticarem o autor de modo tão evasivo.
Eu acredito que Olavo de Carvalho
e muitos dos seus seguidores precisam reler aquilo que eles mesmos já escreveram sobre
"dissonância cognitiva”, posto que ELES MESMOS têm alimentado essa máquina
de confusão e de perdição geral. Diante de tantas vozes sendo “gritadas”, você
pode ter certeza, amigo e amiga, de que não é a voz da tradição – infelizmente –
a que será ouvida por último – como bem atesta o próprio Olavo nos dois artigos
citados acima.
Nesta questão específica da
Reforma Política, milhares de pessoas que poderiam ouvir uma opinião sensata e
fundamentada da parte do próprio Olavo e de pessoas com um pensamento “afim” ao
dele... Já não o farão, e tudo o que
eles disserem agora só alimentará mais a fornalha da dissonância cognitiva. Ao
denegrir a CNBB, bem como a pessoa do Cardeal Scherer, minimizaram a
possibilidade de que seu discurso viesse a influenciar de algum modo a vida da
Igreja.
Como, então, abordar temas
difíceis sem alimentar a dissonância cognitiva quando o assunto remete à Igreja
no Brasil?
Alguns princípios básicos:
·
Nós estamos, agora, diante da questão da Reforma
Política. Como um bom Católico deve se pronunciar, se deseja contrapor-se a
esta reforma? Ele deve agir assim: Toma-se em mãos o projeto, extraindo suas
ideias; em seguida, faz-se a exposição daquilo que está escrito e se “disseca”
a ideia (citando as fontes que originaram essa ideia, mostrando onde essa ideia
quer chegar, os pressupostos que ela abre, etc.). Por último, faz-se a contraposição desta ideia. Em resumo: Deve-se contrapor ideias e
não PESSOAS. Deve-se combater ideias, expondo-as e contrapondo-as.
·
Denegrir a imagem da CNBB ou a imagem do Cardeal
Dom Odilo Scherer não é a posição que um verdadeiro católico deve tomar. Eu não
preciso concordar com a CNBB em tudo! Eu não preciso me calar quanto a minha
discordância com a CNBB, se eu tiver alguma! Mas eu preciso SIM, como bom Católico, apresentar a
minha discordância com suavidade e respeito – e isto é bíblico (1 Pe 3, 15).
Portanto, eu posso fazer a exposição de uma ideia e fundamentá-la, mesmo que a
mesma não seja a opinião oficial da CNBB. Eu posso fazer isto sem sequer
mencionar a CNBB no meu discurso. Eu acredito que nem mesmo a CNBB deseja ser
uma “mordaça” do livre pensamento, e estes pronunciamentos da CNBB não possuem
um caráter “ex-cathedra” para que não possam ser contrariados de alguma forma;
mas eu não posso ferir a comunhão, denegrir um organismo legitimamente constituído
como gerador de unidade e comunhão entre os Bispos da minha Igreja no meu país.
·
Como não recordar ao grande São Pio de
Pieltrecina que, mesmo sendo prejudicado por alguns membros da hierarquia da Igreja,
não permitia aos seus amigos que a denegrissem? Eu repito: Com isto, não digo
que tenhamos que acatar tudo de modo passivo; apenas digo que até mesmo a nossa
discordância deve ser imbuída do devido respeito aos nossos Pastores.
O próprio Pe. Paulo Ricardo de
Azevedo Junior, que todos sabem ser aluno do Prof. Olavo de Carvalho, jamais
fez um único pronunciamento chamando a CNBB de herege, ou coisas deste gênero. Em uma série de
ocasiões, o Padre Paulo discordou da posição oficial, mas nunca “diminuiu” ou “minimizou”
a importância do organismo para a Igreja no Brasil, embora seus alunos /
seguidores SIM o façam, citando colocações do Padre – arrancadas de seu
contexto original – e fazendo-o parecer um ultra-tradicionalista (coisa que ele
não é).
Fica aqui a minha contribuição aos
meus amigos e amigas. Combatamos ideias ao invés de pessoas. Vamos edificar a
Igreja sob o princípio da Verdade na
Caridade, guardando a unidade do
Espírito pelo vínculo da Paz: Denegrir
a CNBB, “minar” a sua importância ou investir contra a pessoa do Cardeal Dom
Odilo Scherer é algo que fica fora de cogitação quando se vive estes
princípios!