terça-feira, 10 de dezembro de 2013

COMO IDENTIFICAR UM CARISMÁTICO "PENTECOSTAL"?




Desde que deixei a Congregação dos Legionários de Cristo, no ano de 2006, retornei as minhas origens: Os Grupos de Oração da Renovação Carismática Católica. Pouco tempo depois, o senhor me chamou para secretariar o presidente do Conselho Nacional da Renovação. Trabalhei com o Ministério Jovem da RCC por 4 anos e hoje me alegro por ser um bom servo do meu grupo de oração, na cidade Valinhos.

Desde o início, contudo, tive que lidar com um "rótulo" que me foi colocado por alguns "desinformados" dentro da Renovação Carismática Católica: O de ser "pentecostal demais" ou "meio protestante". E o que eu fiz para merecer este rótulo? Bem...Valeu-me este rótulo o fato de que eu defendia (e ainda defendo!) a legitimidade de que se ministre qualquer canção que tenha unção e que esteja em plena concordância com a sã doutrina, ainda que a mesma não seja composta por um autor católico. Também me valeu este título o fato de, durante um Congresso Estadual de Jovens, eu ter pedido aos presentes que se ajoelhassem, num momento de quebrantamento do coração, pedindo que todos clamassem o perdão pelos pecados cometidos no solo do Estado no qual nos encontrávamos (fizemos isto enquanto duas jovens sustentavam a bandeira do Estado). Este ato foi considerado "protestante", "pentecostal", porque, diziam, só se pode fazer esse tipo de oração diante do Santíssimo (até hoje aguardo embasamento doutrinário para esta afirmação). Como se não bastasse, o naquele então coordenador nacional do Ministério Jovem e Diretor do Escritório Nacional estava ajoelhado ao meu lado, conduzindo comigo aquele momento de oração. Enfim.

É evidente que estas coisas são autênticas baboseiras. Agora, pergunto o seguinte: Existem atitudes realmente identificáveis como "protestantes" e "pentecostais" em membros do meu amado Movimento Eclesial? Sim! Já digo de antemão que não é a postura e o posicionamento ensinado e repassado pelo Conselho Nacional - Instância de Escuta, Discernimento e Direcionamento da RCC enquanto Movimento - mas se trata de uma atitude facilmente identificável e presente em muitos membros da RCC. Provavelmente no seu Grupo de Oração tenha alguns.

Vamos definir algumas características básicas do protestantismo e, depois, mais especificamente, do protestantismo pentecostal, a fim de que nos seja possível diagnosticar as evidências no nosso meio.


Características básicas do Protestantismo:

1. Eu tenho acesso direto a Deus e, por causa disso, não preciso de nenhuma mediação por parte da Igreja.
2. O ser humano é essencialmente mal por causa do pecado original. Não há nada que venha do homem que possa ser bom. Por isso, quando alguém crê em Jesus recebe como que uma capa extrínseca a natureza do homem (a graça) que o cobre de seus pecados. Este é o princípio soteriológico protestante.
3. A verdade reside unicamente na Bíblia.

Características básicas do Protestantismo Pentecostal:

1. Somem-se todas as características acima mencionadas.
2. O único meio pelo qual Deus age na vida de alguém é pelas manifestações carismáticas. Não existem sacramentos. Se alguém não fala em línguas estranhas... Ainda não recebeu o Batismo com Espírito Santo.
3. Portanto, o Pentecostal não é um cristão como os demais (tradicionalistas), mas ele possui um poder especial, um revestimento de poder a mais que os demais.
4. Ênfase nos milagres e rejeição do sofrimento, uma vez que Cristo já sofreu e levou sobre si toda a dor; portanto, cabe ao cristão uma vida de vitória.

Agora vamos aos casos bem corriqueiros do nosso movimento:

Por qual razão nós vemos padres que se autodenominam carismáticos que não suportam celebrar a Santa Missa sem "acrescentar", desde o ato penitencial até o "deo gratias", toda sorte de "orações diversas"? Por que será que leigos não conseguem "gostar" de uma missa que não tenha toda sorte de orações "carismáticas"? No fundo, é reconhecível o espírito pentecostal protestante que confere insuficiência a qualquer culto cristão que não seja repleto de manifestações carismáticas. Para um Carismático Católico de fato, Missa é Missa e Grupo de Oração é Grupo de Oração. A missa é o Memorial da Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo que, dia após dia, ratifica e perpetua no meio de nós a graça da Nova e Eterna Aliança. Assim como, no Antigo Testamento, o povo devia ratificar a Aliança revivendo a páscoa como se dera nos tempos da libertação do Egito, assim também na Nova Aliança, mas de modo infinitamente superior, nós não somente imolamos o cordeiro, mas o comemos (em ratificação de nossa Aliança até que Ele venha). Nós comemos a sua carne e bebemos o sangue perpetuando a única e suficiente Páscoa de Nosso Salvador Jesus Cristo. Portanto, a Missa é o Ritual da Nova e Eterna Aliança e quem participa dela sem distinguir o corpo e sangue do Senhor... Come e bebe a sua própria condenação. É o oferecimento de Cristo ao Pai por nós... E nós só repetimos o que Ele fez, em Sua memória, "donec venias". Alguém acha que isto precisa de complemento? O mais perfeito ato de redenção precisa de alguma ajudinha?

Por que vocês acham que existe ainda muita gente avessa aos estudos e chegam a aconselhar a nossa juventude dizendo: "Tah estudando? Cuidado pra não perder a fé, hein?". Identifica-se, nessa postura, o fato de que não há nada de bom que possa vir do conhecimento científico, porque fora da fé (fideísmo, melhor dito) tudo é escuridão e trevas. Por que será que há muitos carismáticos avessos a Encontros de Formação e nem sequer se preparam com um bom estudo antes de pregar ou ministrar qualquer serviço na Igreja? "O Espírito Santo - dizem eles - vem sobre nós e faz toda a obra; eu não sou nada... É o Espírito quem vai falar". Reconhece-se aqui a atitude protestante que acredita numa ação extrínseca da graça, que vem, se apodera de nós e age. Trata-se de um revestimento, de uma cobertura...

Por que será que existem coordenadores e pregadores que multiplicam de par em par encontros e mais encontros de cura e libertação em detrimento da formação? Por que será que os grupos de oração não sabem mais louvar e orar no poder do Espírito se não for para pedir cura e libertação? Porque há uma influência protestante e pentecostal afirmando que nós não podemos mais sofrer. A ênfase no milagre é uma tentativa de encher os grupos e encontros, tal como acontecera na chamada segunda onda do Movimento Pentecostal.

Por que será que muitos carismáticos se acham melhores e mais santos que os demais membros da Igreja? Porque há um pensamento protestante que classifica um cristão que não ore em línguas como alguém que "ainda não recebeu toda a graça"; de fato a fé pentecostal afirma serem os carismas a única via da graça e Deus, prescindindo dos sacramentos. Por que será que a pregação de muitos não conduz ninguém à vida sacramental? Analise isto. Por que será que existem pessoas desequilibradas que se arvoram a profetizar e profetizar a cada momento de silêncio que a assembléia de oração faz? Na sua cabeça (de protestante!) quem possui carismas é alguém "revestido de um poder" que o torna diferenciado dos demais.

Por que será que muitos carismáticos não lêem o Catecismo, não buscam livros de formação e se limitam a ler a Bíblia? Influência do princípio protestante da Sola Scriptura!

Esta lista aqui poderia ser bem maior. Talvez você, amigo leitor, possa continuá-la com seus comentários.

Pregar com entusiasmo e paixão é ser protestante? Não! Usar os artifícios da oratória, elevando a voz em alguns momentos, é ser protestante? Não! Citar vários textos bíblicos de memória é ser protestante? Não! Ministrar canções que estejam em consonância com a sã doutrina pode, em alguma hipótese, ser uma atitude protestante? Não (e estou aberto para que alguém me prove o contrário)!

Estando na Diocese de Novo Hamburgo houve um momento no qual pessoas ligavam para comunidades e paróquias solicitando que não me convidassem mais para pregar porque eu era meio... "pentecostal" (rsrs). Pessoas que chegaram a dizer a padres conhecidos meus que se eles não proclamassem curas durante a missa... Suas paróquias iriam esvaziar... E o pentecostal sou eu? 






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