sábado, 21 de setembro de 2013

UM EXÉRCITO DE SENTINELAS OU DE IMBECIS?



Estou lendo "O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota", de Olavo de Carvalho. A cada página que avanço percebo quão idiotizante é a cultura que nos circunda. Arrependo-me das inúmeras imbecilidades que eu já disse, escrevi e defendi veementemente. Como posso querer "mudar o mundo" sem antes saber "o que é mundo", em primeiro lugar? 

 Quando li o artigo intitulado "imbecil juvenil" pensei, evidentemente, na imensa "massa juvenil" das nossas universidades e demais ambientes em geral; em seguida, voltei meu pensamento para os jovens da Igreja que, quando muito, conhecemos superficialmente alguns textos bíblicos, algo do catecismo e vivemos a nossa vida na Igreja como "vaquinhas de presépio", sem capacidade de "pensar", apenas "reproduzindo" opiniões ditadas ao "microfone". Por último (porque normalmente somos assim... dirigimos a exortação sempre para "terceiros" ao invés de apropriar-se dela em primeiro lugar), olhei para mim mesmo e vi muita, mas muita idiotice.

Ser geração João Paulo II, sentinelas da manhã supõe um pouco mais que usar uma camiseta, pular sinalizando com a mão e gritando "Sua sentinela! Sua sentinela!" (embora tudo isso seja ótimo, maravilhoso e muito bem-vindo!). São João Paulo II sonhava uma juventude capaz de desconstruir o pensamento da cultura atual gerando uma nova cultura, uma nova civilização. Contudo, isto pressupõe a capacidade de identificar as mais diversas ideologias, suas origens, causas e consequências na sociedade, a fim de desmascarar a falácia dos reducionismos propostos por  estes pseudo-cientistas, sem medo de declarar que Jesus Cristo é a salvação de todo o homem e do homem todo. Infelizmente, acontece bem ao contrário: Os jovens cristãos passam pelas universidades sul-americanas e se tornam autênticos imbecis. Chamam de "ética" a total separação entre "a fé e a razão" que essas universidades dogmaticamente pregam! A fé não pode entrar no consultório médico, na consulta do psicólogo, nas orientações do pedagogo, etc; não pode "visitar" as ciências humanas, muito menos as exatas. 

Esses pseudo-católicos, no auge de sua imbecilidade, vomitam "intelectualidade" em seus discursos sobre ética profissional. "Deus nos livre" de falar em "verdade absoluta" ou citar Tomas de Aquino, Boaventura e Agostinho no nosso ambiente acadêmico... Gente que, antes da faculdade, era fervorosa, com coração missionário, que sonhava com missão e que, em poucos anos, tornou-se "equilibrado", "centrado". Acham que são "santos de calças jeans", que vivem a "integralidade"... No fundo, apenas entraram na idiotização do marxismo cultural que reina na elite acadêmica da América Latina.

Em verdade, um jovem CATÓLICO universitário que se preze deveria conhecer pelo menos algo de São Tomás de Aquino e sua Summa Theologiae.  Para sermos sentinela da manhã é preciso deixemos de ser imbecis!



IMBECIL JUVENIL



 Já acreditei em muitas mentiras, mas há uma à qual sempre fui imune: aquela que celebra a juventude como uma época de rebeldia, de independência, de amor à liberdade. Não dei crédito a essa patacoada nem mesmo quando, jovem eu próprio, ela me lisonjeava. Bem ao contrário, desde cedo me impressionaram muito fundo, na conduta de meus companheiros de geração, o espírito de rebanho, o temor do isolamento, a subserviência à voz corrente, a ânsia de sentir-se iguais e aceitos pela maioria cínica e autoritária, a disposição de tudo ceder, de tudo prostituir em troca de uma vaguinha de neófito no grupo dos sujeitos bacanas.


        O jovem, é verdade, rebela-se muitas vezes contra pais e professores, mas é porque sabe que no fundo estão do seu lado e jamais revidarão suas agressões com força total. A luta contra os pais é um teatrinho, um jogo de cartas marcadas no qual um dos contendores luta para vencer e o outro para ajudá-lo a vencer.

        Muito diferente é a situação do jovem ante os da sua geração, que não têm para com ele as complacências do paternalismo. Longe de protegê-lo, essa massa barulhenta e cínica recebe o novato com desprezo e hostilidade que lhe mostram, desde logo, a necessidade de obedecer para não sucumbir. É dos companheiros de geração que ele obtém a primeira experiência de um confronto com o poder, sem a mediação daquela diferença de idade que dá direito a descontos e atenuações. É o reino dos mais fortes, dos mais descarados, que se afirma com toda a sua crueza sobre a fragilidade do recém-chegado, impondo-lhe provações e exigências antes de aceitá-lo como membro da horda. A quantos ritos, a quantos protocolos, a quantas humilhações não se submete o postulante, para escapar à perspectiva aterrorizante da rejeição, do isolamento. Para não ser devolvido, impotente e humilhado, aos braços da mãe, ele tem de ser aprovado num exame que lhe exige menos coragem do que flexibilidade, capacidade de amoldar-se aos caprichos da maioria - a supressão, em suma, da personalidade.
        É verdade que ele se submete a isso com prazer, com ânsia de apaixonado que tudo fará em troca de um sorriso condescendente. A massa de companheiros de geração representa, afinal, o mundo, o mundo grande no qual o adolescente, emergindo do pequeno mundo doméstico, pede ingresso. E o ingresso custa caro. O candidato deve, desde logo, aprender todo um vocabulário de palavras, de gestos, de olhares, todo um código de senhas e símbolos: a mínima falha expõe ao ridículo, e a regra do jogo é em geral implícita, devendo ser adivinhada antes de conhecida, macaqueada antes de adivinhada. O modo de aprendizado é sempre a imitação - literal, servil e sem questionamentos. O ingresso no mundo juvenil dispara a toda velocidade o motor de todos os desvarios humanos: o desejo mimético de que fala René Girard, onde o objeto não atrai por suas qualidades intrínsecas, mas por ser simultaneamente desejado por um outro, que Girard denomina o mediador.
      Não é de espantar que o rito de ingresso no grupo, custando tão alto investimento psicológico, termine por levar o jovem à completa exasperação impedindo-o, simultaneamente, de despejar seu ressentimento de volta sobre o grupo mesmo, objeto de amor que se sonega e por isto tem o dom de transfigurar cada impulso de rancor em novo investimento amoroso. Para onde, então, se voltará o rancor, senão para a direção menos perigosa? A família surge como o bode expiatório providencial de todos os fracassos do jovem no seu rito de passagem. Se ele não logra ser aceito no grupo, a última coisa que lhe há de ocorrer será atribuir a culpa de sua situação à fatuidade e ao cinismo dos que orejeitam. Numa cruel inversão, a culpa de suas humilhações não será atribuída àqueles que se recusam a aceitá-lo como homem, mas àqueles que o aceitam como criança. A família, que tudo lhe deu, pagará pelas maldades da horda que tudo lhe exige.
        Eis a que se resume a famosa rebeldia do adolescente: amor ao mais forte que o despreza, desprezo pelo mais fraco que o ama.
        Todas as mutações se dão na penumbra, na zona indistinta entre o ser e o não-ser: o jovem, em trânsito entre o que já não é e o que não é ainda, é, por fatalidade, inconsciente de si, de sua situação, das autorias e das culpas de quanto se passa dentro e em torno dele. Seus julgamentos são quase sempre a inversão completa da realidade. Eis o motivo pelo qual a juventude, desde que a covardia dos adultos lhe deu autoridade para mandar e desmandar, esteve sempre na vanguarda de todos os erros e perversidade do século: nazismo, fascismo, comunismo, seitas pseudo-religiosas, consumo de drogas. São sempre os jovens que estão um passo à frente na direção do pior.
        Um mundo que confia seu futuro ao discernimento dos jovens é um mundo velho e cansado, que já não tem futuro algum.

3 comentários:

  1. Parabéns, Fernando! Fico muito feliz de saber que jovens sentinelas de verdade tem se levantado na busca pela verdade! Temos que sair do relativismo! Sem duvida muito jovens depois que leram as suas palavras passaram a ter uma visão diferente. E vamos divulgar o livro do saudoso Olavo de Carvalho, precisamos de jovens menos idiotas!

    ResponderExcluir
  2. Diferente do que muitos pensam a meu respeito, não me acho “o dono da verdade” e sei retroceder quando “exagero um pouco” (você mesma é testemunha disso).

    Quando eu estive em Cuiabá/MT em 2008 o Padre Paulo Ricardo me apresentou o Seminário de Filosofia do Olavo de Carvalho. Desde então tomei conhecimento da obra do Olavo (mas li muito pouco). Levado pelo “burburim” a respeito do livro “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”, comprei e literalmente devorei a obra. Posso dizer mudei depois dessa leitura. Era como se eu tivesse despertado de um longo período de hibernação, e não porque eu concorde ou deixe de concordar com tudo, mas pelo simples fato de fomentar o exercício do pensar.

    Mas, então:

    É verdade que, com o passar dos anos, agregamos conhecimento. É natural que algumas coisas que tínhamos por certo seja suplantado por um novo conhecimento, mais amplo, mais atualizado. Aliás, este é o princípio da verdadeira ciência. Morro de rir quando vejo gente argumentando que certa afirmação é “científica” e, por conseguinte, não pode ser contestada; ora, se é científica, ela deve constantemente estar aberta a contestações. É o princípio da ciência. Contudo, existem certas realidades que são, simplesmente, incontestáveis e imutáveis, e é sobre isto se constitui a Filosofia Perenis (e não estou falando de aceitação fideísta). Veneno fez mal para a saúde ontem, faz hoje e fará amanhã. Dois mais dois são quatro ontem, hoje e amanhã. Assassinato é mal ontem, é hoje e será amanhã. Portanto, nem tudo o que, um dia, soubemos será suplantado, pois existe um bom conjunto de verdades que são sim incontestáveis. Aliás, esta foi a grande imbecilidade introduzida no pensamento ocidental por Descartes (o de que tudo deve ser contestado). Contudo, está na moda “preferir ser esta metamorfose ambulante a ter aquela velha opinião, formada, sobre tudo”.

    Que há jovens que conseguem aliar fé e razão e se tornam bons cidadãos, autênticos cristãos, graças sejam dadas a Deus por isto! Sem isto, aliás, seria melhor “pedir as contas e ir embora”. Faz-se necessário, contudo, “despertar”os demais que, infelizmente, não são a minoria.Eu dividiria este grupo em dois:

    1) Os de “espiritualidade desencarnada”, que condenam o mundo todo e “comem na mão” de seus líderes espirituais, sem nada questionar. Desconhecedores do pensamento da Igreja (caso contrário, não seriam “desencarnados”), não leem mais que alguns textos da Bíblia, passam o dia ouvindo “música cristã” e, no fim, culpam a Deus porque, muitas vezes, não se realizam na vida afetiva, profissional, financeira, acadêmica, etc.

    2) Os “pseudo-equilibrados”, que andam como o “mundo”, cheiram como o mundo, se comportam como o mundo, assistem o que o mundo assiste, ouvem o que o mundo ouve, dançam como o mundo dança, gostam de tudo o que o mundo gosta, mas, thank God, são cristãos, “santos no meio do mundo”, “santos de calça jeans” (uma das frases mais distorcidas de João Paulo II). Aprenderam no berço do intelectualismo latino americano – as Universidades – que, por ética, não podemos apresentar as verdades cristãs no ambiente acadêmico e profissional, e isto é dogma. Fico feliz porque Martin Luther King e outros não pensaram assim.

    ResponderExcluir
  3. Os jovens cristãos precisam de uma grande sacudida. As vezes a retórica do palavrão é eficaz para chamar a atenção. O mundo é hostil para todos, mas somos nós, e não o meio, os responsáveis por nossas escolhas. Rousseau estava profundamente enganado quando afirmou que “o homem, em si, é bom e é a sociedade que o corrompe”, isentando o ser humano de assumir a culpa. A universidade possui seus desafios, o mundo possui seus desafios! Ou nós assumimos a nossa culpa ou declinamos tudo na sociedade corruptora. E é por isto que devemos dizer a verdade (não simplesmente deixar que cada um encontre “sua verdade”, a seu tempo, a seu ritmo). Se tivermos que calar a verdade para respeitar “o tempo” e “a verdade de cada um... estamos fritos.

    Tive a oportunidade de acompanhar a gênese desta moção profética dada pelo senhor ao Núcleo Nacional do Ministério Jovem da RCC porque era coordenador nacional, nesta época, meu irmão, Ricardo Nascimento. “Sentinelas da Manhã”, falou-lhes o Senhor. Na busca de aprofundamento, encontraram o livro Sentinelle del Mattino: Esercizi Spirituali per i Giovani con Giovani Paolo II, escrito pelo Padre Antonio Izquierdo, L.C. (meu professor de Filosofia da Ciência em Roma), que recolhia pronunciamentos do Papa em forma de Exercícios Espirituais. O Beato João Paulo II sonhava uma juventude capaz se inserir em todos os ambientes (sociais, políticos, econômicos) para muda-los desde dentro. Para tal, afirmava o Papa, era necessária a capacidade de desconstruir as diversas ideologias que compõem a cultura da morte (o que supõe conhecimento, evidentemente) para lançar as bases de uma Nova Civilização. Neste sentido, uma intensa vida profissional, política, econômica e social, permeada pelo Evangelho, é conditio sine qua non para ser as Sentinelas da Manhã que sonhara o Papa.

    Infelizmente, os dois blocos de jovens que mencionei acima são alienados! Uns, vivem na imbecilidade de “brincar de anjo”. Outros, na imbecilidade de se acharem profundamente intelectuais quando, na verdade, apenas reproduzem o pensamento marxista dos intelectuais brasileiros e fazem da fé algo totalmente desprezível!

    Eu me recordo de haver tido uma discussão feia com um jovem super fervoroso que estava dando início à faculdade de Psicologia. Eu queria mostrar-lhe, mas não tinha boa desenvoltura nas argumentações, naquele então, que, como bem diz São Tomas de Aquino, na divisão que o mesmo apresenta das diversas ciências, a Metafísica é a base das ciências e que Deus pode, muito bem (deve, na verdade), fazer parte, ser o fundamento de todo conhecimento. O neófito aluno de psicologia argumentava que não, em seus aprofundados 1 ano de psicologia, e que era uma questão de “ética”. O conceito de ciência ficou tão reduzido, da filosofia moderna em diante, que parece um absurdo afirmar que a Metafísica seja a base (e a Metafísica como fora concebida por Aristóteles, não a kantiana).

    É neste sentido que se faz necessário que a Juventude deixe de ser imbecil, em primeiro lugar, para se tornar Sentinela da Manhã.

    ResponderExcluir