Como sair do estado de letargia no qual o sistema idiotizante do intelectualismo brasileiro nos deixou para sermos, de fato, as Sentinelas da Manhã sonhadas por João Paulo II?
Olavo
de Carvalho, em seu artigo Geração
Perdida, fez-me, mais uma vez, refletir sobre como a juventude está sempre “de
prontidão” para mudar o mundo sem realmente saber o que é o mundo (e temos, aos
montes, esses tipos no Brasil).
Quando
percebo que Cazuza e Renato Russo são recordados como verdadeiros ícones da
juventude brasileira, tidos como intelectuais
e apresentados como modelo daquilo
que deve ser um jovem que deseja mudar o mundo, percebo quão imbecis nós somos.
Não quero demonizá-los, mas basta tomar conhecimento da biografia desses homens
para ver o desequilíbrio total que lhes caracterizou no relacionamento
familiar, na vida afetiva e sexual, e o modo como, tristemente, acabaram
perdendo suas vidas. Levantaram a bandeira do “jovem verdadeiramente livre e
politizado”, símbolos do inconformismo que deve caracterizar a juventude.
Encarnaram o ideal da “Revolução”, da “mudança do Brasil”, quando, em
realidade, foram instrumentos da total idiotização da juventude brasileira, “fantoches”
da revolução cultural sonhada por homens como Antonio Gramsci e os teóricos da Escola de Frankfurt.
Fico
feliz quando vejo uma Rachel Sheherazade e um Paulo Eduardo Martins ocupando
lugares de destaque na Mídia e falando abertamente em defesa dos mais altos
ideais. Pessoas capacitadas em suas áreas de atuação, são autênticas sentinelas da manhã, reluzindo no meio
de uma geração corrupta e perversa. Não preciso ser âncora do jornal das oito
para, só então, ser sentinela; mas preciso de capacitação, de conhecimento,
independente do ambiente em que me encontro se, de fato, quero ser geração JP II, Sentinela da Manhã.
Jovens
católicos “comendo na mão” de Sartre, Michel Foucault e Heribert Marcuse, admirando
Agenor Brighenti e Antônio Carlos Wolkmer, marchando em direção exatamente
oposto à fé que professam... Isto é o que fatalmente nós vemos. Que Hyppolite Taine, citado por Olavo no texto
abaixo, sirva-nos de inspiração.
Geração
Perdida
Hyppolite
Taine conta que, aos 21 anos, vendo-se eleitor, percebeu que nada sabia do que
era bom ou mau para a França nem das ideologias em disputa na eleição.
Absteve-se de votar e começou a estudar o país. Décadas depois, vieram à luz os
cinco volumes das Origines de la France Contemporaine (1875), um monumento da
ciência histórica e um dos livros mais esclarecedores de todos os tempos. O
jovem Taine não votou, mas o Taine maduro ajudou muitas gerações, na França e
fora dela, a votar com mais seriedade e conhecimento de causa, sem deixar-se
iludir pelas falsas alternativas da propaganda imediata. Saber primeiro para
julgar depois é o dever número um do homem responsável - dever que o voto
obrigatório, sob a escusa de ensinar, força a desaprender.
Taine foi
muito lido no Brasil, e seu exemplo deu alguns frutos. Entre os que tiveram seu
caminho de vida decidido pela influência dele contou-se o jovem Affonso
Henriques de Lima Barreto. Ele aprendeu com Taine que as coisas podem não ser o
que parecem. Como romancista, ele fixou a imagem da ambigüidade constitutiva
das atitudes humanas no duelo de personalidades do major Quaresma com Floriano
Peixoto, onde o passadista se revela um profeta e o progressista um ditador
tacanho e cego. Mas a mensagem dessa história, ainda que consagrada pelo
cinema, não se impregnou na mente das novas gerações. Talvez não venha a
fazê-lo nunca, precisamente porque, amputada da ética taineana da prioridade do
saber, que lhe serve de moldura, ela se reduz a uma observação casual que pode
ser dissolvida numa enxurrada de lugares-comuns. Hoje, de fato, raramente se
encontra um jovem que não queira, antes de tudo, "transformar o
mundo", e que, em função desse "parti pris", não adie para as
calendas gregas o dever de perguntar o que é o mundo.
Sim, no
Brasil cultura e inteligência são coisas para depois da aposentadoria. Quando
todas as decisões estiverem tomadas, quando a massa de seus efeitos tiver se
adensado numa torrente irreversível e a existência entrar decisivamente na sua
etapa final de declínio, aí o cidadão pensará em adquirir conhecimento - um
conhecimento que, a essa altura, só poderá servir para lhe informar o que ele
deveria ter feito e não fez. Antevendo as dores inúteis do arrependimento
tardio, ele então fugirá instintivamente do confronto, abstendo-se de julgar
sua vida à luz do que agora sabe.
Embalsamado
num nicho de diletantismo estético, o conhecimento perderá toda a sua força
iluminante e transfiguradora, reduzindo-se a um penduricalho inócuo, adorno
inofensivo de uma velhice calhorda. Eis onde termina a vida daquele que, na
juventude, em vez de esperar até compreender, cedeu à tentação lisonjeira do
primeiro convite e se tornou um "participante", um
"transformador do mundo".
Eu também
caí nessa, mas tive a sorte de minha carreira de transformador do mundo ser
detida, logo no início, por uma chuva de perplexidades paralisantes que me
forçaram a largar tudo e a ir para casa pensar. Acossado de perguntas que
ultrapassavam minha capacidade de resposta, fui privado, pelo bom Deus, da
oportunidade de tentar moldar o mundo à imagem da minha própria idiotice.
Mas essa
sorte é rara. O Brasil é o país do gênio prematuro, degradado em bobalhão senil
logo na primeira curva da maturidade. Quando contemplo esse circo decrépito da
revista Bundas, onde cômicos enferrujados se esforçam para repetir as
"performances" de 30 anos atrás, que na sua imaginação esclerosada se
petrificaram em emblemas estereotipados de "vida" e
"juventude"; quando, lendo Caros Amigos, vejo homens de cabelos
brancos se esfalfando para recuperar sua imagem idealizada de patota juvenil
dos "Anos Dourados", não posso deixar de notar que em todas essas
pessoas que falam em nome do futuro o sentimento dominante é a saudade de si
mesmas. Não falta a esses indivíduos a consciência de que suas vidas falharam.
Mas atribuem a culpa aos outros, ao governo militar que impediu sua geração de
"chegar ao poder". No entanto, a desculpa é falsa, porque, mal ou
bem, eles estão no poder. Eram jovens militantes, hoje são deputados, são
catedráticos, são escritores de sucesso, são formadores de opinião. Por que,
então, lambem com tanta nostalgia e ressentimento as feridas da sua juventude
perdida? É porque ela foi perdida num sentido muito mais profundo e
irremediável que o da mera derrota política. E agora é tarde para voltar atrás.
https://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=Xcbb2h6wvqw
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