quinta-feira, 23 de abril de 2015

SEMENTES PROGRESSISTAS E TRADICIONALISTAS NA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA



Considerações Iniciais:

Este blog já se dedicou a falar das sementes do protestantismo e do pentecostalismo evangélico na Renovação Carismática Católica em várias ocasiões, mas cabe citar aqui este artigo:

·         Como identificar um Carismático “Pentecostal”: http://sobrearochadepedro.blogspot.com.br/2013/12/como-identificar-um-carismatico.html

De igual maneira, este blog já se dedicou a responder questões pontuais no embate de ideias entre Católicos e evangélicos. Cito alguns dos artigos:

·         Carta aberta ao Papa: Uma resposta de um simples católico ao Pr. Pagliarin: http://sobrearochadepedro.blogspot.com.br/2013/07/carta-aberta-ao-papa-uma-resposta-de-um.html
·         Contradições Cristãs: Papa ou Anticristo? http://sobrearochadepedro.blogspot.com.br/2013/07/contradicoes-cristas-papa-ou-anticristo.html
Para explicar algumas questões da nossa fé Católica, em face do protestantismo, do ateísmo, da experiência pentecostal católica ou, ainda, do tradicionalismo, este blog já ofereceu os seguintes artigos:

·         Resposta ao Programa “Na Moral”: http://sobrearochadepedro.blogspot.com.br/2013/09/resposta-ao-programa-na-moral.html
·         Quinta-Feira Santa: Fazei Isto em Memória de Mim: http://sobrearochadepedro.blogspot.com.br/2013/07/quinta-feira-santa-fazei-isto-em.html
·         Uma Introdução Bíblica sobre a Virgem Maria: http://sobrearochadepedro.blogspot.com.br/2014/10/uma-introducao-biblica-sobre-virgem.html
·         Iniciação Cristã e Batismo no Espírito Santo: http://sobrearochadepedro.blogspot.com.br/2015/03/extraido-do-livro-avivar-chama-dos.html
·         Fundamentações Básicas sobre a Renovação Carismática Católica: http://sobrearochadepedro.blogspot.com.br/2015/03/fundamentacoes-basicas-sobre-renovacao.html
·         Esclarecimentos à CNBB sobre alguns aspectos da CNBB: http://sobrearochadepedro.blogspot.com.br/2015/03/esclarecimentos-cnbb-sobre-alguns.html
·         A Renovação Carismática Católica e a Liturgia da Santa Missa – Parte I: http://sobrearochadepedro.blogspot.com.br/2015/03/a-renovacao-carismatica-catolica-e_31.html
·         A Renovação Carismática Católica e a Liturgia da Santa Missa – Parte II: http://sobrearochadepedro.blogspot.com.br/2015/03/a-renovacao-carismatica-catolica-e.html

Desta vez, o blog “Sobre a Rocha de Pedro” vai se dirigir a questão das sementes de tradicionalismo e de progressismo que penetraram a Renovação Carismática Católica e as consequências disso. Não é, contudo, a primeira vez que este assunto é abordado de alguma forma. Veja, por exemplo, estes artigos:

·         Padre Paulo Ricardo de Azevedo Junior: Fariseu Intolerante? http://sobrearochadepedro.blogspot.com.br/2013/08/padre-paulo-ricardo-de-azevedo-junior.html
·         Aprenda com Católicos Extremistas a fazer da Verdade algo desprezível http://sobrearochadepedro.blogspot.com.br/2013/10/aprenda-com-os-catolicos-extremistas.html

Este artigo faz eco a um “post” de 2009, de minha autoria, cujo título era: “Não há salvação fora da Igreja Católica”. O “post” está na página do Grupo de Oração São Luiz Gonzaga, da Diocese de Caxias do Sul/RS.


Buscarei fazer uma apreciação das origens, da infiltração e das consequências do tradicionalismo e do progressismo no seio da Renovação Carismática Católica. Antes, cabe um esclarecimento sobre os termos que este artigo vai empregar.

Definições: Progressistas, Tradicionalistas, Conservadores e Formas “Híbridas”

Em poucas palavras:

Entende-se por “progressista” a aquele que interpreta o Concílio Vaticano II sob a “hermenêutica da ruptura”, ou seja: Tudo o que antecedeu o Concílio Vaticano II deve ser abandonado em prol de uma Igreja modernizada, contemporânea, moldada a esta nova sociedade.

O termo “tradicionalista”, por sua vez, também espelha a mesma “hermenêutica da ruptura” - no que tange ao Concílio Vaticano II –, mas de modo antagônico: Tudo o que sucedeu o Concílio Vaticano II é uma traição ao “verdadeiro catolicismo”, de modo que, para o tradicionalista, a Igreja Católica verdadeira sofreu uma ruptura em 1962 e eles, os tradicionalistas, “conservam a fé” enquanto os demais católicos – hereges – “conservam os templos” (parafraseando a Santo Atanásio).

Por fim, o termo “conservador”, neste contexto, é empregado para espelhar o posicionamento da “hermenêutica da continuidade” – no que tange ao Concílio Vaticano II – capaz de guardar a tradição e se abrir para as novas necessidades, que exigem novos métodos. O conservador, portanto, é o católico que procura caminhar lado a lado com a Igreja – nem a frente, nem atrás dela – olhando para o cajado de Pedro e para os bispos em comunhão com ele.

Após definir, de modo superficial, estes três termos, é necessário perceber que são raros os que se encaixam de forma “pura” nesses três “correntes de pensamento”. O que nós mais encontramos “por aí” são as “formas híbridas”, e é aí que “mora o perigo”.

·         Teólogos da Libertação (naturalmente progressistas), usando clergyman, camisa clerical e, até, batina (sinais que naturalmente identificavam a conservadores e tradicionalistas) e falando de espiritualidade ao estilo carismático (contrariando a inicial repulsa que a teologia da libertação alimentava em relação a Renovação Carismática).

·         Carismáticos Católicos (naturalmente conservadores) alimentando o “antiecumenismo” (posicionamento naturalmente tradicionalista) e tripudiando o Missal de Paulo VI como se o mesmo fosse de “segunda categoria” em face do Missal de Pio V (posicionamento naturalmente tradicionalista).

·         Carismáticos Católicos (naturalmente conservadores) pondo em cheque a doutrina moral da Igreja em assuntos como aborto, segunda união e homossexualidade (posicionamento naturalmente progressista) e adotando posicionamentos políticos que não são respaldados na Doutrina Social da Igreja (ora assemelhando-se ao tradicionalismo – que endeusa o liberalismo econômico – ora assemelhando-se ao progressismo – que pende para o socialismo de raiz marxista).  

Verdade seja dita: Aplicar essas terminações sociológicas (progressista, conservador e tradicionalista) dentro do Corpo de Cristo é, no mínimo, triste demais! Mas precisamos ser honestos; embora a classificação seja indevida, ela expressa uma realidade objetiva.

O híbrido: “Carismático-Progressista”

A década de 70 e 80 foi caracterizada por uma cisão muito clara e visível entre a Renovação Carismática Católica e a Teologia da Libertação no Brasil (encarnada nas Comunidades Eclesiais de Base – CEBs). Na década de 90, segundo o sociólogo Ronaldo José de Souza, a aposta dos Bispos do Brasil nas CEBs como “O” modelo pastoral demonstrou-se, no mínimo, enfraquecida, ao passo que o Movimento Carismático esboçava o seu apogeu de crescimento (na verdade, um “inchaço”, posto que se tratou de um fenômeno de massa).

Com o passar dos anos, o clero dos anos 70 e 80 foi dando lugar ao novo clero, que nasceu no auge do “fenômeno carismático”. A grande verdade é que as vocações ao sacerdócio e à vida consagrada nascem, em sua esmagadora maioria, em ambientes conservadores e tradicionalistas. Normalmente, o jovem que ingressa num seminário ou a jovem que ingressa num convento deseja ser um sacerdote ou uma religiosa aos moldes “conservadores”; é durante o período de formação que ele entra em contato com ideologias de toda sorte e gênero e acaba se tornando um “progressista”.

O que ocorreu – sendo direto e correndo o risco consciente de ser “simplista”: Muitas vocações, nascidas em ambientes carismáticos – nem sempre os melhores – fizeram surgir um clero “carismático-progressista” bastante numeroso.

Os graus de envolvimento com a experiência carismática variam muito! Existem aqueles que se autodeclaram “carismáticos”, que viveram algo da experiência carismática e que, até, manifestam carismas, mas, lastimosamente, foram “vítimas” de uma má formação e, por isso, são relativistas no campo moral, infiéis quanto à Liturgia e conservam o mesmo discurso marxista nas relações de poder – usando este termo segundo as categorias foucaultianas.

Um parêntese: Concordo com o Dr. Fintan Lewless (sacerdote Legionário de Cristo, professor no Seminário Maria Mater Ecclesiae) quando ele diz que a Teologia da Libertação é algo totalmente compreensível diante de uma sociedade tão corrupta e desigual como a brasileira. É uma pena que o marxismo tenha sido a base teórica dessa legítima preocupação social que redundou na Teologia da Libertação.

Voltando ao assunto: Os graus de envolvimento desse novo clero com a experiência carismática são variáveis. Há aqueles que, da Renovação, só herdaram os seus aspectos mais superficiais, reproduzidos muito mais pela massa do que pelos autênticos líderes do Movimento. São os padres que, embora não sendo “carismáticos”, usam as canções, o estilo de pregar e assim por diante. Falam de “experiência religiosa”, “alimentam os devocionais”, mas teologicamente seguem as premissas progressistas.

Realmente, as variações são muitas. E como a nossa Igreja protagoniza o leigo muito mais no seu discurso do que na sua prática, esse novo clero influenciou a Renovação, e não demorou muito para que líderes leigos “carismático-progressistas” começassem a aparecer e, aos poucos, começassem a se gerar um relativismo moral que, fatalmente, permeia alguns círculos carismáticos. Nossos jovens atuais riem de si mesmos quando lembram “as práticas que tinham no começa da caminhada” – embora, quando colocam a mão na consciência... Percebem que, naquela época, eram mais “apaixonados”, mais felizes... Só não podem reconhecer isso.

Hoje nós temos “carismáticos-progressistas” que relativizam a moral da Igreja em nome de um falso senso de “misericórdia”. Sobre este tema da falsa misericórdia, o artigo “Deus aborrece o pecado mas ama os arrependidos” pode ser iluminador.


Teríamos muito mais a refletir sobre essa forma híbrida, que gerou carismáticos que “cheiram” como o mundo, se vestem como o mundo, ouvem o que o mundo ouve, bebem como o mundo bebe, falam o que mundo fala, assistem o que mundo assiste, mas... “graças a Deus” ... “São de Jesus”. Mas vamos parar por aqui porque há um outro híbrido a ser analisado.

O híbrido: “Carismático – Tradicionalista”

O tradicionalismo não entrou na Renovação Carismática Católica de forma “direta”, ou seja, não é que nós tenhamos gente da Fraternidade de São Pio X “abertas” à Renovação Carismática Católica influenciando o movimento e gerando esse viés tradicionalista no nosso meio. Não! O tradicionalismo entra na Renovação “por tabela”.

Certa vez, um sacerdote muito inteligente e perspicaz contou-me a reflexão de um famoso Abade com o qual ele teve a oportunidade de estar: “Hoje em dia há muita gente querendo ser mestre sem antes ter sido discípulo”. O abade dizia isto em relação a muitas Novas Comunidades Carismáticas, cujo “fundador” é “mestre” sem nunca ter sido “discípulo”. Estou colocando isto aqui porque “a tabela” pela qual o tradicionalismo entra na Renovação Carismática são: Os Movimentos Eclesiais, as Novas Comunidades, as Fraternidades e os Institutos – com seus simpatizantes e afins – que beberam de fontes até saudáveis da tradição, mas sem a maturidade bimilenar do Magistério da Igreja, e acabaram por gerar uma hermenêutica de ruptura não de modo generalizado, mas em questões pontuais importantes no que tange ao Ecumenismo, à Liturgia, etc.

Mas os Movimentos Eclesiais e as Novas Comunidades não são a Nova Primavera da Igreja? Não tenho dúvidas de que são! O fato, contudo, é que ainda são experiências “em maturação”. E é por meio desses movimentos, fraternidades e comunidades – em processo de maturação – que as premissas do tradicionalismo invadiram a Renovação Carismática Católica – que também é uma realidade eclesial recente e em maturação. Sem pertencer explicitamente a uma Associação explicitamente tradicionalista, membros da RCC começam a fazer delas a sua fonte de alimento.

Essa busca pelo tradicionalismo é altamente compreensível quando nós analisamos a situação da Igreja no Brasil: Liturgia banalizada, pregação relativizada, ascese considerada “moralismo” e assim por diante. Portanto, o desfile de toda a sorte de adereços, rendas e mais rendas por parte do clero “de viés tradicionalista” é compreensível. É uma pena, contudo, que o esteticismo ao qual o Papa Pio XII já havia atentado e corrigido esteja sendo supervalorizado da maneira que vemos hoje em dia.

Hoje nós temos carismáticos “antiecumênicos” – o que é um absurdo sem tamanho pelo fato de a Renovação Carismática ser essencialmente ecumênica, como bem lembrou o Papa Francisco, citando ao segundo volume dos Documentos de Malinas. Tudo aquilo que fez a Renovação Carismática Católica nascer e crescer na Santa Igreja é DEVEDOR do sadio diálogo ecumênico defendido e avalizado pelo Concílio Vaticano II no Documento Conciliar Unitatis Redintegratio.

Recentemente publiquei um vídeo e um artigo sobre a licitude do uso de canções de autores que não estão em plena comunhão com a Igreja Católica, apresentando os devidos critérios.


É impressionante como fui chamado de progressista, de protestante e assim por diante! Graças a Deus, todos os argumentos eram muito frágeis e “ad hominem”, uma vez que apenas afirmei aquilo que a Igreja afirma.

O tradicionalismo na Renovação Carismática Católica também se manifesta na Liturgia. Já “cansei de ver” carismáticos menosprezando o missal de Paulo VI. Carismáticos que proíbem o que a Igreja não proíbe, que refutam o que a Igreja não refuta.

Por último, como fruto do “tradicionalismo de cueca” vivido pelos carismáticos – e digo “tradicionalismo de cueca” porque é inconcebível ser “lefebvriano” e “pentecostal católico” – vale a pena tocar a questão do moralismo doentio pregado por esta gente, que tem gerado danos psicológicos e desvios afetivos e sexuais vários. Eu poderia citar exemplos oriundos de Novas Comunidades, Fraternidades, Congregações de viés carismático e por aí vai, mas vou confiar na honestidade dos leitores, uma vez que os fatos são gritantes e falam por si sós.

Exortação Final

Renovação Carismática Católica, fite os seus olhos no cajado de Pedro! Seja fiel ao Magistério atual da Igreja, que interpreta as Escrituras e nos transmite a tradição (que é viva) no HOJE da Igreja. Sejamos aquilo que Deus quer de nós (é inconcebível um carismático antiecumênico). Guardemos a unidade do Espírito no vínculo da paz! Não contristemos ao Espírito Santo! Não extingamos ao Espírito Santo!



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