quinta-feira, 10 de outubro de 2013

A CLASSIFICAÇÃO DAS CIÊNCIAS EM CONSONÂNCIA COM A FIDES ET RATIO DE JOÃO PAULO II


A Cristandade, identificada pelos intelectuais modernos como obscurantista e portadora de trevas, foi a genitora do Sistema Universitário, dos Hospitais, do Método científico, do Direito Ocidental e de toda a ética e a moral próprias do mundo ocidental (que os mesmos "modernistas" chamam de obsoleta e castradora). Neste período, o conhecimento humano se elevava sobre as suas duas asas, sem dicotomais entre a razão e a fé.

O Papa João Paulo II, quando nos convida a voltar ao tomismo, convida-nos a sair do "giro embecilizante" de "rodopiar com uma asa só" antes de colidirmos com o chão, assumindo uma "Scientia Plena", aberta à possibilidade real de conhecer algo a respeito de alguma coisa, encarando a própria felicidade como a operatio perfecta mentis (operação perfeita do intelecto): Quanto mais nobre e digno é o objeto cognoscível e quanto mais ampla for a minha capacidade de "gozá-lo", maior será a minha felicidade. O intelectualismo brasileiro atual, porém, venera o niilismo e o desespero da vida sem sentido, mergulhando o Século XX e o nascente Século XXI no grande Mal do Século: A Depressão.

Pois bem, coloco diante de você a vida e a morte, a benção e a maldição e suplico: Escolhe a vida! Ou você continua dividindo a história e concebendo a ciência a la Augusto Comte ou você desperta para o método harmônico proposto por João Paulo II, encarnado na obra de São Tomas de Aquino.

Ofereço-lhes uma excelente síntese elaborada pelo Ir. Ricardo Pioner, L.C. sobre o assunto. 

Suba na torre, Sentinela, e anuncie a chegada do Sol que pode cessar as trevas do obscurantismo contemporâneo, força motriz da depressão que caracteriza a nossa geração. A impossibilidade de conhecer ( posto que tudo é marginalizado para a individualidade e não existe nada de absoluto) jogou o homem na fossa da depressão, o contrário da felicitas de Tomas de Aquino. Anuncia, pois, Sentinela, a chegada do Sol!


O lugar do ensino na divisão das ciências na síntese de Tomás de Aquino

 Os pressupostos para o processo de ensino, na síntese de Tomás de Aquino, mesmo discutindo e incorporando algumas partes sobre a classificação das ciências da tradição filosófica, são essencialmente aristotélicos. Vejamos, então, inicialmente, como Aristóteles divide-as, para depois abordar a classificação efetuada por Tomás.

Assim, Aristóteles inicia o tratado da Metafísica com a seguinte afirmação: “Todos os homens, por natureza, tendem ao saber” (A 1, 980 a, 21, p. 3.)[1]. A tendência natural do homem ao saber é a raiz da qual nasce e na qual se fundamenta a filosofia aristotélica, particularmente, a metafísica.
           
É no livro E (V) da Met. que Aristóteles classifica e distingue três formas de ciências: “Todo conhecimento racional é ou prático, ou produtivo, ou teorético” (1, 1025 b, 25-26, v. II, p. 271). As ciências teoréticas buscam o saber pelo saber; as práticas, o saber em função do agir; as produtivas, o saber em função do fazer. É nas ciências do agir que se insere especificamente o processo de ensino no pensamento de Tomás de Aquino, mas recebe da teologia revelada, da metafísica, da epistemologia e da antropologia seus fundamentos.
Sendo assim, na hierarquia das ciências aristotélicas, a metafísica encontra-se no topo: “Enquanto as ciências teoréticas são preferíveis às outras ciências, esta [a metafísica], por sua vez, é preferível às outras duas ciências teoréticas” (Met. E (V) 1, 1026 a, 22-24, v. II, p. 273). É em função da metafísica que todas as outras ciências adquirem o justo significado.

Ora, baseado nessa classificação aristotélica das ciências, confrontando-as com a divisão estóica da filosofia em lógica, física e ética, juntamente com as sete artes liberais, propedêuticas à filosofia, isto é, o trivium (gramática, retórica e dialética) e o quadrivium (aritmética, geometria, astronomia, música), é que Tomás de Aquino estabelece, à sua maneira, uma divisão das ciências. Essa divisão é efetuada formalmente no comentário Super Boetium de Trinitate, questões 5 e 6 que, em síntese e em linhas gerais, apresenta-se da seguinte forma.

Assim, há uma distinção entre o intelecto teórico ou especulativo e o intelecto operativo ou prático. Tal distinção tem como fundamento as diferentes finalidades: o prático visa à operação e o teórico, à verdade. E a relação pedagógica entre o professor e o aluno insere-se nestas duas finalidades, conforme veremos.

E é de acordo com o critério de verdade, que as ciências especulativas são distinguidas em dois grupos, de acordo com o objeto de especulação. Dessa forma, de um lado, existe o conhecimento científico teórico, dividido em duas partes: já que o intelecto é imaterial, seu objeto também dever ser dessa natureza, resultando no conhecimento intelectual; por se tratar de um conhecimento científico, o objeto deve ser necessário, ou seja, sem movimento. E por outro, existe o conhecimento da ciência especulativa, fundado no critério de afastamento da mutabilidade do mundo sensível (Sup. Boet. Trin., q. 5, 1, p. 102).

Seguindo este último critério, Tomás estabelece a distinção das ciências especuláveis dependentes da matéria e do movimento e daquelas que não dependem disto no que se refere ao ser. As dependentes da matéria são de duas classes, ou seja, as ciências que dependem da matéria sensível para se constituírem e serem consideradas inteligíveis – como a física ou a ciência natural, e daquelas que dependem do mundo sensível para se concretizarem, mas não para serem inteligíveis – como a matemática. Já as ciências que se ocupam com os objetos especuláveis que não dependem da matéria, são também de duas classes: os objetos que nunca dependem da matéria, como Deus, anjos, entes positivamente imateriais, e os objetos que às vezes dependem e em outras não da matéria, como a substância, a qualidade, o ente, a potência, o ato, o uno, o múltiplo etc, entes negativamente imateriais.

Portanto, a teologia, a metafísica ou a filosofia primeira, investigam sobre estas duas classes de objetos. São três nomes atribuídos a mesma ciência, mas a partir de perspectivas diferentes. Assim,

de todos estes trata a teologia, isto é, a ciência divina, pois Deus é o principal do que nela é conhecido. A qual, com outro nome, é chamada de metafísica, isto é, além da física, porque ocorre a nós, que precisamos passar do sensível ao insensível, que devemos aprendê-la depois da física; é chamada também de filosofia primeira na medida em que todas as ciências, recebendo dela seus princípios, vêm depois dela (Sup. Boet. Trin., q. 5, 1, p. 103).

Cabe ressaltar, que o critério utilizado por Tomás de Aquino para “justificar a divisão das ciências ou as três partes da filosofia especulativa [é o] próprio modo de ser das coisas” (NASCIMENTO, 1999, p. 17), isto é, “as ciências especulativas se distinguem segundo a ordem de afastamento da matéria e do movimento (Sup. Boet. Trin., q. 5, 1, p. 102).

Por isso, na classificação e hierarquia das ciências na síntese tomista, a divina, isto é, a teologia ou a teologia cristã, a semelhança da metafísica no pensamento de Aristóteles, é a ciência dos princípios. É a primeira na ordem da intenção e a última na ordem da execução. Todas as outras ciências subordinam-se a ela,

pois cabe-lhe provar os princípios das outras ciências. É preciso, pois, que esta ciência venha antes das outras [...]. Como observa Avicena no início da Metafísica, a ordem desta ciência é tal que deve ser estudada após as ciências da natureza, em que são definidas numerosas noções que ela utiliza, como geração, corrupção, movimento, etc [...]. E é assim que a ciência da natureza contribui com qualquer coisa para a ciência do divino, embora esta forneça os princípios daquela. Tal é a razão pela qual Boécio colocou em último a ciência do divino, pois ela é última para nós (Sup. Boet. Trin., q. 5, 1, ad 9, p. 108).

Depreende-se disso, que os princípios da teologia, também denominada de metafísica ou de filosofia primeira, como vimos, na síntese de Tomás de Aquino, são aplicados na filosofia moral. Além disso, é a filosofia moral que fornece os fundamentos para a pedagogia, como uma espécie de instrumento para a concretização das potencialidades que o homem possui por natureza, como a disposição para bem, para o social, para o conhecimento e à aprendizagem.




[1] Nas próximas citações da Metafísica, estaremos nos referindo a esta tradução com a abreviação Met.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

APRENDA COM OS “CATÓLICOS EXTREMISTAS” A FAZER DA VERDADE ALGO DESPREZIVEL!



Já que o único jeito de gerar reflexões e aguçar o interesse é o “tratamento de choque”, lá vamos nós outra vez!

Venho alertando há algum tempo aos amigos e leitores do blog sobre uma geração de jovens católicos narcisistas e pedantes que adoram escrever em latim (sem ter o mínimo de conhecimento da língua, o que é pior!), ditar “normas” e esmagar o mundo, tornando a verdade católica um verdadeiro objeto de desprezo e de sátira.

Olavo de Carvalho (em O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota) fala sobre a dissonância cognitiva – um instrumento de dominação de massas muito utilizado na cultura que nos cerca. Segundo Olavo, a dissonância cognitiva consiste na apresentação e defesa de princípios totalmente contraditórios entre si, deixando a massa em estado de desorientação, aguardando uma voz de comando, seja qual for este comando.

O cidadão angustiado reage por uma espécie de colapso intelectual, tornando-se um boboca servil que já não sabe orientar-se a si mesmo e implora por uma voz de comando. O comando pode ser oco e sem sentido, como por exemplo change!, mas, quando vem, soa sempre como um alívio (Armas da Liberdade, publicado no Diário do Comércio em 17 de dezembro de 2009).

Na sequência, no artigo intitulado A Demolição das Consciências, publicado em 21 de dezembro de 2009 no Diário do Comércio, Olavo continua:

Quem tenha compreendido bem meu artigo "Armas da Liberdade", deve ter percebido também a conclusão implícita a que ele conduz incontornavelmente: boa parte do esforço moralizante despendido pela "direita religiosa" para sanear uma sociedade corrupta é inútil, já que termina sendo facilmente absorvida pela máquina da "dissonância cognitiva" e usada como instrumento de perdição geral.

O artigo todo merece uma boa leitura, mas o parágrafo em questão é direto e muito elucidativo.

Recentemente minha comadre me enviou um link de acesso a uma carta escrita por um jovem católico que, copiando frases inteiras de Olavo de Carvalho (sem citar a fonte), dava as razões pelas quais ele se negava a apresentar um trabalho sobre Karl Marx. Eu já venho escrevendo e alertando muita gente sobre essa nova geração de extremistas que se aninharam como alunos do Padre Paulo Ricardo de Azevedo Junior (sobretudo, e em primeiro lugar, escrevi ao próprio Padre e sua Equipe sobre o assunto) e que, por meio do Padre Paulo, estão se ancorando no Olavo também. Bradam condenações a tudo e a todos em “defesa” da verdade católica... Mal conseguem perceber que, dentro da dissonância cognitiva, apenas corroboram com a confusão na cabeça do pobre e sofrido “povão de meu Deus”.

Olha: Se essa moda pega (a de se negar a estudar Karl Marx)... Pobres dos nossos seminaristas no Brasil!

Citando ao próprio Padre Paulo Ricardo que, com muito equilíbrio, falava aos seminaristas carismáticos no Renasem de Porto Alegre, é necessário ter sabedoria e astúcia para passar pelo ambiente acadêmico, formar-se e, já constituído sacerdote, professor ou profissional, estar apto a ser um formador de opinião! Sem sabedoria e astúcia, os católicos serão expulsos do ambiente acadêmico e taxados de extremistas (porque a voz de comando, no meio da confusão, não será a conservadora, dentro da tática da dissonância cognitiva, mas a liberal).


Quando os católicos vão despertar para a realidade de que precisamos fazer parte do corpo docente das universidades para, assim, transformar a cultura? Tudo o que fizermos de modo radicalista e extremista será "lenha para o fogo" da manobra arquitetada pelo intelectualismo esquerdista. Se sacerdotes que conservam e guardam o depósito da fé com fidelidade não conseguirem se formar nas dioceses tomadas pela nefasta teologia da libertação (porque, de duas uma: Ou procuram um “Seminário Ideal” e se aninham em Cuiabá, ou no Mater Ecclesiae de Itapecerica da Serra/SP, ou na Diocese de Novo Hamburgo, OU são expulsos de seus seminários de origem e perdem a vocação), jamais conseguiremos mudar a realidade. Se católicos bem formados não forem admitidos ao corpo docente da UFSC e outras por aí... Seguiremos vendo a juventude do país usando a camiseta do “Che”, fumando maconha e querendo lutar contra o “sistema”.

Os extremistas esquecem que, primeiro, vem o amor. Focando na lei, embora estejam dizendo a verdade, na maioria das vezes, acabam causando o fechamento do coração de seus interlocutores, leitores ou telespectadores e tornam a verdade que defendem algo desprezível!

Está na hora dos formadores católicos reverem os seus métodos de formação para ver se o remédio que aplicam não possui efeitos colaterais mais daninhos que a própria doença a qual desejam combater. 

Recebi um mailing de um tal de Joel, esses dias atrás, no Grupo de Discussões das Universidades Renovadas (RCC) que, por A + B, nos dava motivos para não assistir Missa que não fosse de Rito Tridentino; dentre os muitos links, figurava o site do Padre Paulo e suas aulas sobre o Missal de Paulo VI.

“É aí que eu me refiro”, diria Joca Martins.