quinta-feira, 30 de abril de 2015

A VIOLÊNCIA NAS RUAS DE CURITIBA: POLICIAIS X PROFESSORES = PSDB E PT VITORIOSOS!

POLICIAIS E PROFESSORES EM CURITIBA



Vamos iniciar com alguns PARECERES sobre a questão no Paraná:

Eu estava na minha mesa de trabalho, em Valinhos/SP, quando as notícias começaram a “bombar” na INTERNET. De imediato, busquei amigos que estão em Curitiba e que pudessem me dar NOTICIAIS REAIS. Por que digo isso? É simples: A BAND e a GAZETA DO POVO mostram um lado da notícia. A REDE MASSA e a VEJA... Mostram outro lado. Os grupos se dividem e cada um “apelida” o seu opositor de ALIENADO. “Vocês leem VEJA e acham que estão com a verdade dos fatos”, diz um grupo. “Vocês leem a GAZETA e acham que estão com a ‘corda toda’”, respondem os outros.

Um amigo meu – Policial – diz que os manifestantes tentaram passar por cima da Polícia para chegar à Assembleia. “O nervosismo – disse ele – toma conta; estamos ali, na barreira de isolamento e o povo quer passar por cima da gente, que estamos fazendo o nosso trabalho? A primeira medida é manter o cordão de isolamento. A segunda, usar defender esse cordão dos ataques, revidando. A terceira, afastar e dispersar a multidão (que é quando a violência realmente tomou conta)”. Meu amigo disse, ainda, que é humanamente impossível manter-se impassível diante da situação e que medidas tomadas no calor do momento acabam sendo “desmedidas”.



Um conhecido meu que estava lá – não é professor, mas é estudante e estava lá – escreveu que a polícia estava impedindo que os manifestantes se aproximassem da praça de La Salette e começaram a usar bombas de efeito moral, cassetetes e por aí vai, e bateram de modo indiscriminado nas pessoas; usaram Cães Pitbul, balas de borracha, bombas de efeito moral e muita violência.

Um cinegrafista da GAZETA DO POVO me disse que o início realmente se deu quando um grupo de manifestantes tentou retirar as barras de isolamento. Os policiais reagiram e, num segundo momento, usaram de força desmedida para dispersar a multidão.

Em nota, a Arquidiocese de Curitiba manifesta consternação e profundo lamento fatos ocorridos em frente à Assembleia Legislativa do Estado do Paraná nestes últimos dois dias (28 e 29 de Abril de 2015) em que se discutia o Projeto de Lei no 252/2015, que promove mudanças no regime próprio da previdência social dos servidores estaduais – a Paraná Previdência.

“Testemunhamos – diz a nota – com profundo pesar os fatos violentos perpetrados pelas diferentes partes do confronto. A violência, venha de onde vier, é sempre a pior alternativa: fere-se a liberdade, golpeia-se a dignidade da vida, esvazia-se o princípio democrático, as instituições desfiguram-se e os direitos perdem a sua centralidade. Ao final, os adversários do diálogo são os que mais se aproveitam desta situação de conflito. Hoje, a paz foi derrotada.

Fatos:

·         Os manifestantes foram os iniciadores da violência;
·         Os policiais responderam indo muito mais além e, não dá para negar, passando dos limites.

·         A opinião pública “manipula” ou “ridiculariza” os fatos (depende da fonte que você deseja consultar).



Há uma mistura inegável de fatos acontecendo aqui e, agora, vou expressar a minha opinião:

1.       Assim como nas manifestações de 2013, há “gente de bem” e gente “violenta” nas manifestações. A polícia não está preparada para administrar conflitos dessa magnitude.

2.       Há SIM uma agenda política por detrás do Sindicato dos Professores, cuja filosofia é nitidamente “pro-revolução armada”, “pro-anárquica”, e um Movimento assim ... Perde a sua VOZ. O fruto que se tira disso é o cumprimento da AGENDA POLÍTICA que já se tinha em mente: Tirar o PSDB do poder. A voz que gritava pelos professores... Foi calada... Neste sentido, os professores são instrumentalizados sim. Concordo com a Arquidiocese de Curitiba:  Ao final, os adversários do diálogo são os que mais se aproveitam desta situação de conflito.

3.       O PSDB, na pessoa do Sr. Beto Richa, agiu de modo arbitrário. Expos os policiais, humilhou os professores ali presentes e mexeu no bolso de uma das categorias mais vilipendiadas desse país: A dos professores. Quem está pagando pela crise nacional e estadual, gerada por um governo corrupto e uma oposição fajuta, suja e tão corrupta quanto, é o povo.



4.       Quem saiu perdendo? Os professores de bem que estavam na manifestação e todos os professores do Estado do Paraná. Quem saiu ganhando: O PT, que conseguiu tornar essa brutalidade toda em evento internacional e arrebentou com o Beto Richa e sua corja. Também saiu ganhando o PSDB, pois, embora tenha ficado marcado para sempre por esta barbárie... Conseguiu levar o projeto de lei adiante. Quem saiu perdendo? Os professores, que apanharam nas ruas e perderam boa parte do seu dinheiro com essa lei absurda. Saíram perdendo os policiais, que mais uma vez foram expostos pelo Governo a uma situação de conflito com a população, denegrindo ainda mais a própria corporação.


quinta-feira, 23 de abril de 2015

SEMENTES PROGRESSISTAS E TRADICIONALISTAS NA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA



Considerações Iniciais:

Este blog já se dedicou a falar das sementes do protestantismo e do pentecostalismo evangélico na Renovação Carismática Católica em várias ocasiões, mas cabe citar aqui este artigo:

·         Como identificar um Carismático “Pentecostal”: http://sobrearochadepedro.blogspot.com.br/2013/12/como-identificar-um-carismatico.html

De igual maneira, este blog já se dedicou a responder questões pontuais no embate de ideias entre Católicos e evangélicos. Cito alguns dos artigos:

·         Carta aberta ao Papa: Uma resposta de um simples católico ao Pr. Pagliarin: http://sobrearochadepedro.blogspot.com.br/2013/07/carta-aberta-ao-papa-uma-resposta-de-um.html
·         Contradições Cristãs: Papa ou Anticristo? http://sobrearochadepedro.blogspot.com.br/2013/07/contradicoes-cristas-papa-ou-anticristo.html
Para explicar algumas questões da nossa fé Católica, em face do protestantismo, do ateísmo, da experiência pentecostal católica ou, ainda, do tradicionalismo, este blog já ofereceu os seguintes artigos:

·         Resposta ao Programa “Na Moral”: http://sobrearochadepedro.blogspot.com.br/2013/09/resposta-ao-programa-na-moral.html
·         Quinta-Feira Santa: Fazei Isto em Memória de Mim: http://sobrearochadepedro.blogspot.com.br/2013/07/quinta-feira-santa-fazei-isto-em.html
·         Uma Introdução Bíblica sobre a Virgem Maria: http://sobrearochadepedro.blogspot.com.br/2014/10/uma-introducao-biblica-sobre-virgem.html
·         Iniciação Cristã e Batismo no Espírito Santo: http://sobrearochadepedro.blogspot.com.br/2015/03/extraido-do-livro-avivar-chama-dos.html
·         Fundamentações Básicas sobre a Renovação Carismática Católica: http://sobrearochadepedro.blogspot.com.br/2015/03/fundamentacoes-basicas-sobre-renovacao.html
·         Esclarecimentos à CNBB sobre alguns aspectos da CNBB: http://sobrearochadepedro.blogspot.com.br/2015/03/esclarecimentos-cnbb-sobre-alguns.html
·         A Renovação Carismática Católica e a Liturgia da Santa Missa – Parte I: http://sobrearochadepedro.blogspot.com.br/2015/03/a-renovacao-carismatica-catolica-e_31.html
·         A Renovação Carismática Católica e a Liturgia da Santa Missa – Parte II: http://sobrearochadepedro.blogspot.com.br/2015/03/a-renovacao-carismatica-catolica-e.html

Desta vez, o blog “Sobre a Rocha de Pedro” vai se dirigir a questão das sementes de tradicionalismo e de progressismo que penetraram a Renovação Carismática Católica e as consequências disso. Não é, contudo, a primeira vez que este assunto é abordado de alguma forma. Veja, por exemplo, estes artigos:

·         Padre Paulo Ricardo de Azevedo Junior: Fariseu Intolerante? http://sobrearochadepedro.blogspot.com.br/2013/08/padre-paulo-ricardo-de-azevedo-junior.html
·         Aprenda com Católicos Extremistas a fazer da Verdade algo desprezível http://sobrearochadepedro.blogspot.com.br/2013/10/aprenda-com-os-catolicos-extremistas.html

Este artigo faz eco a um “post” de 2009, de minha autoria, cujo título era: “Não há salvação fora da Igreja Católica”. O “post” está na página do Grupo de Oração São Luiz Gonzaga, da Diocese de Caxias do Sul/RS.


Buscarei fazer uma apreciação das origens, da infiltração e das consequências do tradicionalismo e do progressismo no seio da Renovação Carismática Católica. Antes, cabe um esclarecimento sobre os termos que este artigo vai empregar.

Definições: Progressistas, Tradicionalistas, Conservadores e Formas “Híbridas”

Em poucas palavras:

Entende-se por “progressista” a aquele que interpreta o Concílio Vaticano II sob a “hermenêutica da ruptura”, ou seja: Tudo o que antecedeu o Concílio Vaticano II deve ser abandonado em prol de uma Igreja modernizada, contemporânea, moldada a esta nova sociedade.

O termo “tradicionalista”, por sua vez, também espelha a mesma “hermenêutica da ruptura” - no que tange ao Concílio Vaticano II –, mas de modo antagônico: Tudo o que sucedeu o Concílio Vaticano II é uma traição ao “verdadeiro catolicismo”, de modo que, para o tradicionalista, a Igreja Católica verdadeira sofreu uma ruptura em 1962 e eles, os tradicionalistas, “conservam a fé” enquanto os demais católicos – hereges – “conservam os templos” (parafraseando a Santo Atanásio).

Por fim, o termo “conservador”, neste contexto, é empregado para espelhar o posicionamento da “hermenêutica da continuidade” – no que tange ao Concílio Vaticano II – capaz de guardar a tradição e se abrir para as novas necessidades, que exigem novos métodos. O conservador, portanto, é o católico que procura caminhar lado a lado com a Igreja – nem a frente, nem atrás dela – olhando para o cajado de Pedro e para os bispos em comunhão com ele.

Após definir, de modo superficial, estes três termos, é necessário perceber que são raros os que se encaixam de forma “pura” nesses três “correntes de pensamento”. O que nós mais encontramos “por aí” são as “formas híbridas”, e é aí que “mora o perigo”.

·         Teólogos da Libertação (naturalmente progressistas), usando clergyman, camisa clerical e, até, batina (sinais que naturalmente identificavam a conservadores e tradicionalistas) e falando de espiritualidade ao estilo carismático (contrariando a inicial repulsa que a teologia da libertação alimentava em relação a Renovação Carismática).

·         Carismáticos Católicos (naturalmente conservadores) alimentando o “antiecumenismo” (posicionamento naturalmente tradicionalista) e tripudiando o Missal de Paulo VI como se o mesmo fosse de “segunda categoria” em face do Missal de Pio V (posicionamento naturalmente tradicionalista).

·         Carismáticos Católicos (naturalmente conservadores) pondo em cheque a doutrina moral da Igreja em assuntos como aborto, segunda união e homossexualidade (posicionamento naturalmente progressista) e adotando posicionamentos políticos que não são respaldados na Doutrina Social da Igreja (ora assemelhando-se ao tradicionalismo – que endeusa o liberalismo econômico – ora assemelhando-se ao progressismo – que pende para o socialismo de raiz marxista).  

Verdade seja dita: Aplicar essas terminações sociológicas (progressista, conservador e tradicionalista) dentro do Corpo de Cristo é, no mínimo, triste demais! Mas precisamos ser honestos; embora a classificação seja indevida, ela expressa uma realidade objetiva.

O híbrido: “Carismático-Progressista”

A década de 70 e 80 foi caracterizada por uma cisão muito clara e visível entre a Renovação Carismática Católica e a Teologia da Libertação no Brasil (encarnada nas Comunidades Eclesiais de Base – CEBs). Na década de 90, segundo o sociólogo Ronaldo José de Souza, a aposta dos Bispos do Brasil nas CEBs como “O” modelo pastoral demonstrou-se, no mínimo, enfraquecida, ao passo que o Movimento Carismático esboçava o seu apogeu de crescimento (na verdade, um “inchaço”, posto que se tratou de um fenômeno de massa).

Com o passar dos anos, o clero dos anos 70 e 80 foi dando lugar ao novo clero, que nasceu no auge do “fenômeno carismático”. A grande verdade é que as vocações ao sacerdócio e à vida consagrada nascem, em sua esmagadora maioria, em ambientes conservadores e tradicionalistas. Normalmente, o jovem que ingressa num seminário ou a jovem que ingressa num convento deseja ser um sacerdote ou uma religiosa aos moldes “conservadores”; é durante o período de formação que ele entra em contato com ideologias de toda sorte e gênero e acaba se tornando um “progressista”.

O que ocorreu – sendo direto e correndo o risco consciente de ser “simplista”: Muitas vocações, nascidas em ambientes carismáticos – nem sempre os melhores – fizeram surgir um clero “carismático-progressista” bastante numeroso.

Os graus de envolvimento com a experiência carismática variam muito! Existem aqueles que se autodeclaram “carismáticos”, que viveram algo da experiência carismática e que, até, manifestam carismas, mas, lastimosamente, foram “vítimas” de uma má formação e, por isso, são relativistas no campo moral, infiéis quanto à Liturgia e conservam o mesmo discurso marxista nas relações de poder – usando este termo segundo as categorias foucaultianas.

Um parêntese: Concordo com o Dr. Fintan Lewless (sacerdote Legionário de Cristo, professor no Seminário Maria Mater Ecclesiae) quando ele diz que a Teologia da Libertação é algo totalmente compreensível diante de uma sociedade tão corrupta e desigual como a brasileira. É uma pena que o marxismo tenha sido a base teórica dessa legítima preocupação social que redundou na Teologia da Libertação.

Voltando ao assunto: Os graus de envolvimento desse novo clero com a experiência carismática são variáveis. Há aqueles que, da Renovação, só herdaram os seus aspectos mais superficiais, reproduzidos muito mais pela massa do que pelos autênticos líderes do Movimento. São os padres que, embora não sendo “carismáticos”, usam as canções, o estilo de pregar e assim por diante. Falam de “experiência religiosa”, “alimentam os devocionais”, mas teologicamente seguem as premissas progressistas.

Realmente, as variações são muitas. E como a nossa Igreja protagoniza o leigo muito mais no seu discurso do que na sua prática, esse novo clero influenciou a Renovação, e não demorou muito para que líderes leigos “carismático-progressistas” começassem a aparecer e, aos poucos, começassem a se gerar um relativismo moral que, fatalmente, permeia alguns círculos carismáticos. Nossos jovens atuais riem de si mesmos quando lembram “as práticas que tinham no começa da caminhada” – embora, quando colocam a mão na consciência... Percebem que, naquela época, eram mais “apaixonados”, mais felizes... Só não podem reconhecer isso.

Hoje nós temos “carismáticos-progressistas” que relativizam a moral da Igreja em nome de um falso senso de “misericórdia”. Sobre este tema da falsa misericórdia, o artigo “Deus aborrece o pecado mas ama os arrependidos” pode ser iluminador.


Teríamos muito mais a refletir sobre essa forma híbrida, que gerou carismáticos que “cheiram” como o mundo, se vestem como o mundo, ouvem o que o mundo ouve, bebem como o mundo bebe, falam o que mundo fala, assistem o que mundo assiste, mas... “graças a Deus” ... “São de Jesus”. Mas vamos parar por aqui porque há um outro híbrido a ser analisado.

O híbrido: “Carismático – Tradicionalista”

O tradicionalismo não entrou na Renovação Carismática Católica de forma “direta”, ou seja, não é que nós tenhamos gente da Fraternidade de São Pio X “abertas” à Renovação Carismática Católica influenciando o movimento e gerando esse viés tradicionalista no nosso meio. Não! O tradicionalismo entra na Renovação “por tabela”.

Certa vez, um sacerdote muito inteligente e perspicaz contou-me a reflexão de um famoso Abade com o qual ele teve a oportunidade de estar: “Hoje em dia há muita gente querendo ser mestre sem antes ter sido discípulo”. O abade dizia isto em relação a muitas Novas Comunidades Carismáticas, cujo “fundador” é “mestre” sem nunca ter sido “discípulo”. Estou colocando isto aqui porque “a tabela” pela qual o tradicionalismo entra na Renovação Carismática são: Os Movimentos Eclesiais, as Novas Comunidades, as Fraternidades e os Institutos – com seus simpatizantes e afins – que beberam de fontes até saudáveis da tradição, mas sem a maturidade bimilenar do Magistério da Igreja, e acabaram por gerar uma hermenêutica de ruptura não de modo generalizado, mas em questões pontuais importantes no que tange ao Ecumenismo, à Liturgia, etc.

Mas os Movimentos Eclesiais e as Novas Comunidades não são a Nova Primavera da Igreja? Não tenho dúvidas de que são! O fato, contudo, é que ainda são experiências “em maturação”. E é por meio desses movimentos, fraternidades e comunidades – em processo de maturação – que as premissas do tradicionalismo invadiram a Renovação Carismática Católica – que também é uma realidade eclesial recente e em maturação. Sem pertencer explicitamente a uma Associação explicitamente tradicionalista, membros da RCC começam a fazer delas a sua fonte de alimento.

Essa busca pelo tradicionalismo é altamente compreensível quando nós analisamos a situação da Igreja no Brasil: Liturgia banalizada, pregação relativizada, ascese considerada “moralismo” e assim por diante. Portanto, o desfile de toda a sorte de adereços, rendas e mais rendas por parte do clero “de viés tradicionalista” é compreensível. É uma pena, contudo, que o esteticismo ao qual o Papa Pio XII já havia atentado e corrigido esteja sendo supervalorizado da maneira que vemos hoje em dia.

Hoje nós temos carismáticos “antiecumênicos” – o que é um absurdo sem tamanho pelo fato de a Renovação Carismática ser essencialmente ecumênica, como bem lembrou o Papa Francisco, citando ao segundo volume dos Documentos de Malinas. Tudo aquilo que fez a Renovação Carismática Católica nascer e crescer na Santa Igreja é DEVEDOR do sadio diálogo ecumênico defendido e avalizado pelo Concílio Vaticano II no Documento Conciliar Unitatis Redintegratio.

Recentemente publiquei um vídeo e um artigo sobre a licitude do uso de canções de autores que não estão em plena comunhão com a Igreja Católica, apresentando os devidos critérios.


É impressionante como fui chamado de progressista, de protestante e assim por diante! Graças a Deus, todos os argumentos eram muito frágeis e “ad hominem”, uma vez que apenas afirmei aquilo que a Igreja afirma.

O tradicionalismo na Renovação Carismática Católica também se manifesta na Liturgia. Já “cansei de ver” carismáticos menosprezando o missal de Paulo VI. Carismáticos que proíbem o que a Igreja não proíbe, que refutam o que a Igreja não refuta.

Por último, como fruto do “tradicionalismo de cueca” vivido pelos carismáticos – e digo “tradicionalismo de cueca” porque é inconcebível ser “lefebvriano” e “pentecostal católico” – vale a pena tocar a questão do moralismo doentio pregado por esta gente, que tem gerado danos psicológicos e desvios afetivos e sexuais vários. Eu poderia citar exemplos oriundos de Novas Comunidades, Fraternidades, Congregações de viés carismático e por aí vai, mas vou confiar na honestidade dos leitores, uma vez que os fatos são gritantes e falam por si sós.

Exortação Final

Renovação Carismática Católica, fite os seus olhos no cajado de Pedro! Seja fiel ao Magistério atual da Igreja, que interpreta as Escrituras e nos transmite a tradição (que é viva) no HOJE da Igreja. Sejamos aquilo que Deus quer de nós (é inconcebível um carismático antiecumênico). Guardemos a unidade do Espírito no vínculo da paz! Não contristemos ao Espírito Santo! Não extingamos ao Espírito Santo!



A VIRGEM MARIA NA BÍBLIA


Um vídeo do Pe. Fábio de Melo, retirado de seu contexto e mal interpretado, tem levado um imenso grupo de pessoas a supor que o Pe. Fabio considere como idolátrica a veneração prestada por nós católicos à Virgem Maria.
1) Considero que seja uma má interpretação do que o Padre disse.

2) Ofereço então, como resposta, uma pequena explicação, usando a Bíblia, de quem é a Virgem Maria para nós Católicos.

Trata-se de uma sequência de CINCO (5) Vídeos. 
O primeiro vídeo defende o método hermenêutico da tipologia bíblica - utilizada pelo próprio Jesus e os hagiógrafos do Novo Testamento - porque é com através desta leitura bíblica que encontramos as verdades da fé a respeito do papel da Virgem Maria na História da nossa salvação.
O Segundo vídeo falará, desde as Escrituras e do testemunho das primeiríssimas gerações cristãs, da Virgem Maria como a "Nova Eva", a Mãe do Novo Homem que nasceu do poder redentor de Cristo.

O Terceiro Vídeo falará, desde as Escrituras e do testemunho das primeiríssimas gerações cristãs, da Virgem Maria como a "Arca da Nova Aliança". Os dias do Messias chegaram... A arca reapareceu!

O quarto e o quinto vídeos falam da Virgem Maria como Mãe e Rainha do novo Reino Davídico. A instituição da "Gebirah", feita por Salomão, no Antigo Testamento, também encontra seu cumprimento nos tempos Messiânicos.  



1. A Virgem Maria na Bíblia: Como encontrar a Virgem Maria na Bíblia: Introdução




2. A Virgem Maria na Bíblia: Maria é a Nova Eva




3. A Virgem Maria na Bíblia: Maria é a Arca da Nova Aliança



4. A Virgem Maria na Bíblia: Mãe e Rainha - Parte I



5. A Virgem Maria na Bíblia: Mãe e Rainha - Parte II


quarta-feira, 22 de abril de 2015

A UNIÃO CIVIL HOMOSSEXUAL: O DEBATE


Amigos e amigas, tive o trabalho de recolher neste artigo um debate bastante enriquecedor entre um sacerdote católico e alguns debatedores a respeito da união civil homossexual. O debate se deu no perfil de facebook do sacerdote, portanto, conserva a característica espontânea e nem sempre concatenada que é própria dessas mídias sociais.

O que motivou este debate foi a declaração do Pe. Fábio de Melo a respeito do tema, feita em seu twitter.


Esse debate tocará assuntos muito importantes:

·        Relação entre Igreja e Estado;
·        Matrimônio e União Gay;
·        Adoção;
·        O significado da relação sexual;
·        Totalitarismo do Estado;
·        E outros assuntos.

O Debate é longo. Em negrito estarão as palavras do Sacerdote. Os demais debatedores serão reconhecidos tão somente pelas iniciais “K”, “R”, “D”, “A.R”, “M.C.”, etc. O principal debatedor é o Sacerdote e uma pessoa denominada apenas pela letra R (em negrito e sublinhado). Os demais debatedores terão suas letras iniciais colocadas em vermelho para que suas contribuições não passem desapercebidas.

A postagem do Sacerdote que iniciou o debate foi a seguinte:

Pe. Fábio de Melo sobre a união civil gay: "São situações que não nos competem. A questão só nos tocaria se viessem nos pedir o reconhecimento religioso e sacramental da união." Quer dizer que a Igreja deve calar em assuntos não especificamente ligados ao culto religioso? Como justiça social? Como aborto? Como guerra? Lamentável essa visão redutiva sobre o ser humano e a missão da Igreja.

É partir daqui que se inicia o debate. Não se assuste com o tamanho do mesmo. Quando você começar a ler... Não vai conseguir mais parar!

...

“K”: Complicado querer impor valores religiosos dessa forma, é o mesmo que querer impor a um católico que vive no Kuwait que ele se case com 3 mulheres... não cola! A Igreja também não tem que querer dar pitaco em tudo... que fale e que doutrine seus fiéis, que dê testemunho, mas o mundo e as pessoas são muito mais complexas e superiores a isso. E me impressiona tanto ver as palavras tão ácidas aqui dos que se dizem católicos falando mal de um sacerdote! Hipocrisia mandou um beijo pra vocês galera...

A Igreja não impõe nada, nem aos seus próprios fiéis, nem muito menos à sociedade. Não tem corpo de polícia para fazer isso, nem quer ter. Ela só exige o direito de se expressar, numa sociedade livre, sobre qualquer tema que quiser. Em segundo lugar, a natureza humana é um dado objetivo, não muda de acordo com os tempos, lugares, crenças ou descrenças. O matrimônio não é uma realidade religiosa, ele tem uma profundidade antropológica que transcende qualquer credo. E o propósito deste post não é apedrejar em bloco a figura ou o trabalho do padre Fábio, apenas comentar esse dado pontual. Essas premissas que ele colocou não só são contrárias ao pensamento da Igreja que ele representa, como também abrem a possibilidade de se posicionar da mesma forma omissa em outras questões graves. Também sou padre e também uso rede social para me expressar, como ele.

“D”: A "natureza humana" é um conceito muito debatido e até questionado, entre antropólogos, psicólogos, sociólogos, neurocientistas e filósofos. Ela muda, sim, ao longo do tempo e do espaço, influenciada por crenças e descrenças. Tanto que temos adeptos da monogamia e da poligamia, do politeísmo, do monoteísmo e do ateísmo... Já consideramos a escravidão aceitável, já consideramos inaceitável uma esposa ter sua própria profissão... Penso que, por uma questão de justiça e igualitarismo, os homossexuais, tão cidadãos quanto os demais, devem ter os mesmos direitos concedidos a todos, incluindo a união civil (chamá-la ou não de matrimônio é pura questão semântica) e a adoção. Pela mesma questão de justiça igualitária, tanto a Igreja Católica (ou qualquer outra), como instituição, quanto cada um de seus integrantes, têm o direito de manifestar suas opiniões sobre qualquer assunto.

“R”: Lúcido Pe. Fábio. Bem, talvez como líder religioso, sobre o aspecto doutrinário católico possa ter cometido um deslize, mas como cidadão foi acertado. O casamento é uma sociedade civil conjugal, não há razão para afastar este direito de duas pessoas apenas por possuírem o mesmo sexo. Como já aventado aqui: viva o Estado Democrático de Direito!

“D”, as variações que você apontou são culturais, não incidem na natureza humana considerada em si mesma. Quanto ao "igualitarismo", ele deve ser defendido em situações semelhantes ou equiparáveis, e aqui estamos diante de uma que é essencialmente diferente. O matrimônio parte de uma realidade que é a forma como nascem e crescem os animais do gênero e espécie "homo sapiens". Eles são fruto de uma gestação curta, porque do contrário não passariam pelo canal de uma bacia construída para a posição ereta. Essa gestação curta faz com que o filhote humano nasça com um nível de autonomia muitíssimo inferior ao dos demais filhotes de mamíferos ao nascerem (de fato só alcançará o mesmo nível depois de um ano após o nascimento), exigindo, portanto, cuidados intensivos que não podem ser gerenciados pela fêmea sem a ajuda de outros indivíduos. O filhote só chegará ao estágio físico adulto depois de 18 longos anos. Uma outra peculiaridade é que, ao contrário dos demais animais que nascem com a forma e o fundo do instinto, e com uma ligação estreita entre ambas, o bicho-homem nasce com o fundo, mas a forma lhe é dada pela cultura; essa é a razão das diferenças que encontramos na maneira de executar funções básicas como o comer, o comunicar-se, etc.

É em torno desse ser desprotegido, indeterminado e absolutamente necessitado da convivência da sua espécie para sua sobrevivência e humanização, que se forma e encontra seu sentido a família.

O ser humano, usando a razão, é capaz de perceber o vínculo do novo ser com os que lhe deram origem, e portanto, também a responsabilização que se deriva disso, ou seja, o direito de receber dos próprios genitores a necessária ajuda para a sobrevivência, crescimento e humanização. Para garantir essa responsabilização, os futuros genitores assumem um compromisso diante da comunidade. Garantirão a fidelidade de um ao outro, para que sempre seja identificável a origem e portanto a responsabilização de ambos sobre os filhos que virão. Garantirão também a estabilidade, para que esse vínculo não se desfaça de forma arbitrária, causando sérios danos e prejuízos a todos os envolvidos e também, em última instância à comunidade. Esse vínculo específico e bem delimitado é o que se chama "matrimônio".

Então, quando falamos do matrimônio, estamos falando de uma estrutura que dá origem a todo o universo do "humano" e que por sua vez se deriva da estrutura específica do ser humano. Toda e qualquer outra forma de vínculo e relacionamento entre seres humanos não é "matrimônio"; não se trata de mera questão semântica, porque há uma realidade objetivamente distinta por detrás da palavra.

A equiparação jurídica, por parte do Estado, das uniões civis ao matrimônio, extrapola completamente as competências do Estado, uma vez que tratar da mesma forma duas realidades diferentes é declarar que são iguais. Fazendo isso, o Estado opera uma redefinição arbitrária e abusiva do matrimônio, instituição que lhe é anterior e superior.

“R”: Padre, não quero polemizar mais o assunto e entrar em discussões de teoria do estado, competência legislativa e afins, já que o senhor como filósofo, teólogo, humanista e exemplar autodidata já tem amplo conhecimento desta matéria. Faço apenas a ingênua pergunta de qual é a razão que leva a Igreja Católica como instituição querer imiscuir-se nos assuntos da vida civil. Seria o afã de recuperar o "poder" de outrora? Qual é o prejuízo que os fiéis da Igreja católica vão ter com o casamento gay? Seria o prejuízo subjetivo de ter seus filhos supostamente escandalizados ao verem duas pessoas do mesmo sexo casadas civilmente? Para mim, honestamente, é tão simples como a Igreja recusar o sacramento do matrimônio aos gays, como já o faz e o fará para sempre.

Por uma ideologia filósofica ou crenças religiosas teremos que forçar os gays ao constrangimentos de buscar o amparo do judiciário? Humildemente não me parece razoável.

A Igreja não precisa se "imiscuir" nos assuntos da vida civil, porque faz parte dela. E é dever, não só da Igreja mas de qualquer outra instituição ou pessoa, ficar ao lado da verdade do ser humano e da justiça contra as arbitrariedades do poder político.

Gostaria de volver ao contrário a pergunta: por que o Estado quer legislar sobre um fato absolutamente privado como é o do relacionamento homoafetivo, um fato que não traz nenhuma consequência para a vida social como é a geração de filhos? Para contratos e testamentos entre pessoas privadas não existem desde sempre os instrumentos jurídicos apropriados? A troco de quê os casais gays têm que ter os mesmos incentivos fiscais que os cônjuges, se não dão a mesma contrapartida que é a geração e educação de uma prole?

E mais: qual o interesse do Estado em se apropriar do conceito de matrimônio e de família? Quem atribui um conceito pode retirá-lo a seu bel-prazer. Não se encontra aí exposta a velha raiz totalitária do Estado Moderno? Aquela que fazia o Fürher (com o perdão do argumento hitleriano) exclamar "eu é que decido quem é judeu e quem não é"?

“D”: Prezado Padre, já que mais acima o amigo gentilmente se dispôs a conceder, na sua página, liberdade de opinião ao demais, volto a abusar dela, enfatizando que minha discordância de suas colocações não implica de forma alguma desrespeito à sua pessoa.

Voltando então à “natureza humana” de tão difícil caracterização: o homossexualismo foi verificado em todas as culturas, e em todas as épocas (foi verificado até em animais). Não é, pois, cultural, mas biológico. Qualquer discriminação feita a um portador da inclinação homossexual, portanto, seria igual à discriminação feita ao portador de qualquer outra tendência biologicamente determinada (como a calvície, por exemplo)! Injusta e sem sentido.

O matrimônio não visa, necessariamente, à reprodução. Caso contrário, seria vedado aos estéreis, às mulheres pós-menopausa, aos submetidos à esterilização cirúrgica. Mesmo casais férteis eventualmente optam por não gerarem filhos, nunca, e isso não descaracteriza o matrimônio. (Refiro-me aqui sempre ao matrimônio civil, pois não conheço o Direito Canônico, nem pretendo opinar sobre os sacramentos cristãos). Por outro lado, sabemos que a reprodução humana ocorre também fora do matrimônio, coisa cada vez mais freqüente e aceita pela sociedade laica (e não vou fazer juízo de valores aqui, apenas constato um fato). Portanto, em nossa sociedade ocidental do século XXI, matrimônio, casamento, união civil, como quer que o chamemos, não está, de forma alguma, atrelado à reprodução.

A criança humana é extremamente dependente de cuidados, sim. Mas não necessariamente da mãe. Há crianças que cedo se tornam órfãs de mãe, e são criadas pelo pai e/ou por outros membros da família (coisa que nem necessito lembrar ao amigo). Assim como, por diversos motivos, há crianças criadas unicamente pela mãe, sem a presença paterna. Portanto, há famílias constituídas de formas diferentes. Algumas, inclusive, sem laços biológicos, com filhos adotados. Todas reconhecidas como famílias, tanto pela sociedade como pelo Estado. Que também reconhecem que maternidade e paternidade podem existir – e existem – fora do matrimônio, e continuam existindo quando o matrimônio se desfaz (e a dissolução do matrimônio, independentemente de juízos morais, é freqüente e legalmente aceita).

Portanto, a sociedade civil e laica não exige necessariamente um matrimônio para o estabelecimento de laços familiares, nem exige que o matrimônio necessariamente produza filhos. Não é o Estado que assim determina, é a sociedade ocidental do século XXI. O conceito que temos hoje de matrimônio difere do que tinham os nossos bisavós, porque tanto a sociedade quanto as instituições sociais mudam, com os tempos. Mas não deixa de ser matrimônio, mesmo que lhe proponham outra denominação.

E, uma vez que os casais homossexuais sempre existiram (a única diferença é que hoje já não têm tanto receio de se exporem), porque o Estado não deveria reconhecer tais uniões como casamentos, ou matrimônios? Porque não dão a “contrapartida que é a geração e educação de uma prole”? Sabemos que há casais heterossexuais que, por opção ou não, não geram filhos, e seu matrimônio é reconhecido pelo Estado e pela sociedade. Sabemos que, infelizmente, muitos casais heterossexuais geram filhos mas não os educam, impondo todo o ônus dessa educação à sociedade; mesmo assim seu matrimônio é reconhecido. Assim como atualmente a legislação de muitos países (incluindo o nosso) já permite a adoção por casais homossexuais, que, mesmo que não a tenham gerado, educarão sua prole adotiva.

Não será, no caso, a Igreja Católica (e outras tantas) que estão adotando a postura hitleriana (“eu decido o que é matrimônio e o que não é”)? Pois o Estado democrático representa a sociedade, e apenas oficializa o que a sociedade já reconhece.

Caro “D”, com muito carinho discordo das tuas afirmações. Nunca foi provada a condição biológica da inclinação homossexual. A alegada homossexualidade dos animais é mito, baseado em comportamentos aparentes que têm outras explicações já evidenciadas pela ciência. Mesmo que alguém, depois dos milhões gastos em vão na iniciativa, evidenciasse alguma origem biológica, não passaria de uma anomalia como várias que existem, pois a natureza não faz coisas inúteis e estamos falando aqui do âmbito da reprodução e seu instinto correlato.

O fato de que a homossexualidade é tão antiga quanto a humanidade, mas em nenhuma cultura foi jamais equiparada ao matrimônio, só confirma o meu argumento. As várias deturpações do matrimônio que apontou não tocam a raiz da instituição matrimonial, que existe independentemente de qualquer religião ou ideologia, pois é um vínculo antropológico insubstituível. Portanto, não compete à Igreja nem definir nem redefinir isso, e ela não o faz. A iniciativa dessa redefinição vem do Estado, e ainda por cima de maneira arbitrária e antidemocrática.

No caso de crianças que não possam ter atendido o seu direito a ser criadas por seu pai e sua mãe, deve se buscar o ambiente mais próximo disso, ou seja, um casal formado por uma mulher e um homem. A psicologia já demostrou em abundância o dano que advém a um ser humano quando essa necessidade não é atendida da forma adequada. E esse talvez seja o aspecto mais aterrador de todos esses atentados contra o matrimônio: o uso das crianças como cobaias em experimentos sociológicos, ideológicos e de engenharia social.

“D”: Se o homossexualismo ocorre em todas as culturas ao longo da História, parece claro que não é culturalmente determinado, mas biologicamente. A cultura, mais ou menos tolerante, apenas determina o grau de exposição da sua condição a que os homossexuais se permitirão.

O instinto sexual humano não está necessariamente relacionado à reprodução. A maioria das pessoas não está, na maioria das vezes em que faz sexo, interessada em reproduzir (a indústria de anticoncepcionais está aí para confirmar). Por outro lado, desde sempre crianças foram geradas fora do matrimônio (e novamente enfatizo que a constatação do fato não significa minha aprovação). Ou seja, matrimônio não implica necessariamente, como objetivo, a reprodução. Matrimônio é uma instituição que já teve como objetivo, inclusive, interesses políticos e econômicos (as históricas alianças dinásticas, por exemplo). Hoje, do meu ponto de vista um tanto romântico (e devo admitir que normalmente sou muito pouco romântico), o matrimônio baseia-se primordialmente numa relação afetiva, de companheirismo e amor. Que pode ou não gerar filhos, que pode ou não objetivar gerar filhos (não considero o casamente de uma pessoa estéril uma “deturpação”, tampouco me parece que a sociedade em geral o considere).

Portanto parece-me apenas justo que tal relação afetiva, quando ocorrer entre pessoas de mesmo sexo, seja equiparada à que ocorre entre pessoas de sexos diferentes. O Estado democrático, exatamente por ser democrático, representa a sociedade. Se estender o conceito de matrimônio, não estará impondo nada, apenas reconhecendo o que a sociedade já reconhece. Nossos legisladores não se tornaram legisladores de maneira arbitrária e antidemocrática – foram eleitos.

Quanto às crianças criadas por casais de mesmo sexo, ocorrerá com elas o mesmo que ocorreu com as crianças filhas de pais separados. Quando a sociedade discriminava os divorciados e as mães solteiras, seus filhos também sofriam com tal discriminação. À medida que tais situações se tornaram corriqueiras e aceitas pela sociedade, as crianças filhas de famílias “não-tradicionais” deixaram de apresentar os sinais de tal discriminação. A Psicologia já demonstrou que crianças em famílias bem estruturadas, mesmo que tais estruturas sejam “não-tradicionais”, são mais felizes que crianças criadas em instituições.

O instinto sexual é objetivamente ligado à reprodução, como o instinto de comer é ligado à nutrição. Isso não quer dizer que não há gente que coma por gula ou por qualquer outro motivo. O fato de existir bulimia não quer dizer que o ato de comer não tenha como finalidade a sobrevivência do indivíduo. Que na história e em todos os lugares possa ter havido gente com distúrbios alimentares ou com o vício da gula, isso não altera em nada as coisas.

“D”: Mas não são vedados aos gulosos e aos bulímicos o matrimônio ou qualquer outro ato que seja proporcionado aos não-gulosos e não-bulímicos!

Coloquei o tema da alimentação somente como comparação, para mostrar que a deturpação de uma finalidade objetiva não a cancela. E discuto muito a afirmação de que as crianças saem ilesas de divórcios e outras experimentações no campo da família.

“D”: Gastronomia não é exatamente deturpação, pode ser considerada um aprimoramento. Penso que o sexo por prazer também.

Bulimia não é gastronomia; me parece o contrário disso... A propósito, Bauman diz que a bulimia é a realidade mais emblemática da nossa sociedade líquida. A maneira como o sexo hoje é encarado no Ocidente é totalmente bulímica.

“D”: O divórcio não pode ser considerado uma "experimentação", pois não se trata de algo planejado. Acontece, o casamento já não se sustenta, o casal se separa. A sociedade já o aceitou. Como vai aceitando a equiparação da união homossexual.

Se as crianças saem ilesas, vai depender muito de COMO se deu a separação. Com freqüência, seria pior continuarem num lar baseado num matrimônio disfuncional.

Não sou, de modo algum, a favor da promiscuidade. Não é saudável para o corpo e acredito que nem para a mente. Mas a realidade é que a grande motivação para o sexo, na maioria das ocasiões em que é praticado, NÃO é a geração de filhos. É o prazer, a intimidade.

Concordo plenamente. Mas não vamos aqui confundir motivação subjetiva com estrutura objetiva do ato.

Os argumentos baseados nos costumes dos povos não definem grande coisa. O fato de uma sociedade se tornar tolerante com algo não diz nada da moralidade intrínseca das ações. Você mesmo deu um exemplo disso ao mencionar a escravidão. Governos fascistas de direita e esquerda foram eleitos pela maioria. Já foram tolerados e aprovados a luta de gladiadores, os sacrifícios humanos, um montão de barbaridades.

Quando o pensamento ecológico chegou no mundo, grande parte do dano à natureza já tinha sido feito. Temo que vai acontecer o mesmo quando a "ecologia humana" começar a ser discutida e levada a sério.

“D”: Meus filhos parecem felizes e saudáveis, são vivazes, comportados e vão bem na escola, apesar de sua mãe e eu não vivermos juntos. Falam muito mais do que eu, na idade deles (e meus pais eram bem casados!) ... Casos isolados são casos isolados, não podem ser tomados como um padrão.

É verdade que os costumes, só por serem costumes, não são necessariamente aprováveis à luz da Ética. O que torna, pois, algo imoral? Penso que é o prejuízo que possa trazer a outrem, ou à sociedade. A escravidão prejudicava os escravos, o fascismo, a liberdade social e individual. Que prejuízo causam os homossexuais, ao pleitearem apenas e tão somente a equiparação de direitos aos heterossexuais?

“M.C.”: “D”, as aparências enganam... você já perguntou a seus filhos como eles se sentem quanto à separação?

“D”: Não senti necessidade, visto que a encaram com naturalidade, e não vejo porque chamar a atenção deles para algo que já está consumado e não parece incomodá-los. Talvez tentar incutir na cabeça das crianças a noção de que um modelo familiar é "correto" e os outros não são é que as façam ver um problema onde não há nenhum.

O matrimônio é objeto de regulamentações e privilégios de parte do Estado porque contribui com a sociedade com a geração e educação de novos cidadãos. Uma união homoafetiva não contribui com nada, é apenas um fato da vida privada dos implicados. O Estado não tem que se meter na vida privada de ninguém, a não ser que envolva terceiros, como no caso do matrimônio.

Já mencionei que nem todo matrimônio gera filhos (ou mesmo objetiva gerá-los), e nem todos os casais se esforçam em educar seus filhos, e mesmo assim seus matrimônios são "regulamentados e privilegiados" pelo Estado. Também já mencionei que casais homossexuais estão legalmente aptos a adotar filhos e criá-los, contribuindo com a sociedade e tirando crianças de orfanatos, proporcionando-lhes uma família (ISSO já é aceito e regulamentado pelo Estado brasileiro!). Então, já que envolve terceiros (os filhos desses casais), porque não regulamentar tudo de uma vez? Não iria prejudicar ninguém, tirar direitos de ninguém. Apenas CONCEDERIA a uma parcela de casais o que já é concedido à maioria.

A não geração de prole é um fato acidental na instituição do matrimônio. Numa convivência homoafetiva é essencial. Depois, a adoção responde a um direito da criança, não a um desejo do adulto. Ao entregar crianças a casais homoafetivos o Estado as transforma em cobaias de experimentos sociológicos, negando seu direito de ter um pai e uma mãe e portanto ferindo a sua dignidade, não importa se elas vão ficar mais ou menos danificadas psicologicamente com isso.

“D”: Poder-se-iam postar inúmeros linques para estudos de "especialistas" que dizem o contrário. Fato é que as crianças adotadas pelo menos têm a oportunidade de integrarem uma família, mesmo que "não-convencional" (e a "convencionalidade" é algo que muda com as épocas e lugares), situação que é muito melhor (e mais natural) do que serem criadas em uma instituição. Afinal, embora todas as crianças em orfanatos sejam oriundas de uma cópula heterossexual, não há casais heterossexuais em número suficiente que desejem adotar a todas. A adoção por casais homossexuais é fato consumado pela nossa legislação, então por que a mesma legislação não pode, de uma vez, equiparar as uniões homo às hétero? É só o que se pede, uma formalização legal.

A situação da adoção é complexa; para um certo perfil de criança há muito mais casais querendo adotar que as crianças disponíveis. Mas essa é uma discussão que não vem ao caso. Estamos falando aqui do que é conforme aos direitos e à dignidade do ser humano. Um escravo bem tratado vive melhor que um empregado mal-pago. Isso não faz da escravidão uma situação mais conforme à dignidade humana do que o trabalho assalariado. Uma criança que o Estado entrega a um casal homoafetivo pode até viver melhor do que com um casal de homem e mulher; mas o fato é que o Estado a desrespeitou, lhe negou o direito de ter um pai e uma mãe. E repito, a família baseada no matrimônio entre homem e mulher não é uma mera convenção, ela deriva da própria natureza humana como já expliquei acima. Esses termos "matrimônio tradicional", "família convencional", já operam uma adjetivação que tem como pressuposto a inclusão de realidades que nada têm a ver com matrimônio e familia, que são essencialmente distintas.

“D”: No Brasil atual, pelo menos, não se legisla pela força, mas pelo diálogo entre parlamentares eleitos pela população, com o dever de representar essa população e legislar em seu favor (de TODA a população). O Estado não desrespeita uma criança que entrega a um casal homossexual; o acaso é que privou tal criança de pai, mãe e família; o Estado, na ausência de pai e mãe que a queiram, dá-lhe então dois pais ou duas mães, ainda assim uma família. Eu repito, então, minha pergunta: se a adoção por casais homossexuais já é fato consumado pela nossa legislação, então por que a mesma legislação não pode, de uma vez, equiparar as uniões homo às hétero?

Pela legislação vigente já se pode tudo no Brasil, inclusive casamento civil e adoção. Mas não estamos falando aqui da legislação vigente, e sim de temas de fundo. A lei não cria moral nem define ética; no máximo, quando é justa, é um reflexo delas.

“D”: Concordo que, em condições ideais, a Lei deve espelhar a Ética. Infelizmente, no Brasil, isso nem sempre ocorre, e a legislação sobre o matrimônio é um exemplo dessa discrepância: ainda não há completa equiparação entre as uniões homo e heteroafetivas. É só o que se pede; tal equiparação se propõe apenas a ampliar o conceito de matrimônio, sem prejuízo algum aos casais de sexos diferentes. Quanto aos padrões morais, eles mudam, e isso nem sempre é ruim (caso contrário, hoje não veríamos pelas ruas moças de saia curta, nem casais inter-raciais). Espero que num futuro bem próximo esse preconceito em relação ao "casamento guei" nos pareça tão absurdo quanto os que havia em relação à exposição das pernas femininas, ou às famílias multi-étnicas.

Bem, pessoal, acho que ficou clara aqui a minha posição, que é a mesma dos documentos da Igreja: não existe equiparação justa entre um fato que na sua estrutura intrínseca é de interesse social e outro que, também na sua estrutura intrínseca, é uma situação meramente privada. Atribuir equivalência a ambos é desestimar o real significado do primeiro. Isso é uma redução, não uma ampliação, do significado do matrimônio.

Queria deixar aqui uma reflexão de fundo. A meu ver estamos vivendo numa cultura maniqueísta, de separação radical entre espírito e matéria, entre corpo e alma. O corpo não é considerado como parte integrante e coessencial da personalidade humana, "epifania da pessoa". Ele foi degradado ao status de instrumento. Isso se verifica em tantos níveis que seria longo demais explicitar aqui, mas um dos campos da existência humana onde essa degradação é mais evidente é certamente o da sexualidade. O significado mais radical dela, que tem a ver com doação da pessoa, encontro, fecundidade, impulso para fora de si, para o outro, foi trocado por um significado autorreferencial, narcisista, masturbatório, marcado por um centramento infantil no próprio "eu". O corpo próprio e o do outro não são mais reconhecidos na integralidade da pessoa; deixam de ser "dom" para se tornarem instrumentos de uma satisfação centrada no próprio orgasmo. A relação sexual então deixa de ser propriamente relação, para se tornar "masturbação assistida". O emblema mais claro dessa sexualidade egocêntrica, narcisista, masturbatória e infantilizada é justamente a homoeroticidade, essa busca neurótica de um "eu" perdido, velado para o próprio indivíduo, pela instrumentalização do outro igual. A partir desse contexto se entende como fica obscurecida na nossa cultura toda a diferença entre um tipo e outro de relação, tão evidente em outros lugares e tempos. Para mim isso não significa nenhum progresso; vejo aí somente um sequestro da pessoa, aprisionada na infantilidade e na solidão justamente no aspecto do seu ser que mais a deveria conduzir para fora dela mesma.

“D”: A relação sexual humana não se reduz à reprodução. A própria Igreja Católica Romana, embora condene os contraceptivos químicos e físicos, tolera os métodos biológicos de anticoncepção, o que significa reconhecer que mesmo entre seus fiéis o ato sexual não-reprodutivo é apreciado e praticado. Ao adotarem uma vida em comum, e pleitearem que ela seja reconhecida como um matrimônio pleno, casais homossexuais demonstram NÃO estar adotando posturas egocêntricas e narcisistas. Pois um casamento, homo ou heterossexual, não é uma relação de cunho puramente sexual. Existem relacionamentos, homo ou heterossexuais, baseados puramente no desejo sexual - mas tais relacionamentos não se caracterizam como matrimônio. O matrimônio envolve sexo, sem dúvida, mas acima dele um afeto sincero e permanente, que leva seus membros a quererem compartilhar suas existências, não apenas na cama, mas em todos os momentos e situações, e por tempo indeterminado, freqüentemente envolvendo a geração e criação de filhos (eventualmente apenas a criação, caso dos casais, homo ou heterossexuais, que adotam prole). Doação e partilha, portanto, estão tão presentes na união homoafetiva como em qualquer outra.

Sim, a Igreja, ao contrário do que se pensa e propaga por aí, não diz que o sexo é "somente para fins de reprodução". Ela aprova as relações em períodos inférteis, como também para casais estéreis e idosos. Mas nenhum deles rompe com a complementariedade física natural entre o feminino e o masculino que encerram a abertura essencial à vida, embora acidentalmente sejam inférteis.

“D”: A complementariedade puramente afetiva independe de sexo (posso amar meus filhos, meu pai, meus amigos). Qual o problema em aceitar que a complementariedade física, associada à afetiva (amor conjugal) também independa?

Numa relação homossexual não existe complementariedade objetiva no nível físico.

“D”: Podes definir, digno amigo, o que, no contexto, se entende por "complementariedade objetiva"?

Macho e Fêmea.

“D”: Mas quem disse que uma relação físico-afetiva deve necessariamente ser entre macho e fêmea, uma vez que já estabelecemos que a finalidade reprodutiva não é essencial para caracterizar o matrimônio?

Pelo contrário, afirmei que o significado reprodutivo faz parte da essência do matrimônio, embora acidentalmente ela não se efetue cada vez que o casal tem relações. Um relacionamento homossexual é essencialmente infértil, não apenas acidentalmente.

“D”: Já mencionei anteriormente meu desconhecimento dos ensinamentos católicos, mas ouvi há não muito tempo alguém que aparentemente os conhece profundamente dizer que a Igreja não permite o casamento daqueles fisicamente inaptos ao coito, sendo a impotência sexual motivo válido para a anulação do casamento católico (corrige-me se eu estiver errado). Por outro lado, se a mesma Igreja permite o casamento pós-menopausa, entende-se que a própria Igreja Católica vê o ATO SEXUAL, e NÃO A REPRODUÇÃO, como essencial ao matrimônio.

Um casamento pós-menopausa é essencialmente aberto à vida, embora acidentalmente não o seja. Numa situação de impotência não há ato sexual, então não há abertura nenhuma à vida porque não se pode colocar o ato gerador de vida.

“D”: Os inférteis são tão incapazes de gerar filhos quanto os impotentes. Na verdade, mais, pois os recursos terapêuticos disponíveis são mais eficientes em relação à impotência do que à infertilidade.

Para a Igreja, um casamento celebrado mas não consumado pela relação sexual não é considerado nulo, é válido mas sujeito a dissolução. É o único caso de dissolução de matrimônio válido, chamado na lei canônica "matrimônio rato e não consumado".

“D”: Bem, ninguém pretende se meter nas práticas religiosas de qualquer igreja, então voltemos à "questão de fundo". Se estabelecemos que a reprodução é freqüente mas não necessária para definir o matrimônio (tanto civil quanto religioso), se estabelecemos que a união que os homossexuais pretendem que seja reconhecida como matrimônio envolve afeto, doação e partilha (entre o casal e entre este e eventuais filhos adotados), porque taxá-la de "egoísta e narcisista"? Egoísta e narcisista é aquele, independente de inclinação sexual, que opta pelo sexo avulso, por relacionamentos fugazes, pela promiscuidade. Quem se dispõe a constituir família através do vínculo conjugal não é infantil nem egocêntrico.

Ok, duas coisas: em primeiro lugar nego a tua primeira afirmação. Num casamento deve haver a abertura à vida sempre. Abertura à vida não quer dizer que tenha que resultar gravidez de todos e cada um dos atos sexuais; quer dizer simplesmente que se respeita o aspecto de fecundidade do sexo.

Em segundo lugar, a análise que coloquei diz respeito à dinâmica intrínseca da homossexualidade, não tanto a situações concretas. De fato, há uma parte do mundo gay que abomina a ideia de casamento homossexual pois é como uma submissão à caretice cristã e machista da instituição do matrimônio. Só 2% dos homossexuais masculinos e 4% dos femininos querem se "casar".

“D”: Admitamos que a estatística esteja correta: esses e essas que querem formalizar entre si um vínculo duradouro, estabelecer uma relação fundamentada não somente no sexo mas também no afeto, no compartilhamento de suas vidas e eventualmente na criação de filhos, estão sendo egoístas, infantis e narcisistas? Em tempo: não são apenas os cristãos e machistas que se casam!

Não coloquei essa adjetivação dessa forma, dirigida às pessoas mas ao fenômeno em si. Também não falei de egoísmo, mas egocentrismo que tem uma valoração diferente.

“D”: É verdade, troquei o termo, erro meu. Mas o "fenômeno" é praticado por pessoas, e a adjetivação acaba se estendendo a elas. A meu ver, de forma injusta, tanto em relação às pessoas, quanto à sua inclinação sexual. Há heterossexuais egocêntricos em seus relacionamentos eróticos, também, e não me parece que sejam poucos. Como toda generalização tende a ser injusta, considero mais correto se qualificar as pessoas, individualmente, e não a orientação sexual.

Falo aqui de uma estrutura injusta, inadequada em si mesma, na qual estão inseridas pessoas muitas vezes de boa vontade, às quais não cabe julgar. O fato de muitos heterossexuais também viverem o drama de uma sexualidade autorreferencial, narcisista e infantil eu mesmo já o apontei acima, e pensei que é justamente por ser uma situação tão generalizada que nossa cultura tem tanta dificuldade para captar a diferença essencial entre o matrimônio e uma união gay.

“D”: O que não entendo é por que insistir que a orientação homossexual é, em si, "injusta" e "inadequada". Algo que ocorre desde sempre, em todas as culturas, faz parte da natureza humana, e, se a ninguém prejudica, é tão digna quanto qualquer outra inclinação igualmente inofensiva. Reafirmo que aceitar o casamento de pessoas sabidamente inférteis como matrimônio e ainda assim vincular o conceito de união matrimonial à fertilidade do casal não é honesto (e com isso não pretendo, de forma alguma, te chamar de desonesto, apenas penso que estás te prendendo a uma definição que não é honesta).

Um casal infértil, quando se relaciona sexualmente, não está contradizendo a natureza fecunda do ato sexual; um casal homoafetivo sim. Não estou falando de meta ou intenção, estou falando do respeito pela natureza intrínseca do ato sexual que é ato de fecundação. Os outros significados, como união, amor, carinho, etc, devem se somar ao significado objetivo do ato como ato procriativo, sem negá-lo. Do contrário ele todo fica falseado desde a base.

“D”: Considerar a reprodução como a "natureza intrínseca" do ato sexual pode ser verdade no caso dos irracionais, mas a maioria dos humanos, na maioria das vezes em que copula, não visa gerar prole; provam-no a fabricação e consumo de contraceptivos, e a própria bênção da Igreja ao coito em período infértil. Por isso considero desonesta a proposição da fertilidade como pré-requisito para o estabelecimento da união matrimonial. Felizmente, fecundidade não é requisito para a definição laica de matrimônio.

“D”, de novo você confunde intenção subjetiva com significado objetivo. Comer: ato de nutrição (significado objetivo); compartilhar a mesa com amigos, saborear iguarias, provar novos sabores ou sabores conhecidos e apreciados (intenção subjetiva). Bulimia: buscar a intenção subjetiva, negando o significado objetivo.

“D”: O ato sexual humano NÃO tem, NECESSARIAMENTE, como significado objetivo, a reprodução. Desde o Egito faraônico (pelo menos) os casais utilizam métodos contraceptivos, o que prova que, com freqüência (com GRANDE freqüência), a cópula humana NÃO visa gerar prole, mas tão somente o prazer mútuo. E a própria Igreja Católica, ao aprovar os métodos biológicos de contracepção, admite que os casais podem estar buscando apenas a satisfação, e não a geração de prole, por meio do coito. Pois quem utiliza contraceptivos obviamente considera, naquele momento, a reprodução inconveniente! Atrelar sexo a reprodução é animalizar a humanidade.

Não é preciso atrelar sexo a reprodução; o sexo, biologicamente falando, é um ato de reprodução. Também não é preciso animalizar a humanidade, a humanidade já é animal, ainda que racional. A artificialidade está em desconectar o que está intrinsecamente unido; falando na linguagem da Igreja, se trata da desconexão entre aspecto "unitivo" e aspecto "procriativo", que na estrutura interna do ato sexual estão unidos. De novo, falo do que é "objetivo", ou seja, independente das intenções ou significados culturais que possam ser acrescentados.

“D”: Não é um tanto contraditório encarar o sexo como um ato puramente biológico quando convém, e apelar à "linguagem da Igreja" (uma criação cultural, não partilhada por todos) quando, igualmente, convém? Somos animais, é verdade, mas sei que és (mais do que) suficientemente inteligente para entender que o que quis dizer foi "atrelar sexo à reprodução é encarar o ser humano como um animal puramente instintivo". A maioria das cópulas humanas não visa o "aspecto procriativo", mas tão somente o "aspecto unitivo", e o prazer que este proporciona ao casal. É direito de cada casal, se assim o quiser, negar-se ao "aspecto procriativo", através do uso de métodos contraceptivos, estabelecendo, assim, um objetivo totalmente diferente para o seu ato sexual do que aquele que têm os irracionais, estes, sim, movidos pelo instinto de preservar a espécie.

“A. M.”: Grande exemplo do pensamento da Igreja de Cristo(católica) e o pensamento do mundo . O crente e o pagão, luz e trevas, santidade e pecado, moralidade e imoralidade, liberdade e libertinagem etc.

A linguagem é só uma maneira de descrever. É possível descrever a mesma coisa com outras palavras; de todos modos essas expressões "aspecto unitivo" e "aspecto procriativo" são expressões laicas, não são conceitos cultuais nem teológicos.

“D”, você continua sem entender a diferença entre intenção subjetiva e significado objetivo. Enquanto não captar isso vamos estar andando em círculos, você colocando as mesmas objeções e eu repetindo as respostas. Quando afirma que "a maioria das cópulas humanas não visa o aspecto procriativo mas tão somente o aspecto unitivo, o prazer", está falando de intenção subjetiva. Uma relação sexual tida com a intenção direta e explícita de procriar é substancialmente igual a uma tida com a intenção de mero prazer ou entretenimento. O significado objetivo é justamente o que não muda com a intenção.

Aliás, essa tua dissociação entre a dimensão animal, que você desestima, e a intenção inteligente, é um belíssimo exemplo do maniqueísmo da nossa cultura, o desprezo do corpo que mencionei na minha reflexão. Não há integração entre o substrato animal e a vontade humana. O corpo é instrumentalizado, usado como objeto. É justamente a homoeroticidade a manifestação mais evidente dessa desconexão.

“D”: Não desestimo a "dimensão animal", apenas declaro o que todos sabem: o ato sexual humano, na maioria das vezes em que é praticado, pela maioria das pessoas, não objetiva a fecundação, pelo contrário, a considera indesejável (e por isso utiliza os métodos contraceptivos). A vontade humana, nesses casos, é tão somente o prazer mútuo. Isso não inferioriza o ato, nem caracteriza desprezo pelo corpo, muito pelo contrário, pois é através da união física dos corpos, associada ao afeto, que se obtém o prazer da união conjugal.

Sim, como comer até estourar e vomitar tudo para continuar comendo pelo prazer da gula, como nos banquetes da Roma decadente. É tratar o próprio corpo (e o do outro, no caso do sexo) como objeto de prazer.

“D”: Não falo de promiscuidade. Promiscuidade é um atentado à saúde individual e coletiva, pelo risco de exposição e disseminação de doenças sexualmente contagiosas. Refiro-me ao sexo conjugal; casais estáveis se comportam conforme descrevi acima, buscando o prazer, o qual não é intrinsecamente ruim. Casais estáveis e responsáveis limitam-se a gerar apenas os filhos que podem criar de maneira digna, e isso não significa que terão apenas duas ou três cópulas ao longo do casamento. Podem perfeitamente ter vida sexual ativa durante a vida inteira, associada ao amor conjugal, sem excessos equivalentes à bulimia, mas também sem objetivar gerar (mais) filhos. Não vejo vício ou pecado aí, não vejo vício ou pecado em partilhar prazer de forma responsável.

Como já falei, "D", para se respeitar a natureza do sexo não é necessário que todos e cada um dos atos conjugais termine em gravidez. A Igreja também prega a paternidade responsável. Falar de "significado procriativo" não é isso.

“J”: O "D" ainda não entendeu o conceito de significado objetivo do sexo.

“D”: Qual o problema em encarar o ato sexual (conjugal, responsável, não promíscuo) como APENAS uma forma de obter (e partilhar, já que praticado a dois) prazer? Ouço música apenas pelo prazer de ouvi-la, posso ler um livro apenas pelo prazer de lê-lo, jogo xadrez apenas pelo prazer que o jogo me proporciona. Ninguém vê vício ou pecado em obter prazer nesses casos. Por que com o ato sexual teria de ser diferente? Qual o problema em vê-lo apenas como uma forma de obter e PROPORCIONAR prazer (de forma responsável e não promiscua)?

Quem atribui um objetivo ao ato sexual são os praticantes deste ato, “J”. Se quiserem gerar prole, será a geração de prole, se quiserem apenas o prazer físico e afetivo proporcionado pelo coito, será esse o significado objetivo da SUA relação sexual. É ato íntimo, privado, terceiros não têm que lhe atribuir significados que só competem aos dois envolvidos.

“J”: É isso que você não entendeu, "D". O sexo, por natureza, está direcionado à procriação, mesmo que acidentalmente não ocorra. O objetivo que os parceiros atribuem é o que o padre chamou de 'intenção'. Há um significado inerente ao ato independentemente da intenções ('objetivos atribuídos pelos praticantes'). É esse conceito que está faltando para que você compreenda a posição do padre. Ele ilustrou isso muito bem no exemplo da alimentação.

Não tem nada de imoral buscar o prazer na vida conjugal, o próprio catecismo católico diz isso. Faz parte da dinâmica natural e humana do ato sexual. A Igreja, quando diz que os atos conjugais devem estar "abertos à vida", não quer dizer que a intenção deles seja sempre e somente a de procriar. Quer dizer que eles o acolham como ele é na sua estrutura de ato procriador, também com seus períodos férteis e inférteis. Quanto aos filhos, estejam dispostos a acolher os que puderem ter, dadas as circunstâncias de cada um.

“D”: É falacioso comparar ato sexual com alimentação. Alimentar-se, respirar, excretar, são atos necessários à sobrevivência. Fazer sexo e reproduzir não. O ato sexual humano é optativo, e por ser optativo, escolhe-se não apenas SE será praticado, mas com quem, quando, onde e COM QUE OBJETIVO - reprodutivo, sensual, ou ambos. E determinar esse objetivo cabe apenas aos envolvidos!

Alimentar-se e fazer sexo podem ser comparados no sentido que ambos têm um significado intrínseco e objetivo. Falar de significado é ligeiramente diferente de falar de finalidade; se liga mais ao "por quê" que ao "para quê".

“D”: Por que as pessoas fazem sexo? Às vezes porque querem gerar um filho. Na maior parte das ocasiões, simplesmente porque querem desfrutar do prazer da união carnal.
Para que as pessoas fazem sexo? Às vezes para gerar um filho. Na maior parte das ocasiões, simplesmente para desfrutar do prazer da união carnal.

"Por que" e "para quê", no contexto, são expressões equivalentes. Contorcionismos retóricos e semânticos não anulam o fato de que o ato sexual é uma experiência íntima, privada, que só diz respeito aos envolvidos, e que ninguém, exceto o casal, tem o direito de determinar o "significado" ou o objetivo deste ato. Cada casal determinará, em cada ato sexual que partilharem, o "significado" e objetivo que bem entenderem.

É um atentado à liberdade individual pretender legislar sobre algo tão íntimo, atribuir valores que só os diretamente envolvidos podem atribuir. (Obviamente não estou me referindo a estupro, pedofilia e outras aberrações criminosas, mas ao sexo consensual e responsável.) Tanto como é um atentado à liberdade individual e conjugal atrelar o matrimônio à obrigação, e mesmo à simples capacidade, de gerar prole.

É aqui que empacamos. Você afirma que o único significado que conta é o subjetivo, que cada um tem o direito de determinar a seu bel-prazer. Acontece que fazendo isso com o sexo se instrumentaliza a pessoa, e toda e qualquer instrumentalização do ser humano é imoral, segundo a ética universal, não somente religiosa...

“D”: Eu gostaria de saber QUEM determinou QUAL é a ética "universal" que condena uma prática CONSENSUAL universal (pois ocorre em todas as épocas e lugares), e o que significa, exatamente, alguém instrumentalizar a si mesmo, mas voltemos à questão pragmática que originou este longo debate, já há quase uma semana.

Em uma postagem anterior, afirmaste que a equiparação jurídica, por parte do Estado, das uniões civis ao matrimônio, extrapola completamente as competências do Estado”, e depois pretendeste impor “significados” e objetivos à conjunção carnal. Há aqui um equívoco e uma incoerência.

O ato sexual é uma experiência íntima e privada, que só diz respeito ao casal praticante. Nem o Estado, nem qualquer religião (pelo menos, não aos que não são seus seguidores), nem ninguém, têm o direito de impor “significados” ou objetivos ao que o casal faz de forma consensual e responsável entre quatro paredes. Isso seria intervenção na vida particular do casal.

Por outro lado, o matrimônio (mesmo que com outro nome, união estável ou qualquer outro) NÃO é uma experiência íntima e privada. É a oficialização e reconhecimento público de uma relação conjugal livremente assumida, oficializada e reconhecida a pedido do casal (que solicita um registro público, uma cerimônia religiosa, ou equivalente). Por isso é, sim, competência estatal. Ninguém precisa prestar contas, a qualquer suposta autoridade, da sua vida sexual (a qual pode, inclusive, existir fora de qualquer relação conjugal). Mas ao pleitear a equiparação das uniões homo e heteroafetivas, os homossexuais querem o reconhecimento ESTATAL da sua condição de cônjuges, com os direitos legais inerentes a essa condição (direitos de herança, de ter o cônjuge como dependente perante a previdência social, a receita federal, a planos de saúde, a clubes sociais, etc).

E uma vez que o Estado brasileiro não impõe a fecundidade como condição para o matrimônio civil heterossexual, não há razão para impô-lo à união homoafetiva.

Ok. Em primeiro lugar, sobre a tal ética universal, que não precisa ser determinada por ninguém, apenas reconhecida. Não foi Newton quem inventou a gravidade. A formulação mais conhecida é a kantiana: o ser humano nunca é meio, sempre um fim em si mesmo. Depois, não é necessário impor nenhum significado ao sexo, ele já vem com um embutido na própria estrutura. Esse é o ponto que não compreendeste até agora.

“D”: Se o ser humano nunca é meio, não pode nem deve ser encarado como mero meio de propagar a espécie, mas como indivíduo que determina seus próprios objetivos e práticas.

Em terceiro lugar, a expectativa dos casais homoafetivos de que o Estado os reconheça como cônjuges é injusta, porque eles objetivamente não o são. Possuem uma relação sentimental de natureza privada que não cabe ao Estado reconhecer porque não é de interesse público. Nenhuma criança vai nascer de um casal dessa índole, gerando obrigações e incentivos estatais. "Ah, mas a adoção..." a adoção existe no interesse da criança, não de nenhum adulto. E nenhum casal tem obrigação de adotar, isso sim que seria injusto com o casal e com a criança. Outras questões contratuais que dizem respeito à livre vontade dos cidadãos podem ser celebradas e reguladas com outros instrumentos.

“D”: O matrimônio não exige nenhuma contrapartida do casal ao Estado. O Estado não exige prole nem fertilidade dos casais heterossexuais para reconhecê-lo como casal. Por coerência, não pode exigi-lo dos homossexuais.

Dizer que o matrimônio é estruturalmente de interesse público por ser uma relação de natureza fecunda é diferente de dizer que o Estado tem que exigir o que quer que seja dele. Não é o matrimônio e a família que estão a serviço do Estado, é o Estado que está a serviço do matrimônio e da família.

“A. R.”: Acho que me perdi nesse longo debate. Que direito ou beneficio esta faltando para os homoafetivos e que viria com a regulamentação do matrimonio, e que ja não esteja previsto ou disponível atualmente ?

“D”: O Estado está a serviço dos casais que solicitam o reconhecimento oficial da sua união. O matrimônio não é imposto pelo Estado, é celebrado pelos casais e reconhecido, a pedido destes, pelo Estado. Sem que qualquer contrapartida seja exigida. Se vale para uns, deve valer para todos. O reconhecimento, pelo Estado, da união conjugal interessa unicamente ao casal reconhecido como tal, e não precisa ter “interesse público”.

Considere-se, por exemplo, a questão da herança. Se um casal constitui um patrimônio conjuntamente, ao longo de uma vida em comum, é justo que, na falta de um dos cônjuges, o outro herde tal patrimônio. Porém a legislação brasileira impõe uma hierarquia aos herdeiros. Se não há cônjuge reconhecido pelo Estado, a herança cabe aos descendentes, aos ascendentes, aos colaterais... Ora, se havia um cônjuge de facto, que possivelmente contribuiu financeiramente para a aquisição do patrimônio, é injusto que seja preterido em relação a ascendentes e colaterais. Poder-se-ia criar uma legislação própria para tais casos, com instrumentos contratuais específicos? Sim, mas por quê? Conheces melhor que eu o funcionamento das instituições jurídicas e a mentalidade dos juristas. Abriria brechas para se evocarem precedências e hierarquias de leis, desigualdades legais, etc., questionando direitos, protelando a questão, infernizando a vida dos envolvidos e, eventualmente, levando a injustiças. Tão mais simples reconhecê-los como cônjuges! Ficariam em pé de igualdade com quaisquer outros cônjuges, independentemente de orientação sexual (que é coisa, aí sim, em que o Estado não deve se meter).

Alguém aqui disse que o ser humano é um meio de propagação da espécie? Acho que ninguém. A Igreja não ensina nem nunca ensinou isso. Do contrário não haveria celibatários nela...

“D”: Pois então não se deve incutir necessidade de fecundidade em nenhum de seus atos.

Outra e outra vez repito: não se incute nenhuma necessidade, o sexo é um ato que possui significado procriativo intrínseco. Uma pessoa que respira não precisa mandar que seus pulmões se encham de ar, pois respirar é isso.

“D”: Ninguém escolhe respirar, é ato inconsciente e necessário à sobrevivência. A cópula é voluntária e opcional. E não cabe a ninguém, exceto ao casal que a pratica, impor "significados" e objetivos a este ato íntimo e particular.

Você toma os termos de comparação pelo lado errado. Não estou falando de voluntariedade e sim de estrutura. Então, por alegadas questões de praticidade, o Estado se apropria de um conceito e de uma instituição que é anterior e superior a ele? Isso não é justo. O Estado reconheça seu lugar e não me venha redefinir o que é ser humano, o que é vida, o que é família. É apropriação indevida. Aliás, com estamos assistindo ultimamente...

“D”: Cabe ao Estado, a pedido da sociedade, adequar conceitos e instituições de acordo com as necessidades, para melhor servir a essa própria sociedade e aos indivíduos que a compõem.

Negar a realidade e impor essa negação por via do poder político não é serviço nenhum, é um enorme desserviço e um abuso de poder intolerável.

“A. R.”: "D", quais suas considerações sobre o seguinte exemplo: 5 homoafetivos decidem que querem se unir em matrimonio e formar uma família de 5 componentes.

Diante da escassez do tomate, o Governo decide declarar que a partir de agora, chuchu e tomate são a mesma coisa. E quem se recusar a comprar o chuchu "tomatizado" será preso por "chuchofobia".

“D”: “A. R.” , tal união múltipla não é reconhecida, de forma alguma, como matrimônio legal, por nossa sociedade nem pelo Estado brasileiro. Se não o é para heterossexuais, não deve ser para homossexuais. A lei deve ser igual para todos.

Que falacioso! O Estado não decidiu, por conta própria, oficializar o matrimônio homoafetivo. A sociedade o solicita; cabe ao Estado democrático responder aos anseios da sociedade que o constitui.

“A.R.”: "D", mas o que impede que ela seja reconhecida como uma união aceitável ?

“D”: A aceitação da sociedade. Há sociedades que aceitam a poligamia. Eu, pessoalmente, não tenho nada contra. Mas o casamento poligâmico não é tolerado, pelo menos por ora, em nossa sociedade. Se algum dia vier a valer para uns, deverá valer para todos.

Mesmo que toda a sociedade estivesse clamando por isso (e não é assim, pois no Brasil a maioria é contra), o fato é que nem o Estado nem a sociedade têm poder de mudar a realidade.

“D”: Em se tratando de estruturas sociais e legislativas, padre, a sociedade estabelece a realidade.

“A. R.”, já houve um caso no Brasil de oficialização de união civil de três pessoas. O que mostra que nosso debate aqui é puramente teórico, porque na prática o Estado já trata o tema de forma arbitrária e totalitária.

“E.Q.”: Já houve uma união civil entre três pessoas no Brasil: http://g1.globo.com/.../uniao-estavel-entre-tres-pessoas...

“D”: Na democracia não é necessário que TODA a sociedade queira algo para que se torne legal. Basta que a maioria queira. Se a maioria da sociedade é contra ou a favor, saberemos através dos seus representantes legais, os parlamentares.

“D”, isso que você afirma, "em se tratando de estruturas sociais e legislativas, a sociedade estabelece a realidade" é perigosíssimo. Abre a porta para qualquer arbitrariedade. Justifica por exemplo a instituição da escravidão.

“A.R.”: Dentro deste raciocinio, o que impede que em breve tenhamos matrimonio com cabritas ?

O povo alemão, por meio do seu representante eleito democraticamente, decretou que judeu não era ser humano.

“D”: Hitler foi eleito democraticamente, mas depois se fez ditador. Quando decretou as regras anti-semitas já era um déspota, não ouvia mais a população. Conduzia-a.

"Primum non nocere" é um bom princípio para se evitar arbitrariedades. "Não faças aos outros o que não queres para ti". Se não desejamos ser escravos, não devemos escravizar. Por outro lado, a Regra de Ouro, que é formulada na negativa, em sua versão positiva poderia ser "se a ninguém prejudica, faze o que quiseres". O matrimônio homoafetivo não prejudica a ninguém, apenas iguala os direitos de homo e heterossexuais.

Então se o povo alemão tivesse declarado que judeu não é ser humano por meio de plebiscito, isso passaria a ser realidade?

“D”: Não conhecia esse caso de união tríplice. Inusitado, talvez até arbitrário (pois não previsto na legislação), mas certamente não "totalitário". O totalitarismo é uma imposição estatal; no caso, o Estado atendeu ao clamor de três indivíduos, não impôs nada.

Passaria a ser legal. Não moral, pois estaria estabelecendo uma desigualdade entre iguais (seres humanos).

Como já vimos que em questões morais, pelo menos em relação ao assunto em pauta, não concordaremos nunca, voltei à questão pragmática, de cunho estritamente legal, que deu origem a este prolongado debate.

E justamente por estar se prolongando demais, te agradeço de coração pela enorme paciência que estás tendo comigo, sem qualquer obrigação de tê-la, pois eu é que me meti a expressar minhas opiniões na TUA página. Reafirmo que nossas divergências no campo das idéias não diminuem em nada o respeito e estima que tenho por ti.

A estima é recíproca, caro amigo. E para mim é um grande prazer nos comunicarmos tendo esta bela conversa depois de tanto tempo.