sábado, 2 de maio de 2015

A CNBB E DOM ODILO SCHERER




Diante dos atuais eventos envolvendo a CNBB, o Cardeal de São Paulo - Dom Odilo Scherer - e uma linha tradicionalista que vem avançando em influência nestes últimos anos, acho que este artigo vem em boa hora. Eu bem sei que minhas palavras não receberão boa acolhida por parte de muita gente; contudo, acho que elas são dignas de serem escritas.

A Colegialidade dos Bispos da Igreja Católica no Brasil de fato não interfere, minimiza ou substitui a autoridade que cada “epíscopo” tem sobre a sua Igreja Local, nós bem o sabemos. Tão pouco o CELAM o faz. Mas nós bem sabemos, por outro lado, que a Unidade dos seguidores de Cristo é mandato do Senhor: “Que todos sejam UM para que o Mundo creia” (cf. Jo 17). As diversas conferências e suas regionais existem para coordenador ações que promovem a unidade de toda a Igreja no Brasil, que sempre será CATÓLICA, Universal, mas que se desenvolve num determinado local. Embora saibamos que a CNBB não é um organismo de GOVERNO, mas de SERVIÇO, e que existe para gerar comunhão entre as diversas igrejas locais que conformam a presença da Santa Igreja no Brasil, nós sabemos que o SERVIÇO no Cristianismo é a única forma legítima de exercer o sadio governo de cordeiros e de ovelhas, de modo que a importância da CNBB na Igreja fica ainda mais em evidência.

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, portanto, existe para fomentar a comunhão entre os Bispos e, no diálogo, aprofundar o afeto colegial garantindo maior unidade no processo de evangelização, conforme os desafios do momento presente. Para esta missão, ela cria assessorias, chama para junto de si peritos, e busca oferecer este serviço a todos os Bispos no País.

Esta Conferência existe desde 1952 e sempre foi respeitada pelos Sumos Pontífices, que a legitimaram como organismo de serviço e de comunhão. Por favor, leve tudo isto em conta para continuar lendo a exposição que se seguirá!

A Teologia da Libertação encontrou no Brasil um solo extremamente fértil para ser plantada e fecundada: Um País pobre, imerso em corrupção, com um grande número de pessoas vivendo abaixo da linha da pobreza. Sob a noção cultural de “caridade” que a Igreja Católica plantou na civilização ocidental, muitos dos nossos líderes encontraram razão para engrossarem as fileiras da Teologia da Libertação, que buscava nas Sagradas Escrituras a sua fundamentação. A hermenêutica limitada a apenas UM dos vários métodos de interpretação – o histórico-crítico – inoculada pela Filosofia de Karl Marx, foi esvaziando alguns termos bíblicos de seu significado original e conferindo a eles um “novo significado” (algo muito próprio dos pensadores marxistas da época, que resumiram a Filosofia à “Linguagem”). Termos como “Reino”, “o próximo”, “o pobre” e assim por diante, ganharam novo significado. O “reino” se tornou algo “imanentizado”, bem expresso numa sociedade sem classes; “o próximo” e “o pobre” era o proletariado – a primeira bandeira dos “marxistas” – e agora são as chamadas “minorias”. Enfim, é por aí...

A realidade de miséria do nosso país e o mandato do Senhor, que disse aos seus discípulos “dai-lhes vós mesmos de comer”, justifica – embora não legitime – que a Teologia da Libertação tivesse tão grande número de adeptos no nosso episcopado. Negar isto não seria honesto, eu repito.

E esta influência “libertadora” já cessou? Ela já se arrefeceu muito, com o advento da nova geração de Bispos formados numa época na qual as Comunidades Eclesiais de Base já demonstravam não ser “tudo aquilo que se pensava anteriormente”. Nossos Bispos hoje falam da Paróquia enquanto “Comunidade de Comunidades”, respeitando os diversos carismas que o Espírito Santo não cessa de suscitar na Igreja, bem como outras questões sociais importantes. Mas é fato que o pensamento de Marx ainda é norteador na América Latina e é fato, também, que isto segue interferindo na vida da Igreja.

Agora, meus amigos e amigas, como bons católicos que somos, nós precisamos revisitar tudo o que foi exposto aqui até agora para seguir adiante:

·        A CNBB é uma instância de serviço e comunhão entre todos os Bispos da Igreja Católica no Brasil, uma instância respeitada e reconhecida pelos Sumos Pontífices desde seu início.
·        A CNBB, como fruto do que aconteceu na História da Igreja no Brasil, ainda é inegavelmente perpassada por membros (alguns Bispos, Assessores e Peritos) que bebem da filosofia marxista, de modo que em alguns de seus pareceres nós percebemos a influência do modo de pensar próprio da Teologia da Libertação.
·        Embora a CNBB não interfira, substitua ou anule a autoridade de cada Bispo em sua Igreja Local, o mandato da unidade faz com que cada Bispo no Brasil sempre queira acatar as diretrizes que, da CNBB, chegam (e não o fazem porque, se não acatarem, não estariam em unidade... trata-se, mais bem, do desejo de cada bispo em salvaguardar esta colegialidade dos Bispos do Brasil).

Como lidar com estes dados acima?

Com sabedoria!

Olavo de Carvalho (em O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota) fala sobre a dissonância cognitiva – um instrumento de dominação de massas muito utilizado na cultura que nos cerca. Segundo Olavo, a dissonância cognitiva consiste na apresentação e defesa de princípios totalmente contraditórios entre si, deixando a massa em estado de desorientação, aguardando uma voz de comando, seja qual for este comando.

O cidadão angustiado reage por uma espécie de colapso intelectual, tornando-se um boboca servil que já não sabe orientar-se a si mesmo e implora por uma voz de comando. O comando pode ser oco e sem sentido, como por exemplo change!, mas, quando vem, soa sempre como um alívio (Armas da Liberdade, publicado no Diário do Comércio em 17 de dezembro de 2009).

Na sequência, no artigo intitulado A Demolição das Consciências, publicado em 21 de dezembro de 2009 no Diário do Comércio, Olavo continua:

Quem tenha compreendido bem meu artigo "Armas da Liberdade", deve ter percebido também a conclusão implícita a que ele conduz incontornavelmente: boa parte do esforço moralizante despendido pela "direita religiosa" para sanear uma sociedade corrupta é inútil, já que termina sendo facilmente absorvida pela máquina da "dissonância cognitiva" e usada como instrumento de perdição geral.

Desde que o Padre Paulo Ricardo apresentou a Olavo de Carvalho em suas aulas, eu comprei livros, li artigos e acompanhei diversas exposições do professor disponíveis na internet. É impossível não reconhecer nele a mais pura e legítima filosofia clássica. Quanto a questão da “arrogância”, da “soberba”, da “petulância”, e dos adjetivos “fascista” e coisas do gênero... Considero-os como argumentos ad hominem. Não há neles contraposição de ideias... Apenas ofensas no campo subjetivo (que competem ao Professor responder, e não a mim).

O primeiro grande ponto que me fez ficar “com o pé atrás” em relação ao Olavo tem a ver com a questão do Liberalismo Econômico. Olavo expõe claramente que a Doutrina Social da Igreja – neste quesito – deixou-se influenciar pelo Comunismo. Contudo, esta mesma Doutrina Social nunca foi corrigida pelos sucessores de Leão XIII.. Sob o pontificado de São João Paulo II se elaborou o Compêndio da Doutrina Social da Igreja; acredito que poucos entenderam de fato o comunismo como Karol Wojtila. Eu acredito verdadeiramente que a Doutrina Social da Igreja Católica não errou ao se opor à muitas práticas do capitalismo que ferem a dignidade da pessoa humana e subvertem a hierarquia de valores que nós deveríamos ter como seres humanos.

Então... Tenho minhas discordâncias, mas sigo sendo leitor assíduo de Olavo de Carvalho. Examino tudo, retenho o que é bom. Não sou “vaquinha de presépio” e não tenho a “Olavo de Carvalho” como sendo “o verdadeiro magistério da Igreja”, como o fazem muitos de seus alunos e seguidores. O magistério da Igreja está com “Pedro”. Somente acho que os opositores sérios deveriam debater suas ideias ao invés de criticarem o autor de modo tão evasivo.

Eu acredito que Olavo de Carvalho e muitos dos seus seguidores precisam reler aquilo que eles mesmos já escreveram sobre "dissonância cognitiva”, posto que ELES MESMOS têm alimentado essa máquina de confusão e de perdição geral. Diante de tantas vozes sendo “gritadas”, você pode ter certeza, amigo e amiga, de que não é a voz da tradição – infelizmente – a que será ouvida por último – como bem atesta o próprio Olavo nos dois artigos citados acima.

Nesta questão específica da Reforma Política, milhares de pessoas que poderiam ouvir uma opinião sensata e fundamentada da parte do próprio Olavo e de pessoas com um pensamento “afim” ao dele... Já não o farão, e tudo o que eles disserem agora só alimentará mais a fornalha da dissonância cognitiva. Ao denegrir a CNBB, bem como a pessoa do Cardeal Scherer, minimizaram a possibilidade de que seu discurso viesse a influenciar de algum modo a vida da Igreja. 

Como, então, abordar temas difíceis sem alimentar a dissonância cognitiva quando o assunto remete à Igreja no Brasil?

Alguns princípios básicos:

·        Nós estamos, agora, diante da questão da Reforma Política. Como um bom Católico deve se pronunciar, se deseja contrapor-se a esta reforma? Ele deve agir assim: Toma-se em mãos o projeto, extraindo suas ideias; em seguida, faz-se a exposição daquilo que está escrito e se “disseca” a ideia (citando as fontes que originaram essa ideia, mostrando onde essa ideia quer chegar, os pressupostos que ela abre, etc.). Por último, faz-se a contraposição desta ideia. Em resumo: Deve-se contrapor ideias e não PESSOAS. Deve-se combater ideias, expondo-as e contrapondo-as.
·        Denegrir a imagem da CNBB ou a imagem do Cardeal Dom Odilo Scherer não é a posição que um verdadeiro católico deve tomar. Eu não preciso concordar com a CNBB em tudo! Eu não preciso me calar quanto a minha discordância com a CNBB, se eu tiver alguma! Mas eu preciso SIM, como bom Católico, apresentar a minha discordância com suavidade e respeito – e isto é bíblico (1 Pe 3, 15). Portanto, eu posso fazer a exposição de uma ideia e fundamentá-la, mesmo que a mesma não seja a opinião oficial da CNBB. Eu posso fazer isto sem sequer mencionar a CNBB no meu discurso. Eu acredito que nem mesmo a CNBB deseja ser uma “mordaça” do livre pensamento, e estes pronunciamentos da CNBB não possuem um caráter “ex-cathedra” para que não possam ser contrariados de alguma forma; mas eu não posso ferir a comunhão, denegrir um organismo legitimamente constituído como gerador de unidade e comunhão entre os Bispos da minha Igreja no meu país.
·        Como não recordar ao grande São Pio de Pieltrecina que, mesmo sendo prejudicado por alguns membros da hierarquia da Igreja, não permitia aos seus amigos que a denegrissem? Eu repito: Com isto, não digo que tenhamos que acatar tudo de modo passivo; apenas digo que até mesmo a nossa discordância deve ser imbuída do devido respeito aos nossos Pastores.

O próprio Pe. Paulo Ricardo de Azevedo Junior, que todos sabem ser aluno do Prof. Olavo de Carvalho, jamais fez um único pronunciamento chamando a CNBB de herege, ou coisas deste gênero. Em uma série de ocasiões, o Padre Paulo discordou da posição oficial, mas nunca “diminuiu” ou “minimizou” a importância do organismo para a Igreja no Brasil, embora seus alunos / seguidores SIM o façam, citando colocações do Padre – arrancadas de seu contexto original – e fazendo-o parecer um ultra-tradicionalista (coisa que ele não é).

Fica aqui a minha contribuição aos meus amigos e amigas. Combatamos ideias ao invés de pessoas. Vamos edificar a Igreja sob o princípio da Verdade na Caridade, guardando a unidade do Espírito pelo vínculo da Paz:  Denegrir a CNBB, “minar” a sua importância ou investir contra a pessoa do Cardeal Dom Odilo Scherer é algo que fica fora de cogitação quando se vive estes princípios!