Vocês, o povo de Deus, o povo da Renovação
Carismática, tenham cuidado para não perder a liberdade que o Espírito Santo
vos deu!
O perigo para a Renovação, como costuma
dizer sempre o nosso querido padre Raniero Cantalamessa, é a organização
excessiva: o perigo de organização excessiva.
Sim, vocês precisam de organização, mas não
percam a graça de deixar Deus ser Deus! “No entanto, não há maior liberdade do
que deixar-se guiar pelo Espírito, renunciando a calcular e controlar tudo, e
permitir que Ele nos ilumine, nos guie, nos oriente, nos impulsione para onde
Ele quer. Ele sabe o que é necessário em todas as épocas e em todos os momentos.
Isso significa ser misteriosamente fecundo!” (Exortação Evangelii Gaudium,
280).
Um outro perigo é o de tornarem-se
“controladores” da graça de Deus. Muitas vezes, os responsáveis (eu gosto mais
do nome de “servos”) de algum grupo ou algumas comunidades tornam-se, talvez
inconscientemente, os administradores da graça, decidindo quem pode receber a
oração da efusão no Espírito e quem não pode. Se alguém faz assim, por favor,
não façam mais isso, não faça mais isso! Vocês são dispensadores da graça de
Deus, e não controladores! Não imponham uma alfândega ao Espírito Santo!
Papa Francisco, 01 de junho de 2014
Introdução
Eu não tenho dúvidas de que os
líderes da Renovação Carismática Católica aqui no Brasil não estão nenhum pouco
surdos às palavras do Papa Francisco.
Por onde olho, vejo irmãos mencionando o discurso do Papa dentro da RCC, o que
muito me alegra. Somos um povo obediente à Igreja. Crendo nisto, não faço este
artigo num tom de confronto, mas de colaboração.
Este artigo abordará a problemática
dos Ministérios na Renovação
Carismática Católica do Brasil – de modo introdutório apenas – e se concentrará
a fazer frente aos diversos princípios e
normas criados dentro do Ministério
de Cura e Libertação da RCC aqui no Brasil não pelos coordenadores
nacionais, mas pela má interpretação que é feita pelo povo nas bases (dioceses
e grupos de oração). Infelizmente, aquilo que deveria ser uma medida pastoral (certos cuidados
ensinados nas formações para o ministério) se tornaram dogmas, sentenças ex-cathedra
para muitos carismáticos, e isto dá
fundamento para proibições e restrições que vão claramente contra alguns princípios
claramente evangélicos.
Boa leitura!
O Conceito de Ministério
A palavra ministério, na
Bíblia, na maioria das vezes em que aparece, significa serviço. No Novo Testamento a palavra grega para ministério é
“diakonia” e indica a prestação de algum tipo de serviço ou trabalho. Como, por
exemplo, nesse texto: “e, quanto a nós, nos consagraremos à oração e ao
ministério [diakonia] da palavra.” (At 6, 4). Ou seja, eles se dedicariam ao
trabalho, ao serviço da pregação da palavra de Deus.
Na Bíblia temos essa palavra
aplicada aos vários serviços especiais designados por Deus aos seus servos. Por
exemplo, vemos na Bíblia citados o ministério dos levitas, dos sacerdotes, dos
profetas, dos apóstolos, etc. (2 Cr 6. 32; At 1. 25).
Tradicionalmente a palavra
ministério sempre foi empregada para os ministros
ordenados – diáconos, padres e Bispos – motivo pelo qual, aqui no Brasil,
quando a Renovação começou a empregar
o termo ministério para os diversos
serviços e apostolados do Movimento, houve uma orientação para que se abolisse
o termo. Assim, a Renovação passou a
utilizar, naquele então, o termo secretaria.
Tínhamos, por exemplo, a Secretaria
Moisés para os intercessores; Secretaria
Rafael para os irmãos que oram por cura e libertação, e assim por diante.
Foi quando São João Paulo II
escreveu a Encíclica Christifidelis Laici
sobre a vocação e a missão dos Leigos na Igreja que a Renovação voltou a adotar, agora sob fundamentação de uma
encíclica, o termo ministério para os
diversos serviços do Movimento.
Ainda há resistências quanto ao
uso deste termo, como também há resistências ao uso da palavra Batismo para descrever a experiência
crítica e de sentido que está na base e na identidade da Renovação Carismática.
Vamos ilustrar esta questão semântica usando os termos ministério, batismo e Igreja, de modo a ilustrar bem a
questão:
Se nós
utilizamos a palavra Igreja no seu
sentido teológico de Corpo Místico de
Cristo, seria errado dizer Igreja
Anglicana, Igreja Luterana, etc.,
porque, neste sentido, a Igreja é Una. Agora, se a palavra é usada no seu
sentido etimológico – assembleia,
congregação – a palavra está bem empregada.
Quando
utilizamos a expressão Batismo no
Espírito Santo para definir a nossa experiência carismática fundante, é
evidente que estamos utilizando o sentido etimológico e não o sacramental, pois
não propomos um segundo batismo
sacramental.
Quando
utilizamos a palavra Ministério,
portanto, utilizamos o mesmo critério etimológico.
“Ministérios Carismáticos” e outros Ministérios
Olhando apenas para a
realidade da Renovação Carismática Católica, podemos fazer uma diferenciação
básica entre os mais de dez ministérios que, hoje, existem. Quando estamos numa
Comunidade Carismática de oração o Senhor dá seus carismas como lhe apraz. Ao
receber carismas, o servo recebe a capacitação para exercer um ministério (de
acordo com o carisma recebido). O servo recebe a capacitação (esta palavra é importante). O Senhor pode dotar uma
única pessoa com o carisma de louvor
(música), de pregação e de cura? É claro que sim! Com isto, o servo
recebe um revestimento, uma capacitação.
No caso deste servo em questão, qual é o seu ministério? Bem... A definição do ministério a ser desempenhado por
este servo em questão – que recebeu o carisma do “louvor”, da pregação e da
cura – passará por dois crivos:
1. O
Chamado pessoal que Deus faz a este
servo em questão.
2. A
confirmação da Comunidade.
Os “ministérios carismáticos”
propriamente ditos são:
1. Ministério
de Pregação
2. Ministério
de Cura e Libertação
3. Ministério
de Louvor (referindo-me a música na
oração carismática)
4. Ministério
de Intercessão
Estes ministérios supracitados
pressupõem a recepção de um carisma. Todos os demais ministérios existentes na Renovação hoje são apenas áreas de atuação ou trabalhos específicos
para os diversos estados de vida. Não se recebe um carisma para ser universitário
ou profissional. Trata-se de um
estado de vida. Não se recebe um carisma
para ser jovem; igualmente, trata-se
de um estado de vida.
Então, enquanto serviço, podemos utilizar a palavra
ministério para os diversos serviços desempenhados na RCC, tal como estamos
fazendo? Enquanto serviço, sim. Contudo, os únicos ministérios verdadeiramente carismáticos
– no sentido de pressupor a recepção e o exercício de um carisma - são aqueles
quatro que citei acima.
De fato, o que faz o
Ministério Jovem nas suas reuniões, missões e projetos? Prega, louva, intercede e ministra a cura e a libertação. O que faz
o Ministério das Universidades Renovadas? Prega,
louva, intercede e ministra a cura e a libertação. E o ministério das
Famílias? Idem! O das Religiosas também? Sim... Também!
Faça-se aqui uma pequena
ressalva ao Ministério de Formação.
Eu não o listei entre os ministérios carismáticos, embora eu acredite no
carisma de ensino, porque, na minha
opinião, ele merece um certo destaque. Todos estes quatro ministérios carismáticos
precisam de irmãos com o carisma de ensino, de modo que eu percebo o serviço do
formador dentro de todos os ministérios (é apenas uma questão de ordenamento).
Confusões sobre a pertença a um Ministério
O que devia existir para
organizar (os diversos ministérios) acabou por engessar e segmentar demais
a Renovação sob muitos aspectos (e esta não é a minha opinião isolada, pois
ouvi isto de irmãos notáveis dentro
da RCC). Quando percebemos que um jovem
universitário não faz formação de pregação, ou de cura e libertação, ou de
louvor, ou de intercessão porque “meu
ministério é Universidades Renovadas”
... Percebemos a verdadeira confusão que há na cabeça do nosso povo!
Recordo-me que, quando eu
estava na equipe estadual do Ministério Jovem no Rio Grande do Sul, nós
começamos a criar os ministérios de pregação,
cura, louvor e intercessão dentro do Ministério Jovem – ou seja, criamos
uma Renovação a parte, rsrs. Por
outro lado, isto demonstra como percebíamos que, como carismáticos, nosso modo
de evangelizar era este: Pregar, Louvar, Interceder e Ministrar a Cura. Nós
erramos na solução da questão (criando ministérios dentro do Ministério), mas a
intuição era correta.
Portanto, Ministérios com “M” maiúsculo são os quatro já tão repetidamente
citados. Todos os servos da Renovação
Carismática – não importando se é jovem, universitário, religioso,
evangelizador de crianças ou seja lá o que for – deveriam depender formativamente dos Ministérios de Pregação, Cura,
Louvor e Intercessão.
Um jovem do Ministério de
Universidades Renovadas pode rezar por cura e libertação? Daremos uma resposta
mais abrangente sobre este ministério em específico, mas já vamos adiantar e
responder aqui: é claro que sim!
Pode ministrar louvor? Claro! Interceder? ... Pregar? ... Não somente pode...
Deve!
Nós precisamos de ministros da pregação, da cura, do louvor e
da intercessão em todos os serviços e estados de vida da Renovação
Carismática Católica! Precisamos destes
ministros em todos os ministérios!
Recordemos, ainda, que o
Espírito Santo distribui seus dons como
lhe apraz, de modo que um pregador também pode interceder, ministrar louvor e orar por cura se o Espírito Santo
assim lhe capacitar, assim como um intercessor
pode pregar! Uma coisa são os dons
carismáticos recebidos e outra é o chamado ministerial do servo – embora haja
uma profunda conexão entre o carisma e o ministério.
Ainda falando de confusões
neste campo, já vi gente negando oração por aí dizendo: “não é o meu
ministério”. Realmente... Não é por aí!
Nós somos batizados e
crismados. Deus pode nos usar pontualmente em qualquer ministério, porque é Ele quem distribui os carismas como lhe
apraz e no momento que lhe apraz. Nem sempre um carisma recebido
constituirá um ministério.
Princípios e Normas criados dentro do Ministério
de Oração por Cura e Libertação – Desmitificando algumas lendas
Quando o Papa Francisco falou
sobre não sermos administradores mas dispensadores da graça de Deus e de “não
impormos uma alfândega ao Espírito Santo” a primeira triste realidade que me
veio à mente foi a de uma série de princípios e normas criados pela má
interpretação, feita nas bases, da formação dada pelo Ministério de oração por
Cura e Libertação. Aquilo que deveria ser de caráter pastoral acabou assumindo
um caráter quase dogmático, pela
rigidez com a qual é aplicado.
Vamos listar algumas regras
conhecidas e analisá-las uma a uma:
a) Só
quem é do ministério de oração por cura
e libertação pode rezar por cura e libertação (e mais ninguém).
b) Não
se pode encostar na pessoa para fazer oração de cura e libertação e não se pode
ficar de pé se a pessoa que recebe a oração está sentada.
c) Se
não estiver recebendo os sacramentos frequentemente, jejuando, rezando o terço
e lendo a bíblia... Não pode orar por cura e libertação.
Só quem é do ministério de oração por cura e
libertação pode rezar por cura e libertação (e mais ninguém):
A oração por Cura e Libertação
é um serviço de suma importância prestado pela Igreja à humanidade. Seu
precedente é profundamente bíblico e foi uma profunda característica do
ministério do próprio Senhor Jesus.
Enviando toda a Igreja em Missão,
Jesus derramou sobre ela o Seu Espírito
para que nós – a Igreja – pudéssemos realizar as obras que Ele mesmo realizou, e obras
ainda maiores! E Jesus diz claramente que estes sinais acompanhariam
aqueles que crerem.
Todo cristão batizado recebeu
de Deus o chamado e a Missão de ir pelo mundo inteiro pregando o Evangelho a
toda a criatura (não somente os padres,
ou um grupo seleto de pessoas); e estes sinais devem acompanhar a pregação de
todo cristão batizado (e não apenas de um grupo seleto).
O chamado e o revestimento de
autoridade são tão universais que mesmo diante das imensas feridas de divisão
presentes no Corpo de Cristo, a pregação dos cristãos, até mesmo daqueles que
não estão em comunhão plena com a Igreja, é acompanhada de curas e libertações.
Recentemente o Padre José Antonio Fortea, SJ, ao se dirigir à 43º Reunião Anual
de Sacerdotes (uma convenção carismática) citou o valioso ministério de cura e
libertação dos irmãos separados (citando nomes e escritos).
Sim, estes sinais devem acompanhar a todos os crerem e saírem no anúncio do
Evangelho.
Mas como é possível que um evangélico que não reza o terço, não
recebe Jesus no Santíssimo Sacramento do Altar e não recebe o sacramento da reconciliação – portanto, que não vive “as
cinco pedrinhas” do nosso projeto Amigos
de Deus – possa ser usado por Deus para ministrar a cura e a libertação?
(Repito: Quem usou o exemplo do ministério de cura e libertação levado a cabo
pelos evangélicos numa reunião de Padres não fui eu... Foi simplesmente o Padre
Fortea, um dos exorcistas mais renomados da Igreja, autor da obra Suma Demoníaca).
Uma reflexão semelhante a esta
foi levantada por Reinaldo Beserra dos
Reis no último Encontro Nacional de
Reflexão Teológica quando, ao falar do Batismo
no Espírito Santo, Reinaldo
questiona o fato de que 90% dos nossos escritos apresentam o Batismo no
Espírito Santo como um despertar da
graça sacramental, o que colocaria em cheque a genuína experiência do Batismo no Espírito Santo nos irmãos
separados (e sabemos bem que eles nos precederam historicamente na experiência
tal qual a vemos hoje!) e a própria experiência de Cornélio, narrada no livro
dos Atos. Reinaldo nos perguntava, então, se o Batismo no Espírito é uma graça
de raiz sacramental ou se é uma
experiência de oração, deixando claro que sua opinião era a segunda.
Existe, portanto, uma
experiência ainda mais básica que toca a todos os cristãos quando falamos do
Batismo no Espírito Santo, da recepção dos carismas e do exercício dos
ministérios carismáticos. É por isto que, quando refletimos sobre estas
realidades, não podemos ser reducionistas. De fato, o Espírito Santo não aceita
e não se submete às nossas alfândegas.
É necessário afirmar, então, que orar por
cura e libertação é algo que qualquer cristão “poderia fazer” (inclusive
cristãos que não estão em plena comunhão com a Igreja Católica).
Alguns podem estar revoltados
agora ao lerem estas linhas; alguns, até, estão afirmando: “Então não precisa
existir um Ministério de Oração por Cura e Libertação se qualquer cristão
poderia rezar”. Não é bem assim ...
Qualquer cristão poderia
pregar também. Qualquer cristão poderia interceder. Qualquer cristão poderia
louvar (com música ou sem ela). Se de fato recebemos o Espírito de Cristo,
participamos de seu múnus sacerdotal,
profético e régio e isto nos capacita
para que Deus nos use quando e como quiser.
Apesar disto, existem pessoas
que são chamadas por Deus a se
consagrarem a um ministério e elas recebem, da parte do Senhor, o carisma que as capacita para tal. Aliás,
não somente este carisma... Uma única pessoa pode receber vários carismas, mas
a um deles Deus fará ser a vocação daquela pessoa. Isto é ser ministeriado.
Só o “ministeriado” pode prestar
o serviço do exercício do carisma específico de um determinado ministério? Não!
Receber um dom carismático não é o
mesmo que receber o sacramento da ordem
– que imprime caráter! É por isto, aliás, que eu defendo que todos na Renovação
Carismática deveriam receber a formação específica dos Ministérios Carismáticos e não somente os ministeriados, pois o vento sopra onde quer! Se, numa determinada
circunstância, é necessário que você pregue...
Você não pode dizer: “não, Senhor! Não
pregarei porque sou intercessor”. Ou ainda: “Não rezarei pela libertação desta pessoa porque sou apenas ministro de
louvor”. Acima do ministério carismático, irmãos, nós somos sacerdotes, profetas e reis pelo Batismo,
sacramento este que imprime caráter!
Quando a Renovação Carismática
Católica reconhece o chamado ministerial de um grupo de irmãos e lhes concede a
capacitação formativa para o exercício do ministério, ela não está criando um
grupo de notáveis, os únicos autorizados para exercer este dom carismático. A
orientação de que seja sempre um ministeriado, nos nossos grupos de oração, a
rezar pelas pessoas é um cuidado pastoral,
pelos seguintes motivos:
1. Se
Deus muniu esta pessoa com um chamado para este ministério, é inteligente da
nossa parte que seja este servo
aquele que exerça o carisma nas nossas reuniões e nos atendimentos. Deus chamou esta pessoa para isto
especificamente. É a vocação dela! Não é que os outros não possam... É que Deus chamou esta pessoa!
2. Atender
pessoas, dar aconselhamentos e clamar pela cura e pela libertação de modo responsável exige equilíbrio,
sobriedade, discrição, formação e vida cristã comprovada (testemunho). A
Renovação Carismática ao reconhecer o chamado do ministro de oração por cura e libertação, constata que ele possui
estes pré-requisitos e dá a ele formação. É pelo cuidado pastoral – para evitar
desvarios, erros e desequilíbrios que poderiam levar pessoas à perdição – que a
Renovação orienta: Que sejam somente os
ministros de oração por cura e libertação a rezarem pelas pessoas nos nossos
grupos. Trata-se, portanto, de uma medida pastoral.
3. Quando
nos colocamos a rezar por outras pessoas entramos, muitas vezes, em combate
espiritual. É um cuidado pastoral sumamente importante que a Renovação zele
para que as pessoas que exerçam este serviço/ministério preencham os quesitos
citados acima, uma vez que o combate é real e precisamos estar, de fato,
revestidos de autoridade para travá-lo. Não
é que Deus não possa revestir de autoridade a qualquer cristão, que atue em
qualquer ministério, para numa determinada ocasião, ser um instrumento de
libertação. É uma questão de inteligência e cuidado pastoral, da nossa parte,
priorizar o exercício deste ministério para alguém que é ministeriado.
Não se pode encostar na pessoa para fazer oração
de cura e libertação e não se pode ficar de pé se a pessoa que recebe a oração
está sentada.
Novamente: Não podemos fazer
com que medidas pastorais se tornem dogmas!
Criticava-se a oração de
imposição de mãos encostando na cabeça das pessoas porque, segundo alguns,
somente um ministro ordenado poderia
fazer isto. De fato, esta afirmação não é procedente pelo fato de que é muito diferente aquilo que nós fazemos na Renovação quando oramos pelas pessoas
daquilo que um ministro ordenado faz
quando confere um sacramento. São níveis totalmente diferentes, e todos na
Renovação temos esta consciência!
O senhor Jesus nos ensinou, na
parábola do Bom Samaritano, a não ter medo do toque. Aliás, o Evangelho narra inúmeras vezes como Jesus tocava as pessoas. O que não pode haver
são confusões neste gesto, misturando imposição de mãos com Heike e filosofias afins. O toque
está muito bem fundamentado na Bíblia, de modo que não vejo nem porquê buscar
maiores aprofundamentos e gastar mais tempo com este assunto.
Quanto a ficar sentado junto
com a pessoa na hora de rezar por ela... É apenas uma medida pastoral.
Sentar-se passa a mensagem de que você está no
mesmo nível da pessoa, o que fará com que ela se sinta melhor acolhida;
ficar de pé para rezar por alguém que se ajoelha ou se senta não é, contudo,
necessariamente passar a mensagem de que se é superior à pessoa pela qual rezamos. Trata-se, portanto, de um
aconselhamento e não de um dogma.
Analisando tempos, momentos e lugares, não há problema algum em rezar de pé para alguém que está sentado.
Se não estiver recebendo os sacramentos frequentemente, jejuando, rezando o
terço e lendo a bíblia... Não pode orar por cura e libertação.
Vou retomar um dos parágrafos
escritos acima para introduzir este tema:
Mas como é
possível que um evangélico que não
reza o terço, não recebe Jesus no Santíssimo Sacramento do Altar e não recebe o sacramento da reconciliação –
portanto, que não vive “as cinco pedrinhas” do nosso projeto Amigos de Deus – possa ser usado por
Deus para ministrar a cura e a libertação? (Repito: Quem usou o exemplo do
ministério de cura e libertação levado a cabo pelos evangélicos numa reunião de
Padres não fui eu... Foi simplesmente o Padre Fortea, um dos exorcistas mais
renomados da Igreja, autor da obra Suma
Demoníaca).
Existe, na cultura e na práxis
católica em geral, a influência de uma heresia que, na verdade, nunca abandonou
o catolicismo: Estou falando do pelagianismo
ou voluntarismo. Superficialmente,
estas heresias afirmam que a obra da salvação depende de um esforço ascético
pessoal e não da graça de Deus. Ninguém em sã consciência, contudo, afirma isto
hoje na Igreja Católica. Contudo, na práxis, o pelagianismo segue muito vivo. “Se
eu não fizer jejum, abstinência, confissão, e mais uma série de outras práticas
espirituais, não estou pronto para pregar, ou interceder, ou ministrar louvor e
orar por cura e libertação”. O erro nesta postura é o seguinte:
1. Não
se recebe sacramentos nem se pratica exercícios espirituais diversos porque
eles sejam condição para que se possa exercer um ministério. Se recebe
sacramentos e se pratica exercícios espirituais para crescer em intimidade com
Deus, ser Santo e abrir-se para a graça. Um ministério pode ser exercido até
mesmo quando o ministro está em
pecado! É por isto que Jesus nos relembra que, naquele dia, virão dizendo:
“Senhor, Senhor, mas não foi em teu nome que fizemos milagres?” ao que Ele
responderá: “Não vos conheço”.
2. Por
mais exercícios ascéticos que eu e você possamos praticar, nunca seremos dignos de pregar, interceder, ministrar louvor ou
orar por cura e libertação. Não praticamos a ascese para nos sentirmos
preparados ou dignos (pois nem um milhão de penitências seria capaz de realizar
isto em nós). Nossa dignidade e justiça é Cristo!
Pede-se que o servo de Deus
esteja em estado de graça, em intimidade profunda com Deus para que, assim, ele
seja:
1. Testemunho
daquilo que ele diz e prega
2. Um
canal ainda mais dócil e eficaz para as inspirações do Espírito Santo.
É por causa disto que um
cristão evangélico que não recebe os sacramentos regularmente e não pratica os
mesmos exercícios espirituais pode, muito bem, ser ministeriado para a cura e a libertação.
Portanto, não se devem
apresentar as práticas espirituais como condições,
mas como caminhos infalíveis para que o servo de Deus cresça em sabedoria e
graça, sendo, assim, um instrumento ainda mais dócil e poderoso nas mãos de
Deus. Infelizmente há, até, pessoas que se auto-julgam no direito de avaliar a
vida espiritual do outro pela quantidade de práticas espirituais que vê a outra
pessoa fazer; pior que isto: há pessoas que se auto-julgam aptas para exercer o
ministério por causa da quantidade de práticas espirituais que realizam (e
ainda publica aos quatro ventos a quantidade de terços que reza, e todas as
práticas espirituais que realiza).
Se alguém acha que eu esteja
fazendo apologia contra as práticas espirituais... Simplesmente demonstra a
incapacidade de interpretar um texto. Sem ascese nós não chegaremos a lugar
algum na vida espiritual e corremos o sério risco da condenação eterna! Não
estou, portanto, menosprezando a oração, a devoção mariana, a vida sacramental,
a leitura da palavra, o jejum e as demais práticas. De fato, como católico não conheço outros caminhos para manter
a chama do Espírito Santo acesa (e não somente isto... Outro caminho para
fazê-la crescer e frutificar). Jesus disse que há espécies de demônios que só
podem ser expulsos mediante o jejum e a oração. Prescindir disto seria absurdo.
O propósito destas linhas não é abolir a necessidade das práticas espirituais –
o que, repito, seria um absurdo – mas retificar as intenções que nos levam à
prática dos mesmos, colocando as coisas no seu devido lugar.
Conclusão
Não cabe a nós colocar alfândegas
para a ação do Espírito Santo.
Eu estou certo de que a
Coordenação Nacional do Ministério de Oração por Cura e Libertação não é a
responsável pelas confusões que apontei acima – assim como o Conselho Nacional
da RCC não é responsável pelos desequilíbrios existentes em muitos grupos de
oração que não buscam formação ou que mal interpretam a formação recebida – de
modo que estas linhas não se propõem a fazer frente aos nossos formadores no
Ministério.
Tenho ciência de que o
Ministério de Oração por Cura e Libertação está passando por grandes
reformulações, o que é maravilhoso (afinal, somos um corpo vivo e nada pode
ficar estagnado). Que estas linhas sejam acolhidas como uma singela
contribuição para questões práticas do Ministério.