terça-feira, 31 de março de 2015

A RENOVAÇÃO NO ESPÍRITO SANTO - AS ORIGENS DA RENOVAÇÃO - ETAPAS

A RENOVAÇÃO NO ESPÍRITO SANTO
Denise S. Blakebrough


Primeira Parte

ORIGENS HISTÓRICAS DA “RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA” (RENOVAÇÃO NO ESPÍRITO SANTO).

Capítulo Segundo

AS ORIGENS DA RENOVAÇÃO. ETAPAS

Os caminhos de Deus são admiráveis. Depois da renovação litúrgica, a renovação bíblica e o Concílio Vaticano II..., a Renovação Carismática Católica está na linha das ações do Espírito Santo no Povo de Deus. O estilo da Renovação, ou sua identidade, tem, por suas principais manifestações, o louvor a Deus, a Efusão ou Batismo no Espírito Santo e a abertura às inspirações e Carismas do Espírito Santo.

Primeiros passos. Encontramos a diferentes pessoas que pertenceram a distintos grupos e movimentos. A gestação da Renovação tem várias etapas. Nesta gestação, os fatos se expõem na raiz, desde o nascimento e do início do crescimento da Renovação, que começou na Universidade de Duquesne e do Espírito Santoem Pittsburgh. Incluem-se testemunhos de professores, do capelão e dos alunos universitários, sua extensão a outras Universidades e a famílias nos EUA, bem como sua chegada a uma grande quantidade de países, entre eles a Espanha (e o Brasil). A Renovação surge, como resposta cristã, no contexto cultural e teológico, tomado pelo racionalismo, que imperava no ambiente dos centros universitários. É necessário ser conscientes da fé que alimenta a Renovação e da cultura em que se manifesta, assim como os ambientes anteriores que a precederam.

Universidade de Duquesne e do Espírito Santo, Pittsburgh, EUA

Antes de referirmo-nos ao nascimento da Renovação Carismática Católica, cabe algumas considerações sobre o lugar onde aconteceram os fatos em Pittsburgh (Pensilvânia). A Universidade se encontra no alto de uma das muitas colinas que formam o centro da cidade. Era verão, quando fui Pittsburgh; o vento soprava e, no ar, captavam-se notícias do Espírito Santo “vento suave... que sopra onde Ele quer”. Afastei-me em um dos edifícios do esplêndido campus universitário. Num extremo, há uma comunidade de Religiosos do Espírito Santo, vários deles professores, que, com os estudantes, formam uma entidade católica conhecida por Universidade de Duquesne e do Espírito Santo, como reza em seu escudo:

Fundada por membros da Congregação do Espírito Santo e sustentada através de uma associação de leigos e religiosos, Duquesne serve a Deus servindo aos estudantes, com o compromisso de uma excelente educação profissional e liberal, através de uma profunda preocupação por uns valores morais e espirituais, mantendo uma atmosfera ecumênica, aberta à diversidade, através de um serviço à Igreja, à comunidade, à nação e ao mundo22.

Como surge a Renovação

Estes são os fatos. Finalizado o concílio Vaticano II e impactados por seus ensinamentos, três professores leigos, de Filosofia e Teologia, membros da Universidade de Duquesne e do Espírito Santo, William G. Storey, Ralph Keifer e Patrick L. Bourgeois, que desde o outono de 1966 se reuniam com freqüência em grupos de oração, pensaram em “fazer algo”. Há necessidade de mencionar-se que, durante a década dos anos sessenta, havia se produzido, nos Estados Unidos, uma onda de entusiasmo pelas vigílias bíblicas e os encontros de oração. Este era o ambiente que reinava. A estas iniciativas universitárias contribuía a Associação Chi Rho (nome das duas primeiras letras de Cristo em grego), cujo presidente foi Bert Ghezzi, quando estudava em Duquesne junto com Dorothy Garrity. Fomentava-se a atividade litúrgica, o testemunho cristão e a ação social.

Estes três professores sentiam que faltava algo em sua vida cristã pessoal e ainda que não podiam especificar o que, cada um reconhecia que havia certo vazio, uma falta de dinamismo, uma debilidade espiritual em suas orações e atividades. Era como se sua vida cristã dependesse demais de “seus próprios esforços”. Parecia-lhes que a vida cristã não devia ser um esforço simplesmente humano.

Poderia dizer-se que, por algum motivo, faltava aquele dinamismo do Senhor ressuscitado, essa penetrante sensação de estar vivendo no Senhor dia após dia. Faltava o sentir que se vive em Cristo e que em Cristo se manifesta a Igreja e a Igreja, por sua vez, ao Mundo.  Mas não se tinha em conta que Jesus, depois de ascender à destra de Deus Pai, prometeu enviar seu Espírito, como fez com a primeira comunidade cristã. Foi o mistério de Pentecostes no qual se manifestou a Igreja. E, assim, os Apóstolos, Maria e as mulheres que lhes acompanhavam, viram-se cheios do Espírito Santo que, depois, puderam compartilham com os demais. Qual foi o mistério desse poder? Foi a obra do Espírito Santo em todos eles, que lhes fez sentir, profundamente, a presença de Jesus, desterrando todo o temor.

Ante estes precedentes, ditos professores começaram a pedir, em oração, que o Espírito Santo lhe concedesse essa renovação e que o vazio no qual haviam gastado seus esforços humanos, fosse preenchido pelo Senhor ressuscitado. Para isso, começaram a rezar o “Vem, Espírito Santo”, da sequência que se recita na liturgia do domingo de Pentecostes. Ao mesmo tempo, esmeraram-se no estudo do Novo Testamento, especialmente as partes que detalhavam a vida da Igreja primitiva dos primeiros séculos.

A Cruz e o Punhal: Estado Sociológico

Os professores leram também o livro A Cruz e o Punhal, de David Wilkerson, John e Elizabeth Sherril, dado por Steve Clark aWilliam Storey e Ralph Keifer, amigos dos Verões na Universidade de Notre Dame, South Bend, Indiana, para conhecer a opinião deles sobre a obra.

O livro descrevia a vida e aventuras de David Wilkerson, que exercia seu ministério com drogados em um dos piores bairros do Nova York. Desde o princípio, se sente dirigido pelo Espírito Santo. Ouve a voz e vai, como se fosse Abraão, sem saber para onde se dirigia. Os detalhes da experiência que ele e sua família têm são, inclusive, brutais e, até, arrepiantes, mas há uma fé permanente que, ainda que, por vezes, vacile, nunca falha23.

Os três professores leram o livro comparando-o com a Bíblia, já que está cheio de citações escriturísticas; a última parte trata do dom do Espírito Santo, ou seja, “o Batismo no Espírito Santo”, e da função do Espírito Santo na vida do cristão, de como Jesus é o verdadeiro batista no Espírito Santo e de como se recebe este batismo.

O livro de Wilkerson era como uma guia através de certas doutrinas bíblicas, e os olhos do grupo de professores foram se abrindo quanto ao significado profundo de muitos textos que previamente haviam lido, mas sem interpretá-los devidamente. Advertiram que a presença do Espírito na vida de Jesus e em suas vidas era a chave de sua missão no mundo, como o foi na de seus discípulos, e desejaram ter esse mesmo poder que Wilkerson parecia possuir ante os delinqüentes.

Enquanto isso, Ralph Keifer, instrutor de teologia na Universidade de Duquesne, que havia se comprometido a orar por essa vinda do Espírito (casualidade ou providência?), leu outro livro de John L. Sherril, co-autor do livro citado anteriormente, They Speak with Other Tongues (Eles falam em outras Línguas). O comentário da contracapa do livro escrito por Michael Harper – então anglicano hoje ortodoxo – dizia: “Para aqueles aos quais o assunto seja uma novidade, trata-se de uma introdução de primeira classe. O autor é sincero e conta uma história humana sobre o dom sobrenatural que muda às pessoas hoje e mostra como os milagres ainda se dão em pessoas normais”. O livro contem uma poderosa e persuasiva exposição do ambiente, em voga naquele tempo nos EUA24. Entusiasmado pelo dito livro, comentou-o com Bill Storey e Patrick Bourgeois, que oraram e pensaram que seria factível encontrar a algum grupo cristão em pessoa que houvesse tido estas experiências com o qual pudessem conversar sobre elas com franqueza.

Inquietudes

Assim o expõe Patrick Bourgeois. Em sua busca, recordaram-se de um sacerdote episcopal, William Lewis, reitor da grande paróquia Episcopal Christ Churchem North Hills de Pittsburgh, que havia dado uma conferência a um grupo de estudantes na Universidade. Perguntaram-lhe se ele tinha ouvido falar dos livros deWilkerson e Sherrill. W. Lewis confirmou-lhes que possuía as obras e que as tinha lido, encontrando-as muito interessantes, mas que não sabia o que pensar sobre elas.

Ralph Keifer e seus companheiros perguntaram-lhe se havia algum grupo de oração em sua paróquia e ele lhes disse que, ali mesmo, não, mas que ali perto havia uma senhora que acolhia, nas sextas a tarde, um grupo que realizava este tipo de oração. Ao persistirem no interesse, W. Lewis prometeu colocar-lhes em contato com uma das fiéis de sua paróquia episcopal, Betty Schomaker, descrevendo-a como pessoa de prestígio em sua paróquia, excelente cristã e mãe de um sacerdote episcopal. Ante o temor de que a senhora pudesse ter receios, pois não costumavam fazer público o que acontecia no grupo, Lewis assegurou-lhes de que ele mesmo trataria de convencer a Sra. Schomaker da sinceridade dos professores e de que eles poderiam ter esta entrevista na própria paróquia.

Por ser véspera de natal, decidiram postergar a data do encontro para o dia 6 de janeiro de 1967, na festa da Epifania. Não foi acidental o fato de que neste dia celebrava-se a manifestação de Jesus ante os gentios, comentou Bill Storey. Ao escritório da Igreja de Lewis chegaram William Storey, Ralph Keifer e Patrick Bourgeois. Não somente foram apresentados a Betty Schomaker, mas Lewis mesmo participou nas discussões, compartilhando suas respectivas experiências. A Sra. Schomaker, pessoa de cultura superior, tranqüila e sem o menor desejo de impressionar-lhes, mostrou-se sincera, direta e conhecedora das Escrituras. Confirmou-lhes o que sabiam pelos livros. Falou-lhes do grupo de oração onde ela ia, composto por pessoas de diversas denominações e, persuadida de que sinceramente aqueles homens buscavam fazer a vontade de Deus, convidou-lhes visitar o grupo na sexta-feira que seguinte25.

Tão pouco era acidental o fato de que no dia 13 de janeiro, oitava da Epifania, celebrava-se o batismo de Jesus no rio Jordão, manifestação do Senhor como Filho de Deus. William Storey, Ralph Keifer, Roberta Keifer, sua esposa, e Patrick Bourgeois foram à casa de Miss Florence (Flo) Dodge, que era Presbiteriana e tinha organizado em sua casa este grupo fazia algum tempo. Era pessoa responsável e bem conhecida em seu trabalho pessoal como diretora de grandes lojas em Pittsburgh, na escola dominical e nas aulas noturnas para adultos. Além de Betty Schomaker, os professores não conheciam a ninguém mais do grupo de oração.

As impressões desta primeira reunião relatadas por Ralph Keifer foram de que sua esposa, dois colegas e ele entraram na casa com cautela, mas em seguida se sentiram calorosamente acolhidos por todos. Afirma que era como uma reunião familiar. Começaram cantando hinos tradicionais, os que cantavam na escola dominical, e, depois, seguiu-se um longo tempo de orações espontâneas. Um a um, oravam em voz alta e, ainda que houvesse um murmúrio de vozes e um pouco de oração em línguas estranhas, não havia nenhuma confusão.

Depois utilizaram passagens da Bíblia de um modo extraordinário, compartilhando o que haviam lido durante a semana e aplicando-o a experiências recentes e passadas. E lhes assombrou a excelente teologia da vida cristã que surgia. Não era uma teologia “teórica”, nem vinha exposta em um livro texto. Tratava-se de uma teologia viva, surgida na oração do grupo de maneira natural e gozosa, ancorada nas cartas de São Paulo.

Seguiu-se, depois, uma discussão muito proveitosa sobre sua respectiva maneira de ler as Escrituras. Não tinham um integrismo religioso (fundamentalismo); antes, tinham a tendência de ler as Escrituras como o faziam alguns Padres da Igreja, de forma preferentemente alegórica. Sentia-se o legítimo testemunho da presença de Deus. Comentava Ralph Keifer com Patrick Bourgeois, depois da reunião, que lhe incomodava um pouco esta questão da “conexão direta com Deus”, ao que Patrick lhe respondeu:

Talvez nos fixemos demais nas causas secundárias e não vemos a mão de Deus nos acontecimentos.

Finalizou a comunicação de suas impressões comentando que não é que tivesse sido uma tarde extraordinária, mas que pensaram e oraram, convencidos de que aquilo era de Deus.

Nascimento da Renovação Carismática Carismática: 20 de janeiro de 1967

“Uma semana depois, dia 20 de janeiro de 1967, - prossegue Ralph Kiefer – por diversas circunstâncias, só Patrick Bourgeois, Instrutor no Departamento de Teologia, e eu pudemos assistir àquela reunião na casa de Miss Florence (Flo) Dodge. Desta vez o tema de oração e debate se centrava na epístola aos Romanos, sem ser conturbada com a matéria da Reforma nem com nenhuma outra referência sectária. Era desde logo um encontro interdenominacional. Finalizou-se quando se dividiram vários grupos para orar por diversas pessoas”. Patrick Burgeois relata pessoalmente o que fizeram:

Pedimos que orassem por nós afim de que recebêssemos o Batismo no Espírito Santo. Simplesmente nos disseram que fizéssemos um ato de fé para que o poder do Espírito operasse em nós. Puseram-se a orar em línguas ao mesmo tempo que alguns irmãos e irmãos do grupo interdenominacional de Flo, com a Sra. Schomaker, episcopal e mãe de um sacerdote episcopal, impuseram-nos as mãos. Pouco depois nós também começamos a orar em línguas. Não foi particularmente sublime nem espetacular. Sentimos certa paz e desejos de orar profundamente...

Havia nascido a Renovação Católica, no dia 20 de janeiro de 1967, de modo simples, com paz, oito dias depois do Batismo de Jesus e de Sua manifestação como Filho de Deus.

Não nos demos conta senão depois – referia Ralph Keifer – que nesse dia começou a Renovação Católica com o Batismo no Espírito Santo..., com essa força do Espírito Santo em nós católicos.

Porque a Renovação não começou no Retiro de Duquesne, nos dias 17, 18 e 19 de fevereiro de 1967, como depois, oficialmente, foi dito, ainda que neste fim de semana sim ela se consolidou entre os católicos26. Uma corrente requer um suficiente número de pessoas para traduzir-se numa esfera de influência, como o é o ensino, a formação, as conferências...

E continuando com o que aconteceu nesse dia, relatam Patrick e Ralph que, ao terminar, ofereceram-lhes um pequeno refrigério comentando que isto não o tinham feito antes, pois simplesmente costumavam despedir-se e ir embora. Ralph Keifer destacou em tom simpático o que faziam quando tinham ali católicos! Ao irem embora, os dois professores se perguntavam aonde aquilo lhes levaria. O falar em línguas não foi muito significativo, sabiam que era um fenômeno aceito na Igreja Primitiva e, segundo a História da Igreja, que não se limitava só a casos relatados no Novo Testamento. O que não compreendiam era por que este fenômeno carismático não ocorria com mais freqüência em nosso tempo. Estaria, assim, alinhando-se mais com o que se esperava do cristianismo do Novo Testamento? Experiência primordial deste primeiro encontro foi o avivamento da fé.

À semana seguinte, Ralph impôs as mãos sobre sua esposa e sobre Bill Storey: Eles também receberam o Batismo no Espírito Santo. Estas experiências levaram-lhes a dizer que se sentiam como que dentro de um grande mar (uma experiência semelhante  à que teve Agnes Ozman em 1901, descrita nos “Antecedentes históricos”). Ela fala de “um manancial de água viva”; também foi água o que brotou do corpo de Cristo na Cruz. A água era a graça de Deus; a água era o Espírito Santo que lhes afirmava no que haviam estado antes: um gosto pelas Escrituras, um gosto pela Eucaristia, pela oração..., um apreço pelo trabalho com outras pessoas. Tudo parecia mais fácil, mais espontâneo, ainda que isto na queria dizer que já não tivessem problemas ou contrariedades. Resumindo, ali não havia nada de magia, nada de superstições... Tratava-se da simples vida cristã que nos haviam ensinado desde a infância, mas com uma certa nova dimensão.

Surpreendente ação do Espírito Santo

A AÇÃO era e é do Espírito Santo. Não existe nenhum fundador da Renovação Carismática. É o mesmo Espírito Santo. É valioso o testemunho e reflexões de Patrick Bourgeois, testemunha ocular daqueles primeiros momentos, que escreveu o livro: “Can catholics become carismatics?”, mas que permaneceu em um anonimato voluntário. Dou graças a Deus por tê-lo colocado em meu caminho e de que agora me pudesse informar, em primeira mão, aquilo que não consta em nenhum lugar, a trinta anos de distância do que ele viveu acerca da Origem da Renovação e de como ela se desenvolveu em seus começos, já que vários dados não foram publicados.

Ralph Keifer já informou que o grupo de oração no qual participaram pela primeira vez não era fundamentalista (integrismo religioso), mas que era interdenominacional (ou interconfessional). Exatamente o mesmo diz Patrick Bourgeois, acrescentando que não era um grupo Pentecostal, e, neste sentido, sobre os livros que se escreveram ao princípio com os títulos The Pentecostal Movement in the Catholic Church Catholics Pentecostals, em 1969, afirma: “não gosto do uso do termo “Pentecostais” no título, pois pode produzir confusão”. Ele mesmo escreveu um pouco mais tarde, em 1976, o livro antes mencionado, do qual diz “não tentei que fosse uma história da Renovação, nem tão pouco um testemunho; antes, que viesse a ser um trabalho teológico acessível para ilustrar e edificar. No primeiro capítulo, tento fazer uma teologia da Efusão ou Batismo no Espírito Santo, e, desde este ponto, desenvolver um entendimento teológico do crescimento até a maturidade na vida cristã na Renovação27.

A influência da Renovação, ao nascer na Universidade, chegou primeiro a outras Universidades, desde a de Duquesne e do Espírito Santo, em Pittsburgh, a Notre Dame, em South Bend, também em 1967, e, dali, a Ann Arbor, em Michigan, e a outras.

Professores de Duquesne: Bill Storey, Ralph Keifer ePatrick Bourgeois

Conta Patrick Bourgeois que Ralph Keifer e ele continuaram indo à reunião de oração interdenominacional do grupo de Flo, em Chapel Hill, North Hills, durante mais de um mês. Os estudantes, corrobora Patrick, não se comprometeram até um mês depois de que eles haviam estado no grupo de Flo, no dia 20 de janeiro de 1967, onde só Ralph e ele pediram o Batismo no Espírito Santo através da imposição das mãos pela primeira vez. Como se sublinhou, este foi o verdadeiro dia em que nasceu a Renovação Católica, e eles puderam ajudar aos estudantes depois, no famoso fim de semana em The Ark and the Dove (A Arca e a Pomba).

Precisamente, ratifica Patrick Bourgeois, que Ralph Keifer, sua esposa Bobbie e Bill Storey dirigiram o retiro em The Ark and the Dove aquele fim de semana, ao que assitiu, como convidada para dar um ensino, a Sra. Schomaker, que lhes falou, desde os Atos dos Apóstolos, sobre o Batismo no Espírito Santo28.

“A razão pela qual eu não pude participar – prossegue Patrick – foi porque eu era professor de teologia a tempo completo e, ao mesmo tempo, era estudante de filosofia e já havia ‘perdido’ muitas horas com o que estava sucedendo-se com o grupo de Flo em Chapel Hill, já que Ralph Kiefer e eu acostumávamos a comentar o que acontecia no grupo, posto que eu havia tido muito pouca experiência de oração espontânea anteriormente e havia ficado profundamente impressionado pelo que vivemos. Por este motivo, não pude me comprometer para esse fim de semana, ainda que sim intervim nos preparativos. O que fiz foi ler os livros que Ralph Kiefer e Bill Storey haviam sugerido: ‘The Cross and the Switchblade’ e ‘They Speak with Other Tongues’. Não queria perdê-lo; o que eu pressentia era grande demais para deixá-lo”.

“Pouco depoi, Ralph Keifer e eu (Patrick) pensamos que era necessário ter nosso próprio grupo de oração, já que não podíamos levar dezenas de estudantes conosco para a casa de outras pessoas. Além disso, o grupo de oração em Chapel Hill, no qual seguimos participando mesmo depois do retiro de 17 de fevereiro, não voltou a reunir-se na casa de Flo. Dissolveu-se depois de 6 semanas e as pessoas se dispersaram. Foi como se já tivesse cumprido o seu propósito; o Espírito Santo não queria deixar rastros do velho para ter, desde agora, algo novo, só e exclusivamente feito para Ele”.

“Assim que Ralph começou a ter o grupo de oração em seu próprio apartamento nas sextas a noite. Ele era o responsável. Entre os dois, preparávamos a reunião e discerníamos juntos o que era apropriado e o que não era. Olhando para trás, recordando aqueles encontros, entre fevereiro e princípios do verão de 1967, em que Ralph Keifer deixou Pittsburgh para graduar-se em Teologia Litúrgica em Notre Dame, onde obteve seu doutorado anos mais tarde, penso que reunia a um dos mais lindos grupos aos que pertenci. Era um grupo quase todo constituído por estudantes; Ralph e eu éramos servos. Éramos muito informais na coordenação do grupo, ainda que seguíamos uma estrutura: leitura da Bíblia, orações espontâneas, hinos, etc. As vezes, em algum momento, perguntávamos se alguém queria que orássemos por ele ou por ela, especialmente quando pessoas novas participavam. Em ocasiões, dividíamo-nos e íamos, com algumas pessoas,  orar em outra sala. Não havia uma estrutura rígida. Como não tínhamos nenhum sacerdote no grupo, não podíamos ter a Liturgia da Eucaristia”.

“Devo dizer, com toda a verdade, que a influência de Ralph nas vidas da comunidade de Duquesne e nos começos da Renovação foi muito significativa. Ao sair, pus-me a frente do grupo, ao começar o verão, e o dirigi até o final de dezembro, em que também saí de Pittsburgh. De fato, estava tão comprometido que, apesar de ser tão importantes para mim os estudos, tive minhas dúvidas durante um tempo sobre se deveria me dedicar exclusivamente ao serviço do Senhor ou revisar minhas prioridades. Pedindo ajuda ao Senhor, senti que devia continuar trabalhando para mim e minha família, comprovada pelos sinais inconfundíveis do Espírito Santo, ainda que não a tempo completo. Assim continuei trabalhando na Renovação e dedicado também a minha família”.

“Durante todo o tempo que esteve Bill Storey em Pittsburgh, até que foi à universidade de Notre Dame, South Bend, trabalhou unido aos estudantes. Sua reputação na Universidade era a de professor excelente e muito responsável”.

“Steve Clark e Ralph Martin, dos Cursilhos de Cristandade, vieram ambos ao nosso grupo de oração e oramos sobre eles para que recebessem  o Batismo no Espírito Santo. Devo advertir que eu os conhecia, dos Cursilhos de Notre Dame, onde Ralph Keifer e  Bill Storey os fizeram pela primeira vez. Mais tarde os Cursilhos tiveram lugar em Pittsburgh, onde eu assisti como ouvinte em 1966 e foram para mim a ante-sala da Renovação. Graças, também, aos contatos, que com ocasião dos Cursilhos, Steve Clark e Ralph Martin mantinham por todo o país, a Renovação se difundiu rapidamente”.

“Kevin Ranaghan, depois da visita de Bill Storey e Ralph Keifer a Notre Dame, comprometeu-se a dirigir ali um grupo de oração. Creio que Kevin veio a Pittsburgh para presenciar nossas reuniões, mas não estou seguro disso. Seria pouco tempo depois de começar nosso grupo de oração na casa de Ralph Keifer. Sei que mais tarde todos eles estiveram comprometidos, iniciando reuniões e sessões em Notre Dame, South Bend, e em Ann Arbor, Michigan”29.

Outros acontecimentos

Ennquanto nós, em Pittsburgh, éramos discretamente cuidadosos com a imprensa, não estando dispostos a dar entrevistas se Dom Wright não estivesse presente, em Notre Dame não tiveram essa cautela. Creio que aconteceu algo de imprudência – oravam pelas pessoas por cura e esperavam que a mesma acontecesse imediatamente, mesmo quando não havia nenhuma indicação de que tal coisa acontecesse – . Nós, em Duquesne, fomos mais críticos e discretos.

Quando Ralph Keifer foi à Universidade de Notre Dame, creio que participou dos grupos de oração por um tempo, mas se desencantou com eles, pelo modo como os servos levavam os mesmos, e, por alguma razão, com toda a Renovação. Em defesa de Ralph, devo dizer que o grupo de oração de South Bend não era, em absoluto, como o de Pittsburgh, que ele dirigiu. Ralph não começou nenhum grupo em South Bend, porque, quando chegou ali, já estavam organizados. Deste modo, dos três, sou o único que continuou. Suponho que Bobbie Keifer (a mulher de Ralph) deixou de ter contato com os grupos quando Ralph abandonou a Renovação. Ambos tinham sido padrinhos do primogênito de um dos primeiros casais que pertenceram à Renovação.

Poucos anos depois, Ralph e Bobbie divorciaram-se. Ralph comunicou-me de que foi um divórcio horrível. Eu conhecia sua esposa bastante bem, durante cerca de quanto anos nos quais eles estiveram em Pittsburgh, já que éramos bons amigos. Sei que estiveram casados durante bastante tempo e tinham três filhos, mas desconhecia outros detalhes.

Refere cautelosamente Patrick que, quando Ralph esteve em Loyola (New Orleans), comentou-me pouco antes de morrer que, ainda que tivesse deixado à Renovação, divorciado-se de sua mulher e levado um estilo de vida homossexual, ensinava, contudo, em um programa de religião em Loyola; encontrava-se mais em paz com Deus e consigo mesmo depois de tantos desvarios como nunca antes. Penso que era sincero e que verdadeiramente havia concertado sua vida e que estava em paz com Deus.

Anos antes, quando havia Ralph havia se declarado gay, ao estar divorciado, foi viver com outra pessoa. Ralph faleceu com AIDS no começo dos anos 90. Assim, não o julgaremos em absoluto” – acrescenta Patrick – . “Durante todos os anos que o conheci em Duquesne e éramos bons amigos, mesmo antes da experiência carismática, não suspeitei de seu problema com a homossexualidade. Confessou-me mais tarde, depois de seu divórcio, que ele havia tido problemas com isso interiormente, através dos anos.

Foi em 1968 quando recebi a estranha noticia de que Bill Storey havia se desvinculado da Renovação. Não sabia, até então, que ele havia se declarado ateu, dando as costas a Deus completamente. Bill Storey também deixou a sua mulher com sete filhos e vive com outro. Nem Bill nem Ralph sabiam das tendências homossexuais de ambos, nem tão pouco, portanto, tiveram essa classe de relação um com o outro30.

Ao ir para New Orleans, formamos ali um novo grupo com minha esposa Mary, que se desenvolveu nos começos dos ano de 1969. Tudo esteve sob os cuidados e a ajuda do Padre Harold Cohen, S. J.31.

Por outras fontes, confirma Patrick, soube-se que Bill expressou não querer nenhum contato com a Renovação, nem ser associado a ela (mas existe um escrito posterior no Arquivo da Universidade)32.












22 DUQUESNE UNIVERSITY, Mission Statement, Pittsburgh, PA 15282 (Legenda em seu Escudo). Estar na Residência do Campus durante a celebração da Assembléia dos 30º Aniversário da Renovação me permitiu conhecer a vários de seus professores e visitar o Arquivo, no verão de 1997.
23 D. A. POOLING, do jornal “The Christian Herald”, faz esta descrição na Introdução do livro “The Cross and Swithblade” (A Cruz e o Punhal), A. JOVE/ HBJ Book, USA 1962. 24ª Edição, Outubro de 1977
24 J. L. SHERRIL, They Speak with Other Tongues (Eles falam em Outras Línguas), McGraw Hill Book Company, New York 1964; Great Britain 1965. Resenha da capa do livro na quinta edição de 1972.
25 La Sra. SCHOMAKER, segundo me informaram em sua paróquia, em 1997, ela havia falecido. A cada de Flo, a qual me refiro mais adiante, já não existe.
26 Falando de comparações, interpreta R. PRIETO, seria melhor comparar a experiência de Janeiro com a vinda do Espírito Santo no dia da Páscoa (o sopro de Jesus) e a de fevereiro com Pentecostes.
27 P. L. BOURGEOIS, Can Catholics be Charismatics?, Fundamentals of the full Christian Life, Exposition Press, HicksvilleNew York, 1976, 7-9. Um estudo acreditativo da Renovação Carismática – suas origens, conceitos e lugar
28 P. L. BOURGEOIS, carta pessoal de março de 1997. Cri ser imprescindível integrar no corpo da tese a citação que segue – em todo o caso diferenciando-a do mesmo – pela importância de seu conteúdo na documentação inédita das origens da Renovação.
29 P. L. BOURGEOIS, continuação da carta pessoal de março de 1997.
30 P. L. BOURGEOIS, seguem as notas de sua carta pessoal. Relatos penosos, mas que, em honra da verdade, como diz Patrick Bourgeois, fica bem publicar com todo o respeito, já que em outro livro se omitiu e, portanto, ficou meio desfigurado por ocultar os nomes; quem sabe isso seja ainda pior. Ele respondeu a todas as perguntas para que tivesse uma exata e precisa relação – segundo sublinha – para a tese, mas também me confirma: “Eu creio que Deus escolhe a quem ele quer, e eles estiveram profundamente comprometidos com o começo da Renovação na Igreja Católica. Nego-me a fazer um juízo moral sobre algum deles.

31 P. L. BOURGEOIS, final da carta pessoal, março de 1997.

32 A cópia íntegra deste escrito está sob meus direitos. Narrar-se-á um resumo, no capítulo correspondente. O Arquivo da Universidade de Duquesne e do Espírito Santo, Paul H. DeMilio, proporcionou-me dito escrito.

Conheci pessoalmente a Bill Storey em 1998, quando visitei sua livraria, perto da Universidade de Notre Dame, South Bend, quando eu voltava das férias. Bill foi muito amável comigo, relatando-me que sua filha esteve na Espanha. Comuniquei-lhe que na Universidade de Duquesne haviam publicado um livro com o título de The Spirit that Gives Life e que ali haviam notas manuscritas que ele havia enviado, informando sobre os começos da Renovação, posto que no livro consta que a Renovação nasceu desde ali. Mencionei, também, que na Universidade tinham uma grande consideração por ele. Acolheu a notícia com agrado e interessou-se por ela. Só mencionei que fiz esta investigação porque estava fazendo uma tese sobre a Renovação e que, nela, constariam estes dados; ele concordou. Não falamos mais a respeito. Comprei dois livros e lhe disse que me alegrava por tê-lo conhecido. Tiramos algumas fotos e nada mais.

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