terça-feira, 31 de março de 2015

A RENOVAÇÃO NO ESPÍRITO SANTO - PRECEDENTES HISTÓRICOS DA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA

ORIGENS HISTÓRICAS DA “RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA” (RENOVAÇÃO NO ESPÍRITO SANTO).




PRECEDENTES HISTÓRICOS DA RENOVAÇÃO CARISMÁTICA


Nenhum acontecimento ou movimento nasce isolado de um contexto social nem pode explicar-se sem ele. Por isso, a ação do Espírito Santo na religiosidade ou espiritualidade protestante pode constituir um ponto de arranque para aproximarmo-nos ao que viria a ser, depois, a Renovação Carismática na Igreja Católica, posto que os protestantes já tinham anos de experiência no momento em que surge a Renovação.

Quais foram os precedentes históricos?1 Que ambiente imperava nos momentos em que surge a Renovação? Para identificá-los, parece oportuno fazer alguma referência a determinados movimentos históricos, teológicos e culturais anteriores, que permitem conhecer melhor a predisposição a experimentar fenômenos religiosos.

Como precedentes cabe citar aos Metodistas (século XVIII), Irvingitas (séculos XVIII-XIX) e ao Avivamento Americano e as Igrejas de Santidade (século XIX). Entre eles, contudo, merece uma menção especial, por sua importância, o Pentecostalismo (no qual poderíamos destacar o Pentecostalismo Clássico do final do século XVIII, o Pentecostalismo do começo do século XX e o Neopentecostalismo de metade do século XX). Por sua vez, o Metodismo é o que mais influiu no Pentecostalismo. Os irmãos Wesley desenvolveram no Holy Club de Oxford a famosa doutrina metodista de que “não há salvação sem santificação, base principal do perfeccionismo pentecostal”2.

Afirma o Pe. Damboriena que existem muitos pontos de afinidade entre o pentecostalismo moderno e aquele metodismo, tanto de tipo histórico e existencial, como “de caráter doutrinal, em suas acusações à Igreja mãe, a qual reprovava por seu formalismo, até sentir a necessidade de ter que afastar-se com o fim de constituir sua própria organização e encontrar, assim, a seu Deus. Mas, além disso, o metodismo introduziu na tradição da Reforma o emocionalismo como elemento básico da vida cristã, e ensinou uma santidade fundada no segundo batismo do Espírito Santo. Prometeu a seus seguidores – ou ao menos tolerou a prática – o exercício dos dons carismáticos que assegurava ter recebido do Alto; sobretudo, insistiu na doutrina do segundo nascimento (The New Birth) como básico em todo seu sistema”3.

Estes movimentos religiosos, geradores históricos do Pentecostalismo, caracterizados como despertares ou avivamentos, foram qualificados como “subprodutos da Reforma”. Recordam ao tipo de seita que se baseia na experiência do indivíduo e diminui até mesmo ao papel institucional da Igreja: mediação da graça, os sacramentos e o sacerdócio. Na continuação se inclui uma resenha de alguns destes movimentos para assim compreender melhor o que a Renovação não é, nem deriva do pentecostalismo apesar do entorno na qual ela evoluiu. Depois de formular estes esclarecimentos, parece conveniente também examinar os ambientes que precederam à Renovação Carismática e o campo que deu lugar a que se desenvolvesse esta nova graça para a Igreja Católica (Congar), similar, quem sabe, às do tempo de Cristo.

Metodistas4

No Metodismo temos uma classe de despertar que é muito distinto a um retorno à origem. Nele influíram muito os Irmãos Moravos. O despertar é um momento de graça, o momento do Espírito, na condição de que conduza as almas para as normas tradicionais da fé. Não lhes basta o Livro Santo. Por isso se deseja renovar Pentecostes. E se perguntam: se os Apóstolos sentiram o Espírito, por que nós não, se nossa fé é igual a deles? Este é o segredo e o atrativo das seitas pseudomísticas, dos anabatistas aos “pentecostalistas” atuais. A teologia anglicana “alta igreja de Wesley” desconfiava das manifestações extraordinárias. Não animava a ninguém a gritar ou pasmar-se durante os sermões. Mas nem todos os metodistas se mantiveram assim. Wesley desenvolveu um modo de vida religiosa de tipo pentecostal.

John Wesley (1703-1791), sacerdote anglicano, alinhado na teologia tradicional, sem sinais de agitador, quis restaurar a piedade em sua Igreja Anglicana, a que sempre permaneceu fiel, já que no Século XVIII a situação era lamentável devido à influência do deismo e racionalismo e à pobreza social e moral de grande parte da população inglesa. Forma-se em Oxford, e, em 1725, é ordenado sacerdote na Igreja Anglicana. Entrega-se à leitura de livros espirituais, entre eles a Imitação de Cristo, e dos místicos católicos.

A relação que tem com o Metodismo se remonta a 1727, quando seu irmão Charles Wesley, estudante da Universidade de Oxford e assíduo do Holy Club, sente, junto com seus companheiros, o impulso de renovar espiritualmente o país. Sabendo disso, John Wesley deixa sua paróquia, vai a Oxford e toma a direção do Holy Club. Mas em 1735 o grupo de dissolve e, no dia 14 de outubro do mesmo ano, John e Charles Wesley partem como missionários para a América do Norte. Na viagem, encontram-se com os Irmãos Moravos, que influenciam seus sentimentos religiosos. Depois de um curta, mas dura estada na América do Norte, voltam para a Inglaterra. John Wesley retoma o contato com os Irmãos Moravos, buscando conhecer a natureza da conversão que, para eles, implicava numa experiência de como o sacrifício de Cristo nos cobre totalmente com seu perdão. Esta salvação ele a experimenta no dia 24 de maio de 1738.

John Wesley, que não pode ser qualificado de iluminista por não rechaçar a mediação eclesial, praticou, contudo, o chamado despertar religioso. Grande organizador, pôs as bases da primeira expansão do Metodismo na Inglaterra e na América do Norte. À célula mais reduzida de sua organização denominou-a grupo, integrado por uma seis pessoas que se reuniam semanalmente para confessar suas faltas e pedir a Deus sua cura espiritual. Sobre os grupos estavam as sociedades, cujos membros haviam experimentado, alguma vez, o avivamento espiritual. E as sociedades especiais estavam formadas pelos que haviam alcançado já a perfeição. Junto e eles estavam os penitentes e a sociedade geral, formada por cristãos comuns. Também existiam os pastores itinerantes, que se reuniam na Conferência Anual, que, desde seus começos, em 1744, teve teoricamente a suprema responsabilidade reitora no Metodismo. Esta organização dotou ao Metodismo de hierarquia pastoral paralela à oficial, com a que Wesley nunca rompeu.

Depois da morte de Wesley, o Metodismo começou a ordenar a seus pastores, rompendo claramente com a Igreja Anglicana. Na América do Norte já havia acontecido o rompimento em 1784, quando Wesley enviou-lhes um superintendente ordenado por ele mesmo... Teologicamente, o Metodismo é como uma reanimação ou despertar religioso, e não uma reforma religiosa propriamente dita, motivo pelo qual, na realidade, ele não possui um corpo doutrinal. Sua teologia se baseia na experiência da salvação, perfeccionismo para todos, esquecimento dos meios institucionais da graça (sacramentos) e a ênfase posta em “subprodutos da religião”, como a ajuda social. A particularidade do perfeccionismo metodista é na exclusão dos meios institucionais da graça. Em concreto, Wesley se afasta totalmente dos sacramentos em sua segunda época. Inclusive o sacramento do Batismo torna-se um mero símbolo de ingresso na Igreja que não origina a regeneração espiritual. Os meios de santificação no Metodismo são o Espírito Santo e o próprio esforço pessoal, concebido num nível puritano5.

Os Irvingitas6

Edward Irving (1792-1834) foi ministro da Igreja da Escócia. Estudou na Universidade de Edinburgh. Famoso pregador, associa-se com ele a formação de uma igreja chamada “Igreja Católica Apostólica”. Os Irvingitas foram os primeiros que, na época moderna, praticaram oficialmente a glossolalia. Depois de vários anos como professor, chamaram-lhe, em 1822, à capela Caledoniense em Londres... Dois grandes temas dominaram seu pensamento: sua compreensão da encarnação de Jesus Cristo e sua crescente espera pela segunda vinda. Em 1828 publicou um volume de sermões intitulado The Doctrine of the Incarnation Opened, que ocasionou uma tormenta de controvérsias (“Pentecostais Unidos”. Só Jesus É: Pai, Filho e Espírito Santo)... O desenvolvimento da chamada “Igreja Católica Apostólica” foi continuado por seus seguidores. Seu amigo Thomas Carlyle publicou seus sermões e escritos em 1864-1865.

O Despertar religioso (Reavivamento americano)7

Foram vários os principais “avivamentos” nos Estados Unidos: o primeiro, o grande despertar (1740-1742), pela costa atlântica, provocado pelo pregador metodista inglês George Whitefield (1714-1770), que havia começado na Inglaterra a pregação ao ar livre e que, por sua teologia calvinista, rompeu com Wesley.  O segundo, ao final do século (1797-1800), extendeu-se por Tennessee e Kentucky, com o pregador presbiteriano James Mc Gready. O terceiro se situa historicamente por volta de 1850 com o grande reanimador Charles G. Finney (1792-1875), congregacionalista. Todos os despertares têm como base o emocionalismo e a busca da experiência sensível de Cristo. Buscam a superação da letra e das instituições em obediência livre às inspirações do Espírito. Tentam converter pessoas sem preocupar-se com a pertença das mesmas a alguma Igreja.  Não dão importância aos sacramentos e constroem uma comunidade cristã sobre a subjetividade do indivíduo. Buscam a conversão das pessoas a Deus, que, segundo eles, pode se concretizar num lugar, num dia e, até, numa hora determinada. É uma conversão instantânea, moralista, puritana, determinada.

Movimentos de Santidade (ou Igrejas de Santidade)8

Dir-se-ia que os primeiros defensores dos objetivos da Santidade foram os Metodistas. É através do desenvolvimento histórico do Metodismo e do Reavivalismo que surgem os Movimentos de Santidade. O “Revivalismo” desconfia das conversões obtidas em clima excessivamente emocional e termina por considerar a conversão simplesmente como um primeiro passo ou “benção”, à que deve seguir-se, normalmente, outra, que assegure a firmeza no abando no à graça, por não ter a garantia da primeira experiência. A esta “segunda bênção” se lhe dava o nome de santificação.

Deve destacar-se que é neste ambiente de “Reavivalismo” e de Movimentos de Santidade onde se começa a falar pela primeira vez do Batismo no Espírito Santo, expressão que mais tarde se utilizaria no Pentecostalismo, ainda que com uma explicação até então desconhecida para estes avivamentos. Comenta Edward D. O’Connor, C. S. C., que, nos Estados Unidos, as Igrejas de Santidade obtiveram um papel de destaque para preparar o caminho pentecostal, que era o despertar de um desejo à voltar aos primeiros tempos da Igreja: um novo Pentecostes para os fieis. Naquele então o Batismo no Espírito Santo se chamava de revestimento do poder do altoconsagraçãosantificaçãosegunda bênção9.

Charles G. Finney o definia como “uma unção, um dom recebido instantaneamente que pode aumentar ou diminuir em quem o possui, segundo se sirva dele com maior ou menor fidelidade e energia, com vistas ao objetivo para o qual lhe foi outorgado. Pode se possuir e logo perder-se ou interromper-se a sua manifestação por alguma causa que apague a luz do Espírito Santo na alma”10.

Pentecostalismo Clássico

O contexto histórico do Pentecostalismo clássico centra a experiência religiosa dos carismas. Sua importância e influência na religião cristã é tal que foi classificado como uma terceira forma ou força de cristianismo, situada entre o catolicismo e o protestantismo. É uma reforma da mesma Reforma. As bases desta experiência do “espírito” são a inspiração, ou seja, a voz divina no fundo dos nossos corações, e o perfeccionismo, rejeitando, como o faz o iluminismo, as mediações eclesiais, sacramentais e ministeriais (como se vê, difere enormemente da atual Renovação). O Pentecostalismo se apresenta no século XX com um grande entusiasmo, com um grande poder de captação. Devido a influência do “Reavivalismo” americano, afirmam que as ondas de entusiasmo religioso possuem estreitíssima relação com o nascimento do Pentecostalismo. Os pentecostais adotam os mesmos métodos, mas dando-lhes, dali por diante, um sentido teológico do qual, até então, careciam. Também os sinais externos da efusão do Espírito pretendem constituir a seus beneficiários em categorias distintas do restante das pessoas11.

Relaciona-se o nascimento do Pentecostalismo com o segundo grande despertar ou avivamento religioso do fim do século XVIII (1797-1800). O Pentecostalismo é um dos movimentos cristãos mais vigorosos e dinâmicos, que encontrou seus primeiros discípulos no Metodismo e nos Movimentos de Santidade, assim como em outras pessoas atraídas por usas experiências religiosas com o Batismo no Espírito Santo12.

As primeiras comunidades pentecostais viveram o acontecimento como uma volta real ao espírito de Pentecostes, como um contato com a inspiração divina com o aval da manifestação de alguns carismas.
A constatação das origens do Pentecostalismo no século XX nos leva ao dia do ano novo de 1901. Ocorreu que a véspera, na Escola Bíblica de Charles Parham, em Topeka (Kansas), estudava-se o tema do Batismo no Espírito Santo na Sagrada Escritura, como preparação para o novo ano. No Livro dos Atos dos Apóstolos advertiram o nexo especial que aparece entre a efusão do Espírito e a glossolalia, efeito que desejaram experimentar como um progresso da experiência religiosa nas Igrejas de Santidade.

O testemunho dessa experiência pentecostal nos é dado por uma das alunas, Agnes Ozman, que se sentiu impulsionada a pedir a Parham que lhe impusesse as mãos, a fim de receber os dons do Espírito Santo. No momento em que lhe impunham as mãos sobre a cabeça, sentiu um grande calor e começou a falar em línguas, glorificando a Deus: Foi como se um manancial de água viva brotasse de minhas entranhas13.

Charles Parham, sendo diretor da Escola Bíblica em Topeka, fundou uma nova Escola Bíblica em Houston (Texas), onde fez propaganda destas experiências pentecostais. Etre os estudantes que lá freqüentaram aulas, estava o africano William Seymour, um batista que pertenceu às Igrejas de Santidade e que, no ano de 1906, instalou-se em Los Angeles, contribuindo enormemente para a difusão popular e massiva da experiência pentecostal14.

Também na Europa, entre 1904 e 1906, constataram-se experiências carismáticas no País de Gales e nas pregações do Pastor Barrat, na Noruega e na Alemanha. Estas novas comunidades pentecostais, com grande abertura ecumênica, não tardaram a ser criticadas pelas igrejas e, sobre tudo, pelos Movimentos de Santidade. Por isso, em 1906, os Pentecostais começaram a organizar-se em federações e, mais tarde, em Igrejas, sendo, as mais conhecidas, as Assembléias de Deus.

É em 1910 que o nome de Pentecostais começa a ser utilizado. Previamente, por volta de 1908, contemplou-se a problemática do Batismo no Espírito Santo, perguntando-se se ele era como que uma terceira bênção, sendo, a primeira, a conversão e a segunda a santificação ou se, pelo contrário, deveria considerar-se como manifestação da segunda etapa. Isto ocasionou já uma primeira divisão entre eles.

Dir-se-ia que a novidade que oferece o Pentecostalismo é a indissolúvel vinculação que se estabelece entre o Batismo no Espírito Santo e a Glossolalia, manifestação exterior de ter recebido o Espírito. Anteriormente, nos Movimentos de Santidade, em que já se encontravam ambas as graças, não estava, contudo, estabelecida esta peculiar vinculação. As realidades específicas do Pentecostalismo: imposição de mãos, como gesto para pedir o Batismo no Espírito e o carisma das línguas, como sinal de tê-lo recebido15.

Conseqüentemente, o Pentecostalismo justificava sua experiência na subjetividade e tomava os critérios de objetividade da mesma subjetividade. Um exemplo disso é o fato de que a chave de identificação e pertença aos Pentecostais é o “falar em línguas”, ainda que abarque, ao mesmo tempo, muitos aspectos da vida humana em suas dimensões social e psicológica. Socialmente, o Pentecostalismo apresenta umas características concretas: é uma experiência religiosa que se estende em certas classes sociais, relações culturais, temperamento, contracultura, possibilidade de participação, puritanismo, fundamentalismo bíblico..., ou seja, o Pentecostalismo supõe um novo estilo cristão. Sob o slogan de uma volta à Igreja de Pentecostes, apresenta-se como a renovação da Igreja16 .


Como precisa o pastor pentecostal francês Barrault: no que tange à salvação pela fé fiducial, são luteranos; pelo batismo da água, são batistas; pela santificação, metodistas; pela agressividade na propaganda, parecem-se ao Exército da Salvação; e só no que concerne ao Batismo no Espírito Santo são pentecostais, ainda que apareça um tanto obscura a ação do Espírito no conceito de sacramento.

Desde a perspectiva psicológica e pastoral, os Pentecostais menosprezam os meios normais de evangelização e os estudos relacionados com eles. Todos os pentecostais são pregadores. Contudo, não escreveram livros importantes de Teologia.

Por outro lado, o Pentecostalismo, como as Igrejas Livres, cuida mais a experiência que a doutrina. Sua teologia, inclusive a teologia do Espírito Santo, é muito pobre e com tendência ao modalismo, convertendo a Trindade de Pessoas em aspectos de uma mesma pessoa.

Neopentecostalismo17

Em 1950 o Pentecostalismo entra em uma nova fase, já que fiéis da Igreja, como a episcopal, a luterana e a presbiteriana, começam a receber carismas, mas não se unem aos pentecostais e não se separam de suas Igrejas. As controvérsias suscitadas levam a investigações pouco determinantes que finalizam em uma posição de “abertura”. Não oferece dúvidas que a propagação do espírito pentecostal nas Igrejas protestantes constitui um dos acontecimentos religiosos mais importantes dos anos sessenta.

A partir do ano de 1957, o Batismo no Espírito e os Carismas são admitidos por alguns membros da Igreja Episcopal da América do Norte. Depois deste começo, estende-se a outras igrejas estabelecidas. Deste modo, as práticas carismáticas deixaram de estar delimitadas, confessional e historicamente, para introduzir-se em outras Igrejas.

Ao fenômeno religioso da extensão do Pentecostalismo nas Igrejas estabelecidas se dá o nome de Neopentecostalismo, que se diversifica segundo as distintas Igrejas.

Sobre o nome mais adequado para designar este fenômeno pentecostal, no que, à Igreja Católica se refere, escreveu-se muito numa série de ocasiões. Entre o Pentecostalismo e o Neopentecostalismo aparece uma diferença sobretudo de tipo sociológico, acrescentando que, neste último, encontramos um fenômeno religioso caracterizado mais pela experiência18 .

Precedentes Católicos

A grande manifestação do Espírito Santo em membros da Igreja em janeiro de 1967 teve humildes começos, e, ainda que surpreendentes, não foram inesperados. O Papa Leão XIII já havia dedicado o século XX ao Espírito Santo. O Papa João XXIII havia conduzido à Igreja para um ano de intercessão em prol da realização do Concílio Vaticano II, pelo qual implorava a Deus:

Que assim seja repetido nas famílias cristãs o quadro dos apóstolos reunidos em Jerusalém depois da Ascensão de Jesus ao céu, quando a Igreja recém nascida estava unânime, em comunhão de pensamento e oração, com Pedro e ao redor de Pedro, o pastor dos cordeiros e das ovelhas. Que o Espírito Santo se digne responder de maneira mais consoladora à oração que diariamente ascende de todos os cantos da terra. Renova, em nosso tempo, tuas maravilhas, como em um novo Pentecostes, e concede que a santa Igreja, mantendo-se unânime e em oração contínua com Maria, a mãe de Jesus, e sob a direção de São Pedro, aumente o reino do Divino Salvador, o reino de verdade e de justiça, o reino de amor e de paz. Amém19.

Era como se João XXIII profetizasse que, das brasas do cristianismo antigo, iria brotar agora o fogo de um novo Pentecostes20. O Concílio foi a primeira resposta à oração do Papa. Também foi resposta providencial a Renovação Carismática, ainda que por caminhos imprevistos e surpreendentes.

Ao mesmo tempo que se celebrava o Concílio Vaticano II, e durante os cinco verões consecutivos (1961-1965), Patrick Bourgeois21 , professor na Universidade de Duquesne e do Espírito Santo, em Pittsburgh, assistia às aulas de verão na Universidade de Notre Dame, South Bend, Indiana, para obter o grau em Teologia Litúrgica...

O campo ia se preparando para que, em 1967, a semente da manifestação do Espírito Santo fosse acolhida na Universidade de Duquesne e do Espírito Santo, em Pittsburgh.




1 P. FERNÁNDEZ RODRÍGUEZ, La Renovación Carismática Católica en su contexto histórico. Separata de “Ciencia Tomista”Tomo CVI-347, Salamanca (abril-junho de 1979) 137-138.

Ele foi um dos pioneiros na Renovação e expõe magistralmente as características distintas dos diversos movimentos. Tomam-se da citada obra as idéias fundamentais, assumindo alguns textos.

Na mesma linha do que está aqui exposto, contudo, há trabalhos mais recentes como o de W. J. HOLLENGER em sua extensa obra Pentecostalism, Origins and Developments Worldwide, Massachusetts, USA 1997.

A lista, em todo caso, de outros autores seria muito ampla. As citações que se fazem parecem suficientes, ao meu juízo, aos efeitos que se perseguem neste apartado.

2 Ibid., 139. Cf. Y. M. –J. CONGAR, Llamados a la vida, Herder, Barcelona 1988, 110. Sobre uma relação com O Despertar, remontando-se a Wesley.
3 Ibid., 139. Cf. P. DAMBORIENA, Fe Católica e Iglesias y Sectas de la ReformaMadrid 1961, 766; cf. S. CARILE, Attualità del Pensiero Teológico Metodista, Turín 1971 (citação do P. Fernández Rodríguez).
4 Ibid., 203-204
5 Ibid., 205-207.
6 E. IRVING, dados consultados na “Enciclopédia Britânica”, Tomo 12 (revisão de 1989) 648-649.
7 Cf. P. FERNÁNDEZ RODRÍGUEZ, La Renovación Carismática en su contexto histórico. “Ciencia Tomista”, Tomo CVI-347, Salamanca (1979) 208.
8 Ibid., 210.
9 Ibid., 212. Cf. E. D. O’ CONNOR, La Renovación Carismática en la Iglesia Católica, Lasser Press, Mexicana, S.A. 1973, 20 (Título original em inglês: The Pentecostal Movement in the Catholic Church, Notre Dame, South Bend, Indiana 46556 USA 1972).
10 Ibid., 213.
11 Ibid., 214. Cf. P. DAMBORIENA, Fe Católica e Iglesias y Sectas de la Reforma, Madrid 1961, 766; cf. W. HOLLENWEGER, El Pentecostalismo, Historia, Doctrinas... Buenos Aires 1976 (citação de P. Fernández).
12 Ibid., 215.
13 Ibid., 217. Cf. A. N. OZMAN, La BergeWhat God Hath Wrought, Herald Publishing, Chicago Co. (s.f.), 29. Dados de KENDRICK, op. cit. 52-53 (citação de P. Fernández Rodríguez).
14 Ibid., 217.
15 Ibid., 218. Cf. E. D. O’ CONNOR, La Renovación Carismática en la Iglesia Católica, Lasser Press, Mexicana, S. A. 1973, 21.
16 Ibid., 218.
17 Ibid., 219.
18 Ibid., 219-220.
19 JOÃO XXIII, oração ao Espírito Santo recitada pelo Sumo Pontífice em preparação ao Concílio Ecumênico. O último ponto da oração se lê também na Constituição Apostólica Humanae Salutis, com a que aprova convoca o concílio no dia 25 de dezembro de 1961.
20 Dados tomados da revista estadunidense da Renovação Carismática Católica “Chariscenter” (janeiro/fevereiro 1992) 1-3.
21 Primeira pessoa em receber a Efusão ou Batismo no Espírito Santo, junto com Ralph Keifer (falecido), dia 20 de janeiro de 1967.

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