terça-feira, 31 de março de 2015

A RENOVAÇÃO NO ESPÍRITO SANTO - PRÓLOGO

A RENOVAÇÃO NO ESPÍRITO SANTO
Denise S. Blakebrough

Prólogo


“Renovação Carismática Católica, graça de Pentecostes!”
Cardeal Suenens, encontro de líderes em Roma, 1989

“A Renovação Carismática não é somente uma moda. Seus frutos são, de imediato, perceptíveis: Trata-se de uma forte ação espiritual que muda vidas. Não é somente um “reavivamento”, mas uma verdadeira renovação, um rejuvenescimento, um frescor, uma atualização de novas possibilidades que surgem da Igreja, sempre antiga e sempre nova” (Congar, Espíritu Santo, 2, 158)

Uma graça dada à Igreja pelo Espírito Santo, se não é escrita, se dilui.

Por razões e circunstâncias pessoais, tive, há algum tempo atrás, alguns contatos com a Renovação Carismática (ou Renovação no Espírito Santo), e, de um modo mais formal, se me é permitida a expressão, em Salamanca, em um templo da IERE (Igreja Espanhola Reformada), onde se reunia um grupo de oração ecumênico, de membros da Igreja Episcopal e Católicos ¹. Eu não podia sequer supor, naquele então, que me iniciava no conhecimento de algo que haveria de constituir-se em uma de minhas preocupações acadêmicas, até o ponto de sentir a necessidade de aprofundar no que pude assumir, então, sobre a Renovação e de dá-la a conhecer fundadamente e com rigor teológico. A necessidade de trocar “os odres velhos por odres novos” (cf. Mt 9, 17b), pode-se dizer que foi o começo de minha conversão, que se constituiu, sem que eu o soubesse, no eixo central, na necessidade quase visceral de poder comunicar aos demais, desde a perspectiva teológica, o que eu havia vivido e continuava vivendo. Assumia, assim, não um tesouro próprio, mas uma autêntica experiência a ser compartilhada, porque “o que de graça recebestes, de graça daí”(cf. Mt 10, 8b).

Ante uma interrupção e devido a um acidente, tive que me hospitalizar. Durante os dias que permaneci na Clínica, senti o desejo de iniciar os estudos de teologia, estudos que, durante treze anos, tive que compaginar com um trabalho e minha profissão docente.

Depois do Bacharelado em Teologia, feito em Comillas, e minha tese sobre O Espírito Santo e sua ação na obra de Congar, que me fez estudar sua Bibliografia completa, com 1790 títulos, fiz meu doutorado em Mistério de Deus, Pneumatologia e Espiritualidade, na Universidade Pontifícia de Salamanca; entrei em contato com meu Professor Dr. Santiago del Cura, Decano da Faculdade de Teologia em Burgos. Agradeço-lhe muito especialmente por ter aceitado ser o diretor desta tese. Admiro a sua amizade e paciência ante às minhas viagens de investigação para configurar este trabalho (entre outras circunstâncias), simultâneas à dedicação à tese; em alguns momentos, por conseqüência de minhas obrigações docentes, tive que modificar e re-elaborar o que já considerava feito, o que, sem dúvida, prolongou ainda mais a realização do mesmo.
Cri que para proceder com um estudo profundo da Renovação existia a necessidade básica de trazer a tona a verdadeira história da Renovação Carismática Católica e seus traços de identidade para que fosse valorizada e apreciada como corresponde. O nascimento da Renovação, tão recente no tempo, nos permitiu contar com testemunhos direto de testemunhas presenciais ou ativas nesse nascimento. Tive a graça e o privilégio de conhecer e ter sido alentada, em meu trabalho, pelo cardeal Congar em todas as vezes que visitei Paris. O Cardeal escreveu para mim: “J’admire votre belle vocation à la theólogie...” e o estímulo implícito em sua declaração – já não escrita por sua mão – mas sim assinado, motivou-me permanentemente em meu trabalho.

Segui também, com muita proximidade, a obra e atividade do cardeal Suenens e suas múltiplas intervenções para a consolidação e desenvolvimento da Renovação. Coincidi com o cardeal em várias ocasiões; numa delas, junto com Monsenhor Uribe Jaramillo, durante uma Congresso Nacional em Madri, em 1979; ambos oraram por meu marido, um diplomático inglês afetado por um acidente. Escutei as intervenções de Suenens, tanto em Madri como em Estrasburgo, durante um Congresso Ecumênico que reuniu a 25.000 pessoas. Numa palavra, admiro sua obra e seu trabalho porque levou a Renovação Carismática Católica ao coração da Igreja, apesar das dificuldades que teve que travar, no início, com a Hierarquia.

Em meio a este caudal de obras, senti a inquietude e o desejo de contribuir modestamente com meu esforço para completar os breves estudos sobre a Renovação, apresentados na Inglaterra e na América do Sul. Compreendi que se necessitava um conhecimento mais profundo que partisse de um estudo histórico sobre o nascimento e crescimento ou desenvolvimento da Renovação até chegar à realidade atua. Isto significa que teria que abordar o estudo desde suas raízes e fundamentos.

Encontrei-me, ao princípio, ante algumas dificuldades, ao requisitar ajuda na Espanha. Mas o Espírito Santo, que nunca falha, pôs pessoas idôneas, que me ajudaram a alcançar estas metas que me levaram a viajar, por vários anos, aos países de origem. Eu precisava ir com calma, com muita paciência, devido ao esforço econômico que supunha a elaboração desta tese. Não pude chegar rapidamente ao cume da montanha, que se divisa desde o vale. Pensamento semelhante transmitiu-me um bom amigo, George T. Montague, S.M. no Congresso de Pittsburgh em 1997. Teria que começar a história não só com os dados lidos; eu precisava “vivê-los” nos lugares onde os fatos se tinham produzido.

 Nestas viagens de investigação e documentação, buscando as raízes da Renovação, pude conhecer e falar, nos Estados Unidos e no Canadá, com pessoas que estiveram vinculadas a ela, desde o princípio, em distintas Universidades dos EUA. Todo isso me ajudou a abordar a tarefa de apresentar a Renovação no mundo universitário da Espanha. Neste empenho, tentei apresentar integrado desde o ponto de vista histórico e teológico, reproduzindo de alguma maneira o itinerário da Renovação desde seu nascimento e interpretando sua realidade em sua dimensão doutrinal e em sua força vivificadora.

Como fontes de meu trabalho, recorri também à obra de teólogos de dentro e de fora da Renovação. A própria doutrina oficial da Igreja, integrando a Tradição e a Sagrada Escritura, apresenta-se como referência imprescindível para qualquer interpretação do significado e da importância da Renovação.

Em minha análise, comprova-se a rápida expansão da Renovação por todo o mundo e seu dinamismo em distintos setores da sociedade. A  Renovação Carismática Católica está integrada na Igreja Católica desde seus princípios, em 1967.

Levei a cabo o trabalho, ainda que não posso e nem devo ocultar minhas inclinações pessoais, utilizando sempre dados e argumentos objetivos. Com a obrigada modéstia, devo também confessar que minha reflexão pessoal me permitiu ensaiar relações interpretativas – confio que solidamente – e aventurar-me, espero também que com fundamento suficiente, alguns avanços investigativos.

Todo o anterior, por constituir a Renovação uma corrente viva e estimulante, se viu enriquecido pela própria realidade atual da Renovação em nível comunitário e pessoal, manifestado em experiências concretas. O trabalho inclui, assim, testemunhos pessoais que procurei documentar suficientemente.

Renovação, na qual participo, é sem dúvida uma corrente de graça dentro da Igreja, corrente que cresce e se estende pelo mundo. É um encontro pessoal e determinante com Cristo VIVO. Esse “encontro” eu o descobri de maneira especial na Efusão ou Batismo no Espírito Santo que recebi nos inícios da mesma. Sem que me desse claramente conta, minha vida foi mudando paulatinamente (cura e conversão...) Diríamos que estes seriam alguns dos efeitos do Batismo no Espírito Santo.

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Nota


¹ O grupo foi iniciado por A. A. Puchades, Presbítero da Igreja Episcopal do Templo da IERE, e pelo Padre Fernández Rodríguez, O.P. O Templo estava se encontrava no calçadão de Canalejas, nos anos 70, e já não existe. O grupo se dissolveu, em 1974, quando começou o grupo da Renovação Carismática Católica em Salamanca (utilizarei o término abreviado Renovação, no contexto da Tese).

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