terça-feira, 31 de março de 2015

A RENOVAÇÃO NO ESPÍRITO SANTO - UNIVERSIDADE DE NOTRE DAME - SEGUNDO GRANDE FOCA DA RCC

A RENOVAÇÃO NO ESPÍRITO SANTO
Denise S. Blakebrough



ORIGENS HISTÓRICAS DA “RENOVAÇÃO CARISMÁTICA CATÓLICA” (RENOVAÇÃO NO ESPÍRITO SANTO).


UNIVERSIDADE DE NOTRE DAME, SOUTH BEND, INDIANA:
SEGUNDO GRANDE FOCO DA RENOVAÇÃO


Expõem-se somente alguns dados precisos da Universidade de Notre Dame, South Bend, Indiana, onde se estendeu, em seus inícios, a Renovação, seguindo os relatos de Kevin e Dorothy Ranaghan43.

As universidades de Duquesne e do Espírito Santo, em Pittsburgh, e Notre Dame, em South, estavam em boas relações. Entre os grupo de amigos que se graduavam em Duquesne e, logo, faziam o doutorado na Universidade de Notre Dame ou vice-versa, estava Bert Ghezzi, que, no mês de janeiro de 1967, foi dando a conhecer a Dorothy (antiga aluna de Duquesne) e Kevin Ranaghan as inquietudes de uns professores amigos de Duquesne, Patrick Bourgeois, Bill Storey e Ralph Keifer, que haviam se unido a um grupo de oração interdenominacional na busca do Batismo no Espírito Santo, pedindo que lhes impusessem as mãos enquanto oravam, e que eles o haviam recebido.

Umas semanas depois, outro amigo de Duquesne, Ralph Keifer, telefonou-lhes para contar as maravilhas do Retiro em A Arca e a Pomba e lhes recomendou que lessem o livro A Cruz e o Punhal e Eles Falam em Outras Línguas, anunciando-lhes sua visita num próximo fim de semana. O relato lhes pareceu estranho, mas, conhecendo bem a essas pessoas, pensaram que realmente deviam ter encontrado algo bom nisso de “imposição de mãos”. Pouco depois chegavam Ralph Keifer e Bill Storey a Notre Dame, relatando-lhes o que, no capítulo anterior, se resenhou.

No sábado, dia 4 de março, já haviam organizado, na casa do casal Ranaghan, uma reunião com outros estudantes e amigos. O que não sabiam, contudo, era que aquela noite mudaria profundamente as vidas dos que estavam ali. E relatam: “Havíamos começado a oração com um grupo de umas trinta pessoas quando chegou nosso amigo. Algo novo se percebia nele. Era como uma pessoa distinta, com mais dedicação a Cristo ao testemunhar com júbilo, contando as maravilhas de experimentar os dons do Espírito Santo, sem cansar-se de repetir: Não tenho necessidade de crer em Pentecostes, porque eu o vi!”. Aquelas palavras eram esquisitas, para muitos.

No domingo, dia 5 de março de 1967, reunidos em outro lugar, desta vez umas nove pessoas, estávamos decididos a receber “esse” Batismo no Espírito Santo pela imposição das mãos, que traria consigo os dons e frutos do Espírito Santo e, assim, nossas vidas seriam mais plenamente cristãs44.

Naquela tarde não houve carismas nem glossolalia, mas, sim, a novidade de oração mais profunda: ao buscar no nome de Jesus a vida no Espírito, que supunha uma mudança em nossas vidas, comprovamos, uns nos outros, a vitória do amor de Cristo em plenitude, a realidade de uma grande paz, de gozo, de fé, de alento... ou seja, os frutos do Espírito. Um dos nossos amigos constatou: “Era palpável a presença do Senhor na oração de louvor! Isto durou por toda a semana...”.

“No segunga-feira, dia 13 de março, um grupo dos que havíamos recebido o Batismo no Espírito Santo e mais nove pessoas fomos a uma reunião de oração na casa de Ray e Mabel Bullard. Ray era o chefe de um grupo interdenominacional de leigos que compartilhava a experiência do Batismo no Espírito Santo. Tivemos notícias deste grupo e nos pareceu bem compartilhar nossa experiência com eles. Eram completamente distintos a nós, os católicos.

Se houvesse sido uma invenção humana ou uma forma religiosa, produto de vontade humana, tudo teria dado em nada nessa noite. Nunca teríamos crido possível que pessoas tão distintas pudéssemos unir-nos no amor de Cristo. No amor de Cristo estávamos unidos. Ali estávamos um grupo de católicos, formados nas tradições espirituais e litúrgicas de nossa Igreja, todos graduados na Universidade, de tipo intelectual. Eles falavam das Escrituras e da teologia com uma suficiência muito alheia a nós. Além disso, seu modo de falar e orar, os hinos que eles cantavam... tudo era tão distinto que nos desconcertava bastante.

Mas, apesar destas diferenças pessoais, foi-nos possível unir-nos em uma fé comum em Jesus, em uma só experiência de seu Santo Espírito, para que, unidos, adorássemos ao nosso Pai. O Espírito Santo nos uniu como irmãos em Cristo.

Naquela tarde muitos recebemos o dom de louvar a Deus em línguas estranhas. O propósito dos dons do Espírito se dirige para a edificação da comunidade da fé. Durante as semanas seguintes, nosso testemunho com essa inspiração do Espírito não focado na questão de falar em línguas, mas sem falar de Jesus Cristo e do poder de eu amor salvador e transformador para os homens e o mundo”45.

“Como num princípio”

Kevin Ranaghan testemunha, no 30º Aniversário da Renovação

Na continuação, referimos a versão dos fatos narrada por Kevin Ranaghan na Assembléia Internacional de Pittsburgh, ao celebrar os 30 anos da Renovação, dos dias 27-29 de junho de 1997, no mesmo lugar onde nasceu, mas com a experiência de trinta anos. Falou-nos do que a história da Renovação lhe havia ensinado, intitulou a pregação “Como num princípio” e nos explicou46:

No dia 5 de março deste ano de 1997, minha esposa Dorothy e eu celebramos o aniversário dos trinta anos de nosso Batismo no Espírito Santo. Em março de 1967, há trinta anos atrás, estávamos recém casados. Encontrávamo-nos feliz e tínhamos toda uma vida por diante. Não buscávamos nada em particular. Por certo, não tínhamos idéia do que estávamos a ponto de experimentar: um estilo de vida completamente novo.

Previamente, em janeiro ouvimos falar de algumas experiências bastante raras que estavam acontecendo com alguns de nossos amigos da Universidade de Duquesne e do Espírito Santo, em Pittsburgh. Parece que eles haviam estado orando por um novo Pentecostes, e falavam de línguas desconhecidas, de curar e de outros dons do Espírito Santo, dizendo que isto era um Batismo novo no Espírito Santo. Estávamos verdadeiramente surpresos. Isto era uma loucura. Durante as semanas seguintes levantamos todos os tipos de objeções: intelectuais, estéticas, psicológicas e teológicas..., tudo o que podíamos juntar! O que comprovamos em nossos amigos, quando vieram de Pittsburgh a South Bend, é que suas vidas haviam mudado. Vimos suas vidas transformadas. Dorothy e eu rezamos juntos:

“Senhor, sabemos que recebemos o Espírito Santo por nosso Batismo e Confirmação, mas se há mais que possamos ter do Espírito Santo, mais do Espírito que tu possas nos dar, nós te pedimos: Vem, Senhor, e batiza-nos, enche-nos. Até que se derramo o Espírito Santo”. E Ele o fez.

A partir dali, glorificaríamos ao Senhor todos os dias por aquela primeira experiência com o Batismo no Espírito Santo. Dorothy sempre gostou muito de dizer que desde aquele dia não conhecemos mais o significado da palavra “tristeza”. No princípio não nos colocávamos como evangelizadores audazes; só sabíamos que tínhamos que contar a todos o que havia acontecido conosco. Queríamos que todos os que conhecíamos viessem, também, a ver Jesus e a experimentar esta graça, este novo poder, este jeito novo de ver as coisas. Falávamos insistentemente às pessoas, rezávamos com elas. Rezávamos a sós e rezávamos juntos. Quando lhes falávamos do Espírito Santo, encontrávamos em nossos amigos  a mesma hostilidade que nós havíamos manifestado há algumas semanas antes. Mas repetidas vezes tanto homens de Notre Dame como mulheres de St. Mary deixavam de lado seus temores para fazer perguntas e, finalmente, para buscar o Batismo no Espírito Santo47.

No começo, contactávamos grupos interdenominacionais de nossas região, que nos ajudavam a entender e experimentar os carismas. Uma das vezes nos reunimos na casa de um representante local dos empresários evangélicos (full gospel bussiness men) e, quando ele soube que estaria presente um grupo de católicos, pôs em plano de alerta: chamou a vários pastores, motivo pelo qual nos encontramos com uma sala cheia “guerreiros/soldados religiosos” preparados para travar uma batalha muito dura. O que eles descobriram foi a um grupo de oração simples. Informamos-lhes que já havíamos sido Batizados no Espírito Santo, o que eles acharam difícil de crer, porque, ao final de contas, éramos católicos.
Manifestamos-lhes que somente queríamos observar como eles utilizavam os dons. Impuseram as mãos uns sobre os outros e todos os que estávamos na sala, cheia de gente, começamos a rezar e a cantar em línguas desconhecidas... No houve batalha, mas simplesmente uma celebração de vitória! Glória ao Senhor! Por tudo isso, demos graças a Deus pelos ecumênicos de todos os tempos, pelos carismáticos independentes que o Senhor pôs em nosso caminho naqueles tempos. Graças a Deus que eles puderam ver que aquilo que estava acontecendo ali era parte de um derramamento mundial de Pentecostes, e que estavam ali, quando apenas começávamos a aprender a caminhar no Espírito. Obrigado, Senhor, porque vimos lágrimas de alegria em seus olhos e reconhecemos neles a maravilhosa imagem de nosso Senhor Jesus Cristo!

Sim, foi uma celebração ecumênica desde o princípio. Começamos a ver e a compartilhar tudo o que tínhamos em comum como cristãos. Começamos a compreender que o que estava acontecendo na Igreja Católica, para a renovação da Igreja Católica, também estava acontecendo em outras Igrejas. Era como um círculo no qual o Senhor estava desencadeando seu “reavivamento” de leigos e leigas. Havia uma renovação por todas as partes. Como católicos, vimos como nossas reuniões se converteram em um movimento, centra na mesma realidade de Pentecostes: o Batismo no Espírito Santo, como uma chamado de profunda conversão do pecado e um chamado penetrante, transcendente à santidade, acompanhada pelos dons espirituais, que se estendia pelo mundo inteiro através de toda a Igreja: Bispos, cardeais e ao próprio Papa.

Rememorando “Como num princípio”, Kevin Ranaghan continuou:

“A vezes reconhecemos aqueles vivências que não podem por-se em fotografias, mas que são as mais íntimas e as temos latentes em nossas vidas, e que são as vivências pelas quais damos louvor e glória ao Senhor”.

Com respeito à Renovação – evocou Kevin Ranaghan – os seus inícios na Universidade de Notre Dame, South Bend. Indiana, foram duros e não falaram equívocos. Detalhou-nos como uma pessoa, certa vez, quis dar sua primeira profecia daquilo que, pensava ela, Deus lhe dizia, e que não se saiu muito bem. Comentou que, depois de 30 anos, dava graças a Deus por tudo o que pudemos aprender do Senhor sobre o dom de profecia.

Também, quanto ao ministério de cura, referiu-nos Ranaghan, como curiosidade, o que lhes sucedeu em uma reunião que tiveram no ginásio da Universidade de Notre Dame: “Era a primeira vez que utilizávamos o dom de ciência; uma pessoa disse: ‘Alguém está vestido de vermelho está sendo curado, e escutou a palavra ‘bishop’ (bispo). E pensaram que um bispo estava sendo curado! Houveram murmúrios aqui e ali, até que, num dado momento, uma mulher veio correndo, vestida de vermelho, e disse: meu nome é Mrs. Bishop (Sra. Bispo) e sinto-me curada’. Hoje em dia louvamos e damos graças a Deus pelo grande dom de cura e pelo poder do Espírito Santo”.

“Por outro lado – continuou Ranaghan – sabeis que em muitas ocasiões investigou-se sobre o Batismo no Espírito Santo. Pois bem, outra recordação de um momento muito importante, neste sentido, foi a Conferência histórica que tivemos em Roma, há 22 anos atrás, quando o Papa Paulo VI recebeu aos grupos da Renovação. Ao dirigir-se a nós, disse: “A Renovação é uma sorte (oportunidade, traduzem alguns) para a Igreja”.

Nunca esqueceremos que este encontro aconteceu graças ao cardeal Suenens. Seu trabalho pelo Renovação é legendário. Foi Ele quem defendeu, no concílio Vaticano II, a realidade dos carismas hoje em dia. Foi Ele, o cardeal Suenens, quem reuniu  os líderes da Renovação para que escrevessem e publicassem guias pastorais para a RenovaçãoFoi o próprio cardeal Suenens, com uma equipe, quem pessoalmente testificou o que era um grupo de oração, diante de dezenas de cardeais, bispos e superiores religiosos, durante várias sessões em Roma.

Foi o cardeal Suenens quem, apesar de poder ser criticado e atacado, encontrou-se com Paulo VI durante esta Conferência mundial e mediou para que o mesmo aceitasse a Renovação e a importância que ela tinha.

Como conclusão disto, fica-nos a lição de que é com o mesmo espírito de solicitude do cardeal Suenens que devemos seguir traablhando não só para levar a Renovação ao coração da Igreja, mas para trazer a Igreja ao coração da Renovação.

Kevin Ranaghan seguiu esmiuçando momentos excepcionais de sua vida quando participava na difusão internacional da Renovação. Entre outras, recorda como momentos favoritos “a Conferência de 1991 em Brighton, Inglaterra, onde uns cinco mil líderes ecumênicos de todas as partes do mundo, tanto protestantes como católicos, nos abraçamos. Negros e brancos da África do Sul, cristãos do Iraque e de Israel. Foi uma fato sem precedentes na história do cristianismo que só Deus podia fazer, trazendo pessoas do mundo todo. E então nos demos conto de que o mundo ficava pequeno e o Reino de Deus crescia48.

Assim Ranaghan encerrou esta exposição com a recordação de sua filha:

Quando, há 20 anos atrás, estivemos em Jerusalém com o Cardeal Suenens, minha filha de 9 anos era batizada no Espírito Santo.





43 K. & D. RANAGHAN, Catholic Pentecostal (Pentecostais Católicos), “Crescimento em Notre Dame”. Logos International, Paramus, N. J. USA 1969, 29-31
44 Note-se que desde o ressurgir da Renovação o que se pretendeu, como depois disse o cardeal Suenens, é ser um verdadeiro cristão.
45 K. & D. RANAGHAN, Catholic Pentecostals (Pentecostais Católicos), “Crescimento em Notre Dame”, Logos International, Paramus, N. J. USA 1969, 32-34.
46 A narração feita por K. RANAGHAN que se entitula “Como num princípio”, no 30º Aniversário da Renovação foi incluída integramente porque recolhe vivências chaves dos começos, e seria negativo qualquer simples referência que prejudicasse a espontaneidade com a qual se expressa.
47 K. RANAGHAN, Conference 30 Aniversary of the RenewalPittsburgh, Pensilvânia, 27-29 de julho de 1997. Tive a alegria de participar.
48 Ibíd., Conference 30 Anniversary of the Renewal, Pittsburgh, Pensilvânia, USA, 27-29 de junho de 1997. Ao escutar Kevin, deu graças a Deus porque o Espírito Santo fez possível que em Brighton, durante a Assembléia Jesus is Lord, também estivesse presente de intérprete e me recordo aquela Assembléia como algo irrepetível em nível ecumênico, e na que se encontrava Killian Mc Donnel. 

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