Foto: Cardeal Jorge Mario Bergoglio (Papa Francisco) recebendo oração de Frei Raniero Cantalamessa, Matteo Calisi e alguns pastores pentecostais presentes no encontro do CRECES de 2006, em Buenos Aires, Argentina.
Autor: PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A PROMOÇÃO DA UNIDADE DOS CRISTÃOS
Balanço de um ano marcado
por novidades significativas e encorajadoras
Pentecostais, vira-se a página!
Durante o último ano, em contratendência com as notícias que estamos habituados a ouvir relativas às relações entre católicos e pentecostais, realizaram-se eventos e houve declarações que indicam uma mudança. Eventos e declarações que talvez não encontrem divulgação suficiente nos meios de comunicação.
Diante do desafio do grande crescimento do Pentecostalismo, quer em termos numéricos (de
Na mesma ocasião, na saudação dirigida aos Bispos por todos os observadores evangélicos, três afirmações merecem ser mencionadas. A primeira refere-se ao Santo Padre: "Desde o início desta Conferência declararam os evangélicos latino-americanos (75% dos quais são pentecostais), com um tom novo e surpreendente, sentimo-nos estimulados e desafiados pelo convite do Papa Bento XVI a fundar na leitura e no conhecimento da Palavra de Deus o novo despertar missionário do qual a nossa América Latina e o Caribe têm necessidade".
Sobre o papel dos católicos no continente, recordando também que, neste processo, muitos fiéis evangélicos anunciaram a Palavra de Deus, alguns até ao martírio, os observadores afirmaram: "Não podemos deixar de reconhecer o testemunho e a preeminência da Igreja Católica romana na evangelização da nossa América. [A Igreja Católica] guiada pelo Espírito de Deus e pela sua Palavra, além das ambiguidades das circunstâncias históricas gerou uma fé rica em diversas expressões religiosas que fizeram com que a mensagem de Cristo criasse raízes no continente". Enfim, os evangélicos convidam os católicos a enfrentar juntos e dizem-se dispostos a realizar todos os esforços a fim de superar a competitividade e a agressividade com a finalidade de realizar a vocação de discípulos e missionários de Jesus Cristo.
Noutro contexto, nas conclusões do Seminário sobre o Ecumenismo para os Bispos do Cone Sul organizado pelo Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos na Argentina, os participantes, após terem estudado o fenómeno pentecostal e debatido sobre a actual situação entre os cristãos na região, declararam: "Cremos que, guiados pelo Espírito Santo, devemos ir ao encontro dos nossos irmãos pentecostais, valorizando esta corrente de graça e sem extinguir o Espírito: com amor, prudência e discernimento; superando a atitude defensiva, pois o temor não é fruto do Espírito".
O mesmo espírito de abertura e, ao mesmo tempo de firmeza, transparência no discurso do Papa Bento XVI durante a sua visita ao Brasil. Com efeito, o Santo Padre recordava que para realizar a vocação ecuménica no meio do crescente pluralismo religioso e num ambiente nem sempre favorável, para os católicos "vale sempre o princípio do amor fraterno e da busca de compreensão e de aproximação recíprocas; mas também a defesa da fé do nosso povo...".
Contudo, quem são os pentecostais? Quais são os seus pontos fortes e os seus pontos frágeis? Qual é a sua identidade, ainda em evolução? E o que nos podem oferecer para superar as nossas fraquezas como cristãos e reforçar a nossa própria fé e identidade? Devemos admitir que na presença cada vez mais consistente destes grupos não corresponde um conhecimento adequado por parte dos católicos. Portanto, é oportuno reflectir, de modo positivo e crítico, inclusive sobre o que a relação com os pentecostais mudou e está a mudar na nossa identidade confessional e decidir sobre o que fazer para nos manter fiéis à nossa tradição.
O crescimento do Pentecostalismo tanto para criação de novas denominações Pentecostais clássicos (a partir de 1906 em diante) e Pentecostais não-denominacionais (a partir de 1980) como mediante a sua incorporação no interior das diversas tradições cristãs Pentecostais denominacionais (a partir de 1950 em diante), gerou uma situação de recíproca influência e de interação entre as várias comunidades cristãs. Em diversos continentes, há comunidades evangélicas e protestantes que, embora conservando os seus nomes originais, conservam muito pouco da sua tradição eclesial originária depois de terem adoptado a forma pentecostal. Outras dividiram-se em duas ou mais fracções opostas: uma fiel à tradição eclesial originária, outra que privilegia o estilo pentecostal que "dilui" com frequência a tradição precedente. A outra face da moeda é a existência de uma clara influência por parte das diversas tradições das igrejas históricas sobre o pentecostalismo, uma influência que deve ser ulteriormente analisada e, possivelmente, encorajada.
Tarefa urgente para os que se dedicam à pastoral e para todos os baptizados, é redescobrir os tesouros da identidade católica. A melhor forma de contacto é estar sempre prontos para partilhar com os outros cristãos as nossas convicções e experiências de fé; a nossa tradição; a nossa espiritualidade e a rica diversidade devocional, com coração aberto. Só assim podemos falar verdadeiramente de conhecimento recíproco, diálogo, colaboração e oração comum. Neste sentido, vale a pena citar o que menciona o documento final de Aparecida: "De acordo com a nossa experiência pastoral, muitas vezes as pessoas sinceras que abandonam a nossa Igreja não o fazem por aquilo que os grupos "não católicos" crêem, mas fundamentalmente por aquilo que eles vivem; não por motivações estreitamente dogmáticas mas pastorais; não por problemas teológicos mas metodológicos no interior da nossa Igreja. Na realidade, muitos dos que passam para outros grupos religiosos não querem abandonar a nossa Igreja, mas buscam sinceramente Deus".
Entre os aspectos positivos da mudança gerada dentro do cristianismo pelo surgimento do Pentecostalismo, podemos mencionar a descoberta do papel central do Espírito Santo, o facto de que a conversão pessoal a Jesus Cristo seja requerida de maneira explícita e continuativa durante o período da vida de cada cristão; a ênfase dada à oração e ao poder da oração; a descoberta dos carismas e dos dons espirituais como realidade activa e necessária na vida de cada fiel. Ao contrário, é certamente negativo o facto de que o pentecostalismo e os pentecostais realcem a sua experiência e espiritualidade como a única produzida directamente pelo próprio Deus; por conseguinte, não surpreende que não estejamos dispostos a reconhecer a outras experiências cristãs na Igreja a mesma importância e o mesmo papel. Para eles, a plenitude do ser cristão é alcançada com a experiência do "Baptismo no Espírito"; portanto, a diferenciação entre cristãos e pentecostais depende do possuir ou não o Espírito Santo de maneira plena, isto é, assim como está descrito no segundo capítulo dos Actos dos Apóstolos. E por conseguinte, para eles, "um cristão nem sempre é pentecostal, um pentecostal é sempre um verdadeiro cristão".
Foram realizados muitos esforços durantes esses anos a fim de compreender a realidade pentecostal e esclarecer, com a comparação, a tradição católica. O diálogo internacional católico pentecostal, iniciado em 1972 e que chegou à sua quinta fase, também em contratendência com quanto se verificou em alguns lugares, concentrou os seus debates acerca do tornar-se cristãos, servindo-se dos testemunhos bíblicos e patrísticos. O relatório On Becoming a Christian: Insights from Scripture and the Patristic Writings. With Some Contemporary Reflections, que será publicado proximamente, é uma verdadeira novidade, sobretudo porque é a primeira vez que católicos e pentecostais estudam juntos os Padres da Igreja e os citam amplamente no documento. Por parte dos Pentecostais não-denominacionais, acolhendo uma sua solicitação e depois de um processo de preparação de vários anos, o Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos realizará conversações preliminares com um grupo dos seus líderes, em Abril de 2008. Tal iniciativa pretende definir a situação acerca da sua identidade eclesial e verificar a possibilidade de estabelecer um processo de aproximação com os católicos.
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